Terceira Pessoa
O homem ruivo esperava por sua nova companheira pacientemente. Depois de algum tempo, começou a sentir a preocupação lhe invadir o peito, já havia se passado mais ou menos dez minutos desde que ela se ausentara. "Será que esta tudo bem?" Pensou passando a mão pelo rosto e a parando por fim, em seu queixo projetado, refletindo se deveria esperar mais ou ir averiguar se estava tudo bem, acabou decidindo o que sua consciência lhe mandava. Levantou-se ajeitando os óculos no rosto e indo até a porta próxima onde se dava passagem para o próximo vagão. De seu lado esquerdo a porta do toalete feminino estava trancada. Bateu três vezes na porta. Nada. Bateu novamente. Ainda nada. Bateu mais uma vez, porém, agora chamou seu nome:
"Eileen?" Não houve resposta.
A copeira passou por trás dele, mas antes que a mulher de feições duras, amarguradas e de rosto redondo passasse para o próximo vagão, segurou-lhe o braço.
"Desculpe, mas ãh..." Parou, precisaria de uma desculpa convincente, sendo engenhoso como era tratou logo de inventar uma história.
"A minha sobrinha entrou aí já há algum tempo e não responde. Eu estou preocupado, poderia abrir a porta?" Pediu em um tom calmo e apontou discretamente para a porta. A carranca da mulher se entortou em uma expressão de desconfiança, todavia, acabou por ceder, buscou em seu uniforme cafona o maço de chaves onde estava a chave da porta que escondia a garota. Ao pegar a diminuta e brilhante chave prateada, encontrou a fechadura e a rodou para os lados abrindo a porta e revelado uma Eileen encolhida no chão em sono profundo, ela estava com linhas cinza abaixo de seus olhos, as marcas de choro mais comuns qualquer lugar do mundo.
"Pronto senhor, agora se me der licença, eu tenho mais o que fazer." Disse com rispidez.
"Obrigado..." Sussurrou Haywood, 'Que mulher mais desagradável' Pensou.
O projeto de demônio saiu e ele observou a ninfeta adormecida no chão. Entrou no pequeno cubículo e agachou-se ao lado da garota com certa dificuldade por conta do pouquíssimo espaço. Acariciou seu rosto com as costas da mão.
"Eileen, querida?" Chamou pondo uma mexa de cabelo, que caia sobre seus olhos fechados, por trás da orelha.
A ninfeta se quer se mexeu, decidiu então carrega-la para onde, outrora estavam sentados. Passou os braços por trás dos joelhos e ombros da jovem ninfa. Carregou-a com cuidado para não esbarrar em nada, sentia seu sangue esquentar ao sentir o contato com a pele quente daquela tentadora ninfeta. Caminhou em passos lentos até chegar a sua cabine, colocou-a sentada com as costas apoiadas na parede do vagão e com as pernas esticadas sobre o banco. Sentou-se e observou-a por trás das lentes arroxeadas de seus óculos. Inclinou-se sobre a mesa que os separava e puxou levemente a maga do suéter creme da castanha, mexendo em seu braço para tentar acorda-la.
Ela abriu os olhos e os esfregou para expulsar o sono de seu olhar avermelhado pelas lágrimas passadas.
"Você está bem?" Perguntou Jones à garota, ela percebera então que não se encontrava mais no cubículo azulado intitulado de toalete. Ela forçou um sorriso e acenou com a cabeça.
"Desculpe por tê-lo feito esperar..." Sussurrou, sentando-se mais confortavelmente.
"Por quê estava chorando?" Questionou com claro interesse em sua resposta. A jovem ninfeta respirou fundo e começou a bater as unhas repetidas e rápidas vezes sobre a madeira da mesa, segurando o choro enquanto bufava. Tentava em vão desviar o olhar dos orbes azuis acinzentados cintilantes.
Ela o olhou por fim, uma única lágrima deslizando por seu rosto quando ela olhou tristemente para baixo. Jones colocou sua mala sobre a mesa assim como seu casaco e disse:
"Senta aqui, conta-me o que posso fazer pra amenizar teu desespero..." Ela soluçou e com um longo suspiro fez aquilo que lhe foi incumbido.
Acomodando-se com a cabeça apoiada no ombro do professor, o mesmo sentiu o rosto em chamas assim como outra parte de seu corpo.
"E-eu me sinto tão mal, estou em um país que não conheço, vou para um internato passar o resto da minha adolescência trancada e se quer tenho amigos, minha mãe me arrastou pra cá só pra poder fazer papel de Madalena arrependida para a família do meu pai e ficar com a herança depois que ele morreu, ela nem liga pro que eu acho de tudo isso, tenho certeza que quando as aulas começarem amanhã ela vai arrumar algum trouxa pra foder com ela por dinheiro!" Falou com raiva, limpando as lágrimas em seguida, Haywood estava em silencio, segurando as palavras que se acumulavam em sua mente, 'Como uma mãe pode fazer isso com uma pobre criança?!' Pensou indignado. Guardou ressentimentos sobre a tal mulher que nunca vira.
"Desculpe professor... perdoe minha linguagem, eu me alterei um pouco prometo que não vai se repetir..." Completou pedindo desculpas entre alguns soluços.
"Nã-... Está tudo bem não se preocupe com isso..." Calou-se quando sentiu os pequenos braços lhe envolverem em um abraço carente. Sem muito que fazer envolveu o corpo em formação da garota em resposta.
Ali ficaram durante um tempo, ela o soltou quando percebeu que ele ficara levemente ofegante.
Ambos se assustaram com um alto apito e o trem perdendo velocidade abruptamente. Logo uma voz feminina ecoante reverberou pelos alto falantes:
"Passageiros com destino a cidade de Eberswalde, por favor, dirijam-se a plataforma de desembarque."
Jones suspirou vencido, levantou pegando sua mala, pondo seu chapéu de feltro e seu casaco de tecido pesado.
"Foi um prazer conhece-la Srta. Adler, até algum dia." Sorriu e acenou com a cabeça se retirando da cabine. Eileen só teve tempo de murmurar um 'tchau' e acenar tristemente com a mão. Em uma semana aquele homem estranho foi o mais próximo de um amigo que tivera, e agora ele se foi. Ajeitou-se no banco sentando onde em há alguns instantes, estava seu amigo. Olhou pela janela vendo a estação e sentiu com um solavanco o trem se deslocar, olhando as pessoas percebeu a figura andrógena e esguia de Haywood acenando para ela, ela acenou de volta e ele seguiu seu caminho.
Eileen respirou fundo sentindo o perfume amadeirado de seu amigo ainda no ar, tê-lo em mente melhorou seu estado sentimental.
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Station To Station
RomanceHaywood Jones um homem infeliz e com um charme presunçoso, era cercado por pequenas e jovens ninfas, as ninfas diabólicas que mexiam com sua sanidade, pingando veneno de seus lábios nunca permitindo seu ferimento fechar-se, com os quadris rebolando...