Capítulo 03 - Mein Leben von der Stange

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Terceira Pessoa

A ida ao Parque de Barnim melhorara o humor de Eileen.

Ao chegar lá, ela vagueou por entre os arbustos e árvores até encontrar uma área cercada de camélias com um grande carvalho no centro, não havia uma pessoa se quer. Era o lugar perfeito para escrever poesias e desenhar, pulou a cerquinha que mal erguia-se do chão e caminhou até o grande carvalho e nele se sentou. Apanhou seu caderninho de dentro da bolsa e um lápis, começou a desenhar o fino rosto do professor na folha esbranquiçada. Sua mão deslizava o lápis pelo papel suavemente.

Eileen ficou tão concentrada em desenha-lo com perfeição que nem sentiu o tempo passar. O céu havia começado a escurecer, já estava entardecendo. Ela sentiu a brisa gelada levar o perfume das camélias e dos jasmins até ela. A garota olhou ao redor, observando as pessoas, alguns casais nos bancos e alguns pombos procurando por migalhas, focou seu olhar no desenho, estava bom, fechou o caderno e o guardou em sua bolsa junto com o lápis. Levantou e respirou fundo tentando guardar na memória o cheiro da liberdade. Olhou para o relógio de tira de couro redondo preso ao redor de seu pulso magro.

"Merda!", Estava atrasada, não poderia perder aquele trem, foi correndo até a estação, mas quando chegou já era muito tarde, teria que esperar o próximo, o mesmo não tardou a chegar, logo embarcou e procurou por uma cabine vazia. Entrou fechando a porta, sentou-se e ficou olhando pela janela, estava cansada, o céu escurecia mais e mais. Passou os dedos finos pelo busto ofegante atrás de seu pingente, quando o achou, abriu-o. Em uma de suas portinhas havia uma foto e na outra inscrições talhadas em letra cursiva.

A foto era de um homem, rosto angular e pálido, cabelos castanhos-escuros enrolados em pequenos e volumosos cachos, seus lábios eram finos e seus olhos cansados como os de Eileen. As inscrições diziam:

Para que sempre se lembre de mim.
Com amor para a minha E
llie.

Papai

Ela fechou as portinhas douradas e deu um beijo sobre elas. Ellie adormeceu olhando para além da janela.

Uma moça de cabelos ruivos em um coque apertado de uniforme caminhava pelo vagão, entrava nas cabines, fechava as cortinas e ia para o próximo. Ao entrar em uma das cabines ela viu uma jovem adormecida sobre a mesa da cabine. A moça deu alguns passos e tocou-lhe o ombro. Eileen acordou de supetão. Só consegui perguntar:

"On- Onde estou?", A moça coçou a testa e disse.

"Neukölln, última parada." , Informou vendo o pânico nos olhos da castanha.

"Merda! Eu devia ter descido na estação central, minha mãe vai me matar! Tem algum trem que vá para o centro de Berlim?", A ruiva balançou a cabeça negativamente. "Está bem, obrigada." , Saiu em disparada na direção da rua, tinha dinheiro, poderia ir para casa de ônibus ou de táxi.

Estava chovendo muito. Tentou chamar um ônibus que passou por ela como se nem ao menos estivesse ali. Estava ensopada, seu cabelo pingava, e a chuva ficava cada vez mais forte, agora também ventava. Ellie sentia os braços e pernas tremerem, as ruas estavam desertas, apenas alguns pouquíssimos carros passavam por elas, ela vagava com os braços cruzados tentando inutilmente se aquecer. Se quer sabia para onde estava indo, esperava conseguir voltar para casa.


Haywood havia chegado em casa há algumas horas, um pequeno apartamento em Neukölln, velho, mas de certa forma aconchegante. Estava indo pegar a correspondência que não havia pego de manhã. Vestiu a capa de chuva, colocou o chapéu e desceu as escadas. Olhou as horas em seu relógio, estava muito tarde, eram quase onze horas. Tirou as chaves e abriu a porta, ele mal podia ver onde pisava com a força com que os pingos d'água atingiam o chão da calçada. Olhou para os lados antes de sair, foi andando até as várias caixas de correio, pegou algumas cartas e ao voltar percebeu uma figura encolhida ao longe, um táxi passou junto dela e a mesma deu-lhe um grito:

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