minhyung

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avisos: suicídio/drogas

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Minhyung andava cabisbaixo. Mochila nas costas e lágrimas escorrendo pelo rosto. Um cigarro parcialmente queimado pendendo dos lábios rachados e os pulsos cerrados ao redor das folhas, amassando os desenhos trabalhosos sem dó algum.
Minhyung não sabia para onde ir. Para casa não era uma opção, afinal os pais estavam lá e esses eram tão detestáveis quanto o pessoal da escola.
A escola. Só queria colocar fogo naquela merda. Dar uma de Kevin* e matar todos aqueles ratos ordinários.
Passou ao lado de uma lixeira e jogou todos os desenhos ali. Todas as horas de trabalho que tivera fazendo cada detalhe e todo o sentimentos de cada linha traçada. Por culpa dos outros desenhos falsos que nem haviam sido feitos por ele, estava com um olho roxo destacado no rosto. Ao que parecia os valentões da escola não simpatizavam muito com incesto homossexual.
Jogou a mochila no lixo também, afinal em pouco tempo não precisaria mais dela. Pegou o maço de cigarros no compartimento secreto antes de finalmente se livrar dela.
Estava decidido a encontrar Mark e sabia muito bem onde ele estaria.
Chegou no prédio abandonado quando o sol já estava quase se pondo. A construção pela metade estava parada a um bom tempo e acreditava que ficaria assim por vários meses.
Quando chegou no térreo, reconheceu a figura do garoto pela única coisa que os diferenciava; os fios negros, diferente dos seus que tinham uma coloração rosada por causa do grupo.
Minhyung esperava alguns xingamentos ou até mesmo um soco no nariz, mas não imaginava dar de cara com a expressão impassível de Mark. Claramente decepcionado, desacreditado. No mais, aquilo machucou tanto quando uma dor física.
Minhyung soube que nada do que pudesse dizer adiantaria quando Mark falou, os dentes cerrados pela raiva.
– Vai embora, Minhyung. E não volte.
E ele foi. E não voltou, assim como lhe foi pedido.
Aquela foi a frase que Mark mais se arrependeu de dizer em toda sua vida, não que isso fosse fazer alguma diferença depois.
Mas por mais que ouvir aquilo do irmão tenha detonado o garoto que já estava acabando por dentro, ainda havia alguém em quem se apoiar, alguém em quem apostar suas últimas moedas.
Jeno estava jogando vídeo game quando chegou em sua casa. Resolveu ligar antes de apertar a campainha, sabia que ele preferia que o fizesse.
— Jeno? — chamou, tentando controlar a vontade de chorar — Posso falar com você? Tô aqui na frente da sua casa.
Minhyung se segurava para não correr para dentro da construção e abraçar Jeno com toda a força que conseguisse, enterrar o rosto em seu pescoço e se reconfortar com sua presença. Naquele momento só queria alguém em quem se apoiar, pois já não tinha estruturas para seguir sozinho.
– Eu... Desculpe Minhyung, mas não estou em casa…
– Onde você tá?
— Ah…eu não preciso dar satisfação a você de todos os lugares que eu vou, Minhyung.
– Por que você não quer falar comigo? Também está com vergonha? Também não acredita em mim?
– Não é isso…
– Pensei que fosse diferente dos outros, Lee Jeno. Pensei que tivesse falado a verdade quando disse que me ama.
– Eu te amo, Minhyu…
O garoto encerrou a chamada antes que Jeno pudesse terminar a frase. A frase que o desmontava por completo e que o fazia voltar para os braços de Jeno tão rápido quanto um estalar de dedos. Mas que agora não adiantavam, pois o Lee não o queria em seus braços.
Mesmo sabendo que tudo acontecera por causa de Jeno, não ousava depositar sequer uma parcela de culpa nele.
Jogou o celular com força contra o meio fio que queimava abaixo do sol de verão, vendo-o se espatifar em mil pedaços. Clichê seria dizer que se partiu em tantos pedaços quanto o coração do pobre Lee, mas era verdade. Minhyung riu de desgraça, riu querendo chorar e andou em direção a praça.
O lago parecia vazio quando chegou, mas foi só se aproximar mais para notar uma cabeleira rosa, assim como a sua, sentada no leito do riacho. Pés descalços e olhar perdido no horizonte.
Minhyung sentou ao seu lado e suspirou pesado.
– Quando eu acordei hoje de manhã com o bom dia animado do Mark, não pensei que fosse resultar nesse caos todo — Minhyung começou, atraindo os ouvidos de Ten, mesmo que este continuasse com o olhar em frente.
Minhyung acendeu outro cigarro enquanto continuava a contar sobre seu dia. Dentre todas as pessoas, a única que o ouvia era Ten, mesmo que este parecesse irreal, como uma aparição de seu subconsciente apenas para que tivesse esperança de que alguém o entendesse.
Lhe contou tudo desde o início, mesmo que Ten já soubesse, afinal era integrante do clube e os boatos sobre Minhyung, por mais que falsos, se alastraram rápido.
Contou a ele sobre quando chegou no clube aquele dia. Taeyong lhe disse para terminar tudo com Jeno. Não gostavam do Lee por motivos que desconhecia e, aparentemente, continuar a namorá-lo significava algo muito ruim para Minhyung. Mas ele pouco se importou, não acataria as ordens de Taeyong assim, não quando isso significava se afastar da pessoa que amava. Taeyong tinha sangue nos olhos e não aceitava ser contrariado.
Foi até que uma vingança bem pensada ter feito aqueles desenhos e guardado nos cadernos do garoto reservado que Minhyung era. Foi fácil fazer a cabeça de Mark para que certas desconfianças começassem a crescer em sua cabecinha.
No fim, Minhyung foi facilmente eliminado.
– Você deveria esquecer isso, Minhyung. Agir como se nada tivesse acontecido. Metade dos suicidas não seriam suicidas se fizessem isso.
Parece tão fácil dizer.
– As vezes temos de aceitar que algumas coisas nunca vão voltar a ser como eram, Ten.
Minhyung ficou até o por do sol com Ten. O tailandês ainda tinha dois beck* guardados no bolso do casaco. Esqueceram de tudo por um momento e conversaram sobre animais abissais e teorias da conspiração.
Quando Minhyung foi para casa era madrugada e a brisa já havia passado.
A bebida estava embaixo do colchão de Mark, que dormia um sono pesado.
Os remédios estavam no banheiro da mãe, esta que provavelmente estava fazendo dinheiro na esquina do centro da cidade.
Mark estava acordado quando sentiu o colchão ser elevado. Queria virar para o irmão e pedir desculpas, queria dizer que mesmo com tudo aquilo, mesmo estando chateado, não deixariam de ser irmãos, não deixariam de cuidar um do outro como sempre fizeram. No fim Mark apenas suspirou e voltou a cerrar os olhos.
A última coisa que sentiu foi um beijinho carinhoso em sua testa.
Aquilo lhe trouxe tantas lembranças de quando eram crianças… Sorriu e pensou em falar com Minhyung no dia seguinte, levá-lo para tomar sorvete na lanchonete da esquina, andar de bicicleta juntos como sempre faziam e esquecer tudo aquilo.
Se soubesse que não teria um amanhã para Minhyung não teria ficado ali deitado. Se soubesse que acharia o corpo do irmão estirado no chão do banheiro na manhã seguinte não teria sonhado com o som das suas risadas infantis.
Mark foi para a cozinha. Minhyung sempre deixava bilhetes na sua xícara favorita quando tinha de sair mais cedo ou deixar qualquer recado para o irmão.
A caneca do Batman nunca pareceu tão mórbida com aquela última carta que guardava.

"Sinto muito por ter que estar lendo isto e por ter me encontrado desse jeito no seu banheiro. Sei que você gosta de calmaria pela manhã, então deve ser um pouco impactante. Desculpe, Mark.
Eu sou fraco, eu sei. Não aguentei muito. Mas tanto faz. Esse mundo não é pra mim, foi a conclusão que cheguei.
Eu sei que você não acredita nisso, mas talvez possamos nos reencontrar em outras vidas.
Se eu fosse pro inferno eu gostaria de levar aquela merda de escola junto, mas nunca saberemos o que acontece depois da morte.
Não se sinta culpado.
Não culpe os outros também.
Sinto muito.
Lee Minhyung".
Ps: Fui eu que quebrei o seu stereo, e pois é, eu realmente neguei até a morte.

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número de palavras: 1339

*referência ao filme/livro precisamos falar sobre kevin
*maconha

cool kids | markhyuckOnde histórias criam vida. Descubra agora