onze

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A verdade era que Momo nunca mais havia se divertido tanto em toda sua vida. Não depois que ele partira. Tudo parecia tão entediante, muitas obrigações e nada de diversão. Nada de dias descontraídos.

Colheram ervas naquele campo aberto, Shoto correu por toda extensão daquele lugar para fazer cócegas na princesa porque sabia, de um jeito muito adorável, que ela gostava.

Sentindo o cheiro daqueles cabelos bicolores, enquanto era carregada nas costas por ele, a moça sorria de olhos bem fechados. Os tons alaranjados daquela tarde iluminavam vez ou outra seu rosto, por entre as folhas e suas brechas, ao que o rapaz caminhava.

Ela não pôde deixar de reconhecer que aquele tipo de dia poderia valer muito mais que um baile. Era tão mais encantador do que uma temporada em alguma casa de campo de nobres. Não existiam palavras para descrever como sentia-se viva, outra vez.

— Por que agiu daquela forma? — Ela pensou que sua pergunta ficaria apenas em sua mente, mas acabou escapando de seus lábios.

— Como? — Ele franziu o cenho, confuso.

— Quando dançou comigo, naquela noite. — Ela abriu os olhos, desanimada. — Eu sei que não estava sendo completamente honesto. Suas ações...

— Me desculpe.

— Por acaso estava tentando me afastar de você, outra vez?

— Eu não tenho esse direito, Momo. — Ele sussurrou dessa vez, sentindo as lágrimas dela tocarem sua roupa.

— Não me deixe mais. — Afundou o rosto na curva do pescoço dele. — Por favor.

Era justamente isso o que ele estava tentando evitar. Ela sabia que ele queria construir um muro em seu coração, apenas para que ela não se machucasse mais, mas não era como se pudesse apagar o passado e o sentimento que nutria por ele.

Também saabia que se o convidasse para aquele dia, ambos chegariam naquele assunto. Mas, as coisas eram diferentes agora. Apesar de sua mãe ter mil razões para  casa-la com Jack, era com Shoto que queria ficar.

Ambos pararam por um breve momento. Ja podiam ver algumas plantações e gado um pouco adiante.

— Acho que chegamos. — Ele murmurou em um tom carinhoso.

Yaoyorozu não conseguiu evitar que seu corpo estremecesse, e suas bochechas corassem. Agradeceu pela tarde já estar se despedindo, dessa forma não dando para notar seu rosto em chamas.

— Se saiu muito bem como perdedor. — Riu ao apoiar os pés no chão.

— Teria feito o mesmo se tivesse ganhado, sua majestade. — Ele a fitou, com tanto carinho no olhar que ela se derreteu inteira.

Sim. Sem dúvidas ela sabia que o faria, e não porque era uma princesa. Muito pelo contrário, e sim porque na verdade ele era quem parecia ser da realeza.

Oh Shoto... tão doce...

Nem lembrava mais como era sentir aquelas coisas. Afinal, nenhum outro fazia surtir nela tais efeitos. Só ele.

Pediu que ficasse um pouco ali, sentado ao seu lado, antes de seguirem até a casa dos donos daquelas terras.

— Então, como Jack se tornou seu primo?

— Detesto ter que decepciona-la, mas não é uma história heróica ou reveladora.

Ela riu baixinho, adorando seu senso de humor ainda que quando olhasse para o seu rosto, ele estivesse quieto e sereno.

— Tudo bem, de revelações a minha vida já está cheia.

Então, ela ficou encantada com a forma com que ele narrou o encontro com a duquesa. De repente, sentia-se tão familiarizada com a mulher, mesmo nunca tendo a visto na vida. Já havia escutado sobre Holt, seu falecido marido, o duque de Garner, mas sobre ela apenas um pouco.

— Ela havia sido encontrada em estado de miseria. Ele a chamou para morar com ele, e em troca ela seria uma criada.

— Mas ele acabou se apaixonando. Certo? — Yaoyorozu tinha um brilho bonito em seus olhos.

O jovem afirmou meneando a cabeça discretamente.

— Holt não podia ter filhos. Ela, no entanto, me revelou ter perdido uma criança.

— A duquesa me parece ser uma mulher forte.

— E ela é. — Ele abriu um sorriso de canto. — Assim como você. 

Ela sentiu um calor invadir seu coração. Eram as palavras mais sinceras que podia ouvir, e era por isso que havia se apaixonado por ele. Porque sempre a fazia crer que era a mulher mais invencível do mundo.

— O que ia me dizer? — Indagou de repente, capturando um olhar confuso do rapaz. — Quando acordei daquela síncope no jardim, você chamou meu nome, mas fomos interrompidos.

Ela viu que as feições dele endureceram. Nem de longe sabia o que se passava em sua mente, muito menos o que aquilo queria dizer.

— É melhor nos apressarmos. Está ficando tarde.

Quis protestar. Arrancar dele o máximo que conseguisse, já que muitas coisas ainda não estavam totalmente explicadas. Mas, realmente o céu estava escurecendo, e logo mais teriam de retornar ao castelo.

Quando encontraram Kate juntamente da família na qual estava tendo problemas, ela precisou retomar a concentração. O que era muito difícil com ele ali perto.

Logo, o casal dono do humilde gado explicou que não só seus porcos como suas vacas estavam adoecendo simultaneamente. Alguns duravam apenas dois dias enquanto outros morriam em um mesmo dia.

Kate, por ter chegado com antecedência, teve a ideia de ir ao vilarejo, em busca de informações sobre aquela família. E, de fato não haviam inimigos. Era justamente o contrário, a família era muito bem vista e a maioria daquela gente aparecia com um presente em sinal de apoio pelo ocorrido.

— Não me parece envenenamento. — Disse Momo, ao agachar-se para ver melhor os porcos abatidos na lama.

Shoto estava em silêncio. Olhava em volta, quem visse até pensaria que não estava nem um pouco interessado naquela situação. E foi o que a princesa pensou. De repente, o jovem se afastou. Caminhando sem dizer nada, trilhou um caminho entre as árvores, que levariam à um lago.

— Espere. Onde está indo? — Ela apressou seus passos.

Estava escurecendo, Kate e Momo seguiram Shoto por entre as árvores. E ao alcança-lo, o encontraram estático.

Momo sabia bem o motivo. Acima de uma cachoeira enorme, estava uma caverna. Poderia estar enganada, mas algo dentro de si dizia já te-la visto antes. Sim, a mesma na qual ele viveu por anos, longe de todas as pessoas. Sozinho.

— Shoto... — A voz morreu nos lábios dela quando o viu se aproximar daquelas águas. Na qual nunca havia estado ali antes.

Kate estava quieta, talvez não estivesse entendendo bem o que estava acontecendo ali, ou seus pensamentos estivessem em outro lugar. Estava se aproximando da água, aparentemente normal e límpida, quando ouviu um alerta.

— Não toque. — Era a voz de Shoto.

Sem dizer mais uma palavra, ele fechou os olhos e em seguida tocou as águas com mão esquerda. Yaoyorozu arregalou os olhos devagar, compreendendo o que ele estava prestes a fazer.

— Está amaldiçoada. — E uma chama incrivelmente alta percorreu por toda a cachoeira, mas com uma cor diferente. Completamente negra e com fumaça na cor púrpura.

Yaoyorozu deu dois passos para trás, sentindo uma energia poderosa vindo dali. Não havia cheiro. Não parecia fogo. Mas de alguma forma Shoto havia conseguido usar seu fogo naquelas águas.

Você é a minha parte favorita de mimOnde histórias criam vida. Descubra agora