Consonância

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França, 1552.

— Larga de ser medroso, Louis. — dizia Bastien, de dez anos de idade, querendo rir ao ver a expressão insatisfatória do amigo, que continuava escondido atrás de um pequeno muro. O príncipe ergueu o arco longo e puxou a corda para trás até a bochecha sobressaltada que tinha, mirou, manteve a posição por um instante e atirou a flecha em direção ao alvo a alguns metros dali. A flecha descreveu um arco até o alvo, que era o chapéu de um dos nobres, fazendo-o cair do topo de sua cabeça.

— Seu pai vai descobrir e seremos presos por toda a eternidade. — choramingou o pequeno Louis, que em seguida observou o homem procurar horrorizado algo em todas as direções. — Que a fé do altíssimo nos perdoe por este delito.

O menino magro de cabelos negros acabou sorrindo para ele, mas antes que falasse alguma coisa ouviu ruídos de folhas vindo das árvores. Em seguida, de trás de uma delas saiu um homem, que fazia parte do pequeno conselho real, com os braços cruzados e as sobrancelhas juntas. Bastien fechou sua expressão em uma faceta brava e levantou a cabeça para encará-lo avidamente, como se realmente pudesse peitá-lo.

— O que o príncipe e seu protegido andam aprontando?

— Nada que seja da sua conta, milorde.

— Vamos ver o que o rei acha disso, crianças.

Louis não controlava suas emoções facilmente, então deixou que as lágrimas preenchessem seus olhos. Bastien segurou na mão dele para o acalmar enquanto o pequeno limpava o choramingo com a outra, o puxou para que andasse depressa para a entrada do castelo em passos firmes, com o lorde em seu encalço. Chegando na sala do trono, os três encontraram o rei, a rainha e um outro homem segurando um chapéu perfurado. Perfurado pela flecha do garoto.

— Não há espiões dentro do palácio, os responsáveis por esse ato estão aqui. — anunciou o homem de meia-idade colocando-se ao lado do rei. — Sabemos que brincadeiras como essas podem resultar em confusões, boatos, com pessoas achando que há inimigos querendo nos atacar com flechas. Meus filhos, Esmée e Eliott, contaram-me sobre o que eles estavam fazendo a semanas.

Bastien e Louis se entreolharam quando os nobres irmãos gêmeos de cabelos dourados que viviam no castelo foram mencionados.

Rei Hugo desceu um degrau do palanque lançando um olhar compreensivo ao homem, que continuou parado ali no mesmo lugar. Em seguida, aproximou-se dos menores.

Bash, o que eu disse sobre atirar flechas nas pessoas?

— Disse para que eu treinasse e foi o que fiz. — respondeu o menor inocentemente colocando as mãos atrás do corpo. Hugo fixou seus olhos no filho enquanto os demais observavam.

— Você tem que parar de ser arteiro ou vai deixar essa corte uma loucura. Tem que entender que nem todas as reprimendas que eu e sua mãe direcionamos a você é para o seu mal. É para a segurança de nossos homens e para a sua proteção, entendeu? — assim que perguntado, Bastien balançou a cabeça. — Não quero que se machuque ou se meta em mais encrencas. Essa vai ser a última vez que chamo sua atenção e por causa disso terão que ficar aqui na sala do trono, de castigo, nas minhas vistas, mas com a condição que...

— Finja choro. — Bastien movimentou os lábios em silêncio olhando para Louis por cima dos ombros de seu pai, que continuava falando. Ele faria de tudo, menos ficar ali sentado sem brincar, ouvindo queixas de adultos tentando solucionar problemas o dia inteiro, que pelo o que ele sabia, haviam muitos. Seu amigo entendeu o recado, colocando a mão no rosto enquanto cobria os olhos, de forma teatral. O cacheado sorriu com divertimento e quando seu pai o soltou do abraço, ele fez uma expressão piedosa baixando a cabeça de modo abatido. — Pai, o Louis está se sentindo muito culpado com a atrocidade que fizemos, ele crê que o altíssimo não irá nos perdoar e que no céu irão renegar duas crianças levadas e travessas como nós, então antes que ele morra de desidratação por chorar tanto, vou levar ele para tomar um pouco de água e fazer uma oração na capela.

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