Dois

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O silêncio já tomava conta do castelo. Os olhos negros de Momo ainda estavam bem abertos, focando em um ponto qualquer daquele imenso quarto. Vez ou outra voltava o olhar para as folhas daquele livro que segurava. Entretanto, mesmo sendo a sua história favorita, a jovem encontrava-se distraída demais dentro de seus pensamentos.

Imagens da noite anterior rodaram em sua mente durante aquele dia, tanto que ela mal pôde se concentrar na sua dura rotina. A voz dele, os olhos pacíficos e a fala mansa ainda pareciam tão irreais, como um sonho bonito em meio a tantos pesadelos.

Será que foi um sonho?

— Ainda acordada, como pensei.

A janela estava aberta. Ela havia deixado de propósito porque algo dentro de seu coração afirmava que ele viria. E veio. Não tinha sido um sonho.

— Não consigo dormir. — E dessa vez ela sabia que o motivo não eram seus pensamentos autodepreciativos.

Todoroki praticamente pulou para dentro de seu quarto, e em passos suaves se aproximou o suficiente para enxergar melhor os olhos expressivos da garota. Podia garantir que eram os mais belos de toda a história, mesmo tendo perdido completamente o contato com as outras pessoas, ele sabia disso.

— Está pronta? — Ergueu uma mão na direção dela. Um frio gostoso atingiu a barriga da jovem, dando uma prévia do que os próximos instantes lhe proporcionaria.

Poderia confiar em alguém, mesmo depois de tanto tempo vivendo isolada? Mesmo ele sendo uma pessoa na qual provavelmente compreendia seus sentimentos, não deixava de ser assustador a ideia de sair do castelo.

— Os meus pais... — Desviou o olhar ansiosa.

— Não se preocupe. Nós voltaremos antes do amanhecer.

Ela não estava preocupada. Nem por um momento seus pais representavam preocupação naquele momento. Era só aquela ansiedade por conta do novo. Aliás, estava sendo convidada para sair da sua zona de conforto. Mas até mesmo os seus medos eram reduzidos enquanto ela notava o quanto havia paz naquela fala... naqueles olhos.

Você parece um anjo, Todoroki. O pensamento finalizou seus devaneios, e no segundo seguinte ela tocou a mão que ele oferecia.

— O que vamos fazer?

— Criar memórias. — Guiou a princesa até a janela, em passos precisos.

Momo gostou de ouvir aquilo. E agora, tendo uma de suas mãos tomada pela dele, sentia vontade de abrir um sorriso e de enfrentar o mundo. Seu coração quase deu um salto e fugiu pela boca quando, em um movimento rápido, uma cascata complexa de gelo formou-se até o jardim em frente ao castelo. Shouto lançou um olhar que passava-lhe segurança.

— Segure firme. — Ele apontou para as suas costas.

Momo entendeu o que queria dizer e até teria ficado mais tempo paralisada com suas bochechas coradas, mas tudo foi tão rápido que em instantes já encontrava-se atrás do garoto bicolor, com braços e pernas enroscadas em seu pescoço e cintura.

Sua mão esquerda segurava firme a região da espinha dela ao que a outra formava mais gelo pela frente para que pudessem descer do alto do castelo na direção do jardim. Uma adrenalina estonteante apoderou-se das batidas do coração da morena, e sem que percebesse, um discreto e inevitável sorriso brotou no canto de seus lábios enquanto seus olhos brilhavam com aquele espetáculo de gelos.

O vento frio cortava-lhe as bochechas, e instintivamente baixou o rosto feminino até te-lo completamente afundado na blusa dele. Pensou ter sido ousada, mas estava tentando permitir que o momento fluísse, sem medos ou inseguranças. E não era nada desagradável estar naquela posição. Não mesmo.

Você é a minha parte favorita de mimOnde histórias criam vida. Descubra agora