hug me

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Ten pressionou a campainha e mordeu o lábio inferior. Arrumou o capuz do moletom fino sobre a cabeça e escondeu melhor alguns dos fios negros recém pintados. Johnny adorava aquela cor em seu cabelo e Ten adoraria vê-lo sorrir quando notasse tal mudança.
Chittaphon não podia se sentir mais feliz com a cor atual. Deveria ter mudado a muito tempo, mas não conseguia. Mesmo tendo saído do grupinho asqueroso de Lee Taeyong, parecia que ainda não estava preparado para mudar. Mas depois dos últimos acontecimentos, Ten sentia como se ainda houvesse alguma esperança. Em um lugar onde a injustiça predominava, reconhecia o quão importante fora o ato de Mark e se sentia realizado por ter ajudado nem que fosse um pouco.
Claro que tirar o rosa dos fios não era nada comparado a explodir a escola, mas Ten estava ao menos satisfeito em ver o quão chocado o Lee ficara depois de o colégio ruir juntamente com seus pais que eram os donos da escola.
 
A porta foi aberta por um Johnny de cabelos molhados ainda pingando que apenas usava uma calça de moletom folgada e tinha os pés descalços, acabando por tirar Ten de seus devaneios e o fazer esquecer toda e qualquer coisa que estivesse em sua cabeça antes de Youngho.
- Eu tava no banho, desculpe a demora – ele falou, dando passagem para Ten entrar e logo fechando a porta atrás de si.
- Seus pais estão? – perguntou, olhando em volta antes de rodear a cintura de Johnny e aproximar o rosto do seu.
- Não – devolveu o abraço, circundando o pescoço do mais novo – Saíram faz pouco.
Ten sorriu, ficando na ponta dos pés e beijando calmamente os lábios do Seo que retribuiu de bom gosto, baixando o capuz do mais novo e puxando os fios da nuca no decorrer do beijo.
Johnny já estava ficando animado, aprofundando o beijo e o pressionando contra a parede quando Ten soltou um grunhido de dor, fazendo Youngho se afastar e o olhar assustado.
- O que foi? – perguntou, logo desviando o olhar para os fios negros que até então não havia percebido.
- Nada – Ten sorriu ao notar o olhar alheio no topo de sua cabeça, agradecendo por ter distraído Youngho com o cabelo, não queria por nada preocupá-lo – Gostou da nova cor?
- Ah, não sorri assim – Youngho virou de costas por um momento, logo voltando a encarar Ten que ainda sorria grandiosamente – Você tá lindo.
- Obrigado.
Johnny sorriu e voltou a aproximar o rosto, pronto para tomar aqueles lábios que pareciam o chamar. Mas Ten foi mais rápido, desviando do mais velho e seguindo para as escadas.
- Volta aqui! – Youngho pediu com a voz manhosa enquanto seguia o outro para cima.
Catch me if you can – Ten cantarolou enquanto seguia correndo em direção ao quarto do outro.
Respirou fundo ao chegar, observando o cômodo já familiar para si e esperando por Youngho.
- Peguei! – ouviu ao ver a figura do mais alto adentrar o quarto.
Ele praticamente voou sobre si, abraçando-o pela cintura e o levando para a cama junto consigo. Caíram deitados e riram juntos, recuperando o fôlego aos poucos.
 
- Agora que a escola tá metade destruída e sendo investigada, eu vou ter que estudar do outro lado da cidade a partir da semana que vem – Ten falou, fixando o olhar no teto para não ter de lidar com o olhar de Youngho – Eu... só vou voltar nos fins de semana.
- Vai ser difícil, mas eu consigo aguentar alguns dias sem você – Youngho sorriu, mesmo que sentisse um certo vazio só de imaginar Ten longe de si.
- Promete que vai esperar por mim? – perguntou, apertando os lábios – Só por mim.
- Sempre vou esperar por você.
Ten virou o rosto, observando cada detalhe da face bonita de Youngho, este que olhava para o teto.
- Ho – chamou com sua voz mais fofa, sorrindo quando o outro direcionou o olhar para si.
Aproximou o rosto e deixou selares pelo seu maxilar, o percorrendo até chegar próximo dos lábios e então parou, sorrindo mais uma vez pelo olhar atento do Seo sobre seus movimentos.
- Você sabe como fica sexy quando sorri assim, ainda mais de cabelo preto   – Youngho virou de lado e rodeou a cintura do tailandês - Não fique me provocando, Chittaphon.
- Por que não? – Ten se aproximou ainda mais, voltando a deixar selinhos molhados, dessa vez percorrendo a extensão do pescoço do outro – O que você vai fazer?
Youngho se afastou dos beijos e se colocou sobre Ten, apoiando-se com as mãos no colchão e encarando profundamente os orbes negros do garoto que sorria de forma quase lasciva para si. Como gostava daquele sorriso.
Não aguentou nem mais um segundo longe daqueles lábios que pareciam clamar pelo seu toque, levando as mãos e enterrando-as nos fios negros enquanto beijava-lhe com volúpia, sentindo o corpo grudar no de Ten ao abandonar o apoio. A algum tempo não tinham aquele tipo de contato, o que fazia os sentimentos de desejo quase que transbordarem para fora dos corpos.
Ten continuava a sorrir em meio ao beijo, era quase como se uma faísca acenesse no interior de seu corpo e aos poucos, as chamas de apenas sentimentos bons se alastrassem pelo interior do tailandês.
Desceu as mãos pelo corpo de Johnny, sentindo a pele quente e definida das costas e arranhando levemente enquanto sentia a língua do mesmo explorar com maestria toda sua boca.
Youngho levou as mãos até a barra do moletom do outro, separando os lábios por um momento enquanto fazia menção de tirá-lo.
- Não – Ten falou, segurando as mãos do mais velho – Não quero tirar.
- Por que não? – Youngho perguntou com um sorriso safado, deixando selinhos curtos nos lábios do tailandês – Seu corpo é tão bonito...
Youngho voltou a fazer menção de levantar a peça, percorrendo ligeiramente o abdômen com a ponta dos dedos e sentindo uma textura estranha na pele, olhando-o atônito por já ter uma vaga ideia do que se tratava.
- Eu disse que não! – Ten exclamou, rapidamente levantando da cama e ajeitando o moletom no corpo, de costas para Youngho – Eu vou embora.
Ten seguiu para a porta, mas Johnny o impediu antes que saísse, abraçando-o por trás e apoiando o queixo em seu ombro.
Ten respirou fundo, sentindo os olhos começarem a arder e as lágrimas acumularem.
- Você sabe que pode contar comigo pra tudo, Ten – Youngho falou baixo em seu ouvido – Não sofra sozinho, dói menos se você compartilhar com alguém.
Ten fungou e se virou de frente para o Seo, enterrando a cabeça em seu peito e sentindo as lágrimas quentes rasgarem pela bochecha.
Youngho o abraçou e o conduziu até a cama. Deitaram um de frente para o outro e Johnny estendeu a mão, secando as lágrimas do garoto que aos poucos parava de chorar. Afagou a bochecha e os lábios vermelhos carinhosamente com o polegar.
- Posso ver? – pediu assim que afastou a mão.
- Só se você prometer não falar nada.
- Eu prometo.
Ten concordou e deitou de barriga para cima. Johnny respirou fundo e se aproximou, segurando a barra do moletom e levantando com cuidado, revelando completamente o abdômen de Ten. A última lembrança que tinha era uma barriga lisa, levemente definida e bem branquinha, impressionantemente livre de qualquer imperfeição. Mas o que agora via só causou lágrimas e terror no Seo.
Estava todo cortado. Cortes recentes e um pouco mais antigos, espalhados por toda a extensão de seu abdômen como uma mesa de colégio tomada por riscos e marcas.
- Ah, Ten... – foi o que disse com dor na voz antes de voltar a abaixar o moletom e deitar ao seu lado novamente.
Youngho se sentia um completo inútil. Só queria poder tomar todas as dores internas de Ten para si, não se importava de sofrer em seu lugar se isso significasse continuar vendo aquele sorriso brilhante todos os dias.
- Me abraça – Ten pediu antes de se virar para o lado oposto, esperando ser protegido pelos braços que lhe transmitiam tantos sentimentos bons.
Youngho se aproximou por trás e o abraçou forte. Sentia uma vontade imensa de proteger aquele corpo agora em seus braços, de lhe dar todo o amor do mundo e só encher sua vida de coisas boas, nem que fossem apenas coisas bobas, mas que o fizessem rir e se sentir bem.
- Ho – Ten chamou baixinho, se aconchegando ainda mais no abraço quentinho.
- Sim?
- Essa é sua resposta? – perguntou divertido.
- Sempre.

...
 
Renjun tinha os dedos e mente ocupados pelo vídeo game que a horas roubava sua atenção e distraía sua cabeça de tantas coisas que queria esquecer. Fazia algum tempo que esperava Chenle, este que prometera trazer seu mais novo jogo.
Renjun jogou o controle no chão, frustrado por ter perdido mais uma vez aquela partida chata de futebol. Passou a mão pelos fios negros e rodeou as pernas com os braços, desviando os olhos para a pequena estante onde guardava todos os seus dvds e jogos. Um em especial lhe chamou a atenção, fazendo-o se aproximar mais e levar a mão para tocar a lateral do jogo que estava mais protuberante em relação aos outros da pilha. Renjun sorriu triste, pegando o dvd e tirando com cuidado de baixo dos outros.
Outlast. Renjun não era grande apreciador de jogos de terror, mas quando Mark e Minhyung apareciam com o objeto em mãos e sorrisos infantis no rosto, o chinês não era capaz de negar levar alguns sustos junto dos amigos.
Abriu o dvd e não foi surpresa quando se deparou com um papel dobrado cuidadosamente. Renjun o abriu, suspirando profundamente e sentindo o coração bater mais rápido.
 
‘’Não sou bom em escrever como Minhyung, você sabe disso, Renjun. Mas não acredito que vá ser um problema, até porque você também sempre foi melhor com números que com letras. Nesse quesito, acredito que possa me entender melhor, por isso que lhe escrevo.
Acha que é muito clichê deixar uma carta? Tenho certeza que sua resposta é sim. Na verdade eu já tenho muitos aspectos clichês, esse só seria mais um. Sabe, jaqueta de couro, cigarros, joy division... essas coisas.
É estranho escrever isso, porque parece que eu já estou morto a muito tempo. É realmente muito estranho e eu não sei como explicar tudo que está rondando meus pensamentos nesse momento.
Eu queria escrever para Donghyuck, mas... é difícil porque eu me sinto vivo perto dele ou simplesmente quando penso nele. Eu sinto como se eu pudesse ter uma segunda chance. Mas a questão é: eu não tenho. E eu não quero ter. Então, só diga a ele que não se esqueça tão cedo de mim. 
Eu estava acostumado com a intensidade que a vida poderia me proporcionar, mas Donghyuck foi diferente de todas as formas.
Eu gosto muito de você, Hyuck.
O clube foi uma das coisas mais importantes que eu tive oportunidade de fazer, Jun. No fim essa carta não é só pra você, é para o Cool Kids. Vocês foram o motivo de sorrisos e risadas minhas que eu sequer sabia que poderia transmitir. Vocês me fizeram sentir como era ter um irmão novamente e isso foi incrível. Por mais que doesse sempre que eu pensava nisso.
Eu não sei que rumo as coisas tomaram, mas eu torço muito para que tenhamos alcançado nosso objetivo. A escola ruiu depois da explosão, por favor me diga que sim.
Eu não sei mais o que escrever e meus dedos já doem. Enfim, só me resta dizer adeus.
Não percam a essência de vocês. Façam o que lhes faz bem. Não sejam adultos chatos. Sintam frio na barriga e riam de tudo. Vivam, galera. Conselho de quem não o pode mais fazer.
Sejam as Cool Kids dessa geração e não durmam. Não durmam para os outros e nem para si mesmos. Estejam bem acordados e vivam intensamente’’

Renjun tinha lágrimas nos olhos e por mais que estivesse triste, não conseguia deixar de sorrir pelas palavras de Mark que, de certa forma, aqueceram seu coração. Era como um último vislumbre daquela entidade que Mark era. Aquele garoto cheio problemas que cheirava de longe a espírito adolescente.
Renjun ria e chorava ao mesmo tempo, tendo braços carinhosos ao seu redor que só notou ser o recém-chegado, Chenle, pelo cheiro característico que este possuía, pois a visão do garoto estava completamente embaçada pelas lágrimas.
 
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número de palavras: 2057

cool kids | markhyuckOnde histórias criam vida. Descubra agora