As mãos miúdas de Momo foram até os seus grandes e expressivos olhos, enxugando mais uma vez as suas usuais lágrimas. Dolorosamente a garota já havia se acostumado com momentos assim, os cotovelos pequenos apoiados na sacada daquela varanda imensa, o coração triste por ver os filhos dos empregados do castelo brincando e divertindo-se, e a sua solidão aumentando mais a cada dia que se passava. Apesar de ser a única filha dos reis de Helsken, aquilo não mudava o fato de que para as outras crianças e seus respectivos pais, Momo era uma aberração.
E tudo isso começou no dia em que a menina descobriu que era mesmo diferente. Não só de pequenas da sua idade, como também de todos que ali viviam.
Era um dia ensolarado, perfeito para sair aprontado pelos quatro quantos do castelo. Ela estava tão contente porque sua mãe, pela primeira vez, havia deixado que saísse da imensa estrutura de pedras para ir brincar com outras crianças. Ao redor daquele lago, corriam animadas e livres enquanto risadas e gritos se espalhavam pelo ambiente. Era mágico para a morena de apenas cinco anos, e quando decidiram parar um pouco para se deitarem na imensidão verde à margem das águas, uma das crianças, mais precisamente o garoto no qual usava óculos e sorria abertamente, comentou desejoso:
— Seria tão bom se a gente tivesse umas espadas! — Imediatamente, após o comentário, a outra concordou.
— Isso seria muito legal, não acha Momo? — a menina de cachos ruivos indagou.
— Ei, nossa mãe disse que não podemos chamar ela pelo nome.
— Isso é besteira! — Um bico emburrado cobriu os lábios da morena — Gosto que me chamem pelo nome... E, seria mesmo legal umas espadas?
— Sim, nossa, podíamos brincar de luta. Fingir que você era a princesa indefesa e te resgataríamos das mãos do vilão — o garoto não conseguia esconder como estava empolgado com aquela ideia e nem a menina de cabelos ruivos, e quanto mais aqueles dois contavam sobre seus planos para a brincadeira, mais Momo ia mergulhando no cenário imaginário que brotava em sua mente, concordando também como seria interessante a ideia dos objetos. Sua imaginação era fértil, assim como a de qualquer outra garota de sua idade.
Estava mergulhando profundamente em seus devaneios, até sentir gradativamente algo distinto assolando o seu interior. Formigamentos nunca sentidos antes iniciaram-se em sua pele, e em instantes todos os olhares direcionaram-se para aquela luz que cresciam ao redor dos pulsos da princesa. E foi no segundo seguinte, ao ver que duas espadas sendo explicitamente retiradas da pele da menor, que os dois pequenos se viram intensamente apavorados. Não eram apenas duas espadas de brinquedo que poderiam ser facilmente usadas na brincadeira, eram espadas de verdade, que pesavam bastante e podiam machucar.
— Ai. Meu. Deus — A ruiva engoliu em seco enquanto arregalava os olhos.
— E-eu... Eu não fa-faço ideia... — Os olhos de momo estavam encharcados. Sua visão estava turva, e seu pequeno coração batia frenético dentro do peito. Estava mais assustada do que os outros dois. Mas, a princesa não pôde evitar que o sentimento de ter alguém arrancando o seu coração bruscamente fosse mais forte assim que assistiu eles dois se afastarem, com a expressão mais horrenda em ambos os rostos, como se a menina fosse de fato um monstro.
A partir dali, o vazio apossou-se lentamente dos dias daquela jovem. Seus pais levaram-na para diversos sábios, médicos e até mesmo membros das mais variadas religiões da época. Entretanto, ninguém foi capaz de explicar como a mocinha havia adquirido habilidade tão peculiar como aquela. O pai, preocupado com a com a segurança de Yaoyorozu, decidiu isolá-la completamente do restante dos que viviam naquele reino. Os únicos que poderiam estar com ela, acompanhando-a e escoltando-a, eram seus pais e e os dois guardas, sempre em prontidão caso algum acidente ocorresse.
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Você é a minha parte favorita de mim
Fanfiction- Faz um tempo que te observo. - A revelação dele fez com que ela franzisse o cenho. Como aquilo era possível? Levando em conta que aquela história toda em sua mente não passava de uma lenda, agora estava em seu quarto com um Todoroki dizendo que a...