"[...] coloco os meus sentimentos em cada canto meu, que também te pertence. Dessa forma, tento reconstruir-te, para que a sensação da tua falsa presença permaneça".
Nesta manhã, o silêncio pairou pelo apartamento de forma sólida. Senti-me submersa na ausência de sons, que parecia uma parede em minha frente. Pois, eu podia tocá-la, praticamente, e senti-la.
Obtive uma estranha sensação.
Um arrepio oriundo do incômodo percorreu o meu corpo, e o silêncio que preenchia o apartamento perambulou pela superfície da minha pele, me deixando cada vez mais desconfortável.
A situação rebateu-me com um questionamento, que martelou na minha cabeça: o silêncio sempre foi a minha companhia e não o meu inimigo.
Encarei o silêncio, procurando por uma resposta.
De repente, dei-me conta de que, talvez, estivesse sentido falta da melodia calma e fraca que você produz no meu teclado, que está abandonado na sala após eu desistir das aulas musicais.
Já você, determinado e focado, passou a aprender a tocar o instrumento para reverter a situação de abandono.
Percebo, então, que as lembranças são persistentes, tanto quanto você.
Nos últimos dias, pude sentir o seu cheiro em cada canto em que passo. Sinto-o não só nos lençóis da minha cama ou nos corredores de casa. Mas também, no caminho até a livraria do shopping, nos corredores da faculdade, no elevador do prédio, na lojinha de conveniência, e até na padaria, em que o cheiro que mais predomina são os dos doces e o de pão.
Fiquei ainda mais frustrada ao confundir o teu rosto com o de outras pessoas enquanto caminhava na rua. Senti-me patética. Não seria possível reencontrar-te tão facilmente assim.
Depois disso, para não me sentir culpada, usei o sentimento como justificativa. Tentei convencer-me de que tudo isso é consequência de estar apaixonada, e que pouco posso fazer em relação a isso. Além de, simplesmente, amar-te e esperar, ansiosamente, pela próxima vez que iremos nos encontrar.
Fecho os olhos e reconstruo o som dos teus passos arrastados pelo chão de madeira. O ruído dos controles do videogame. O teu cantarolar baixo, misturado ao som das teclas do notebook que varia com o som do clique do mouse enquanto você compõe uma música, e todos os outros barulhos que você faz quando está em casa.
Sou capaz de ver-te aqui, mais uma vez, abraçado a mim, com um lindo sorriso entre os lábios, vestindo um moletom preto básico; deixo-me morrer por segundos entre as lembranças.
O silêncio é vencido por elas: as recordações que coleciono sobre você.
A quietude do ambiente deixa de incomodar-me, uma vez que coloco os meus sentimentos em cada canto meu, que também te pertence. Dessa forma, tento reconstruir-te, para que a sensação da tua falsa presença permaneça.
Deito-me na cama e sou obrigada a expulsar os pelos do Fred que repousam sobre o travesseiro que você costuma usar para se deitar. Pois, até o nosso gato, sente a sua falta.
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Consequências de Amar • JK
Cerita Pendek"Estou consciente que essa inutilidade que me invade é apenas uma consequência de estar apaixonada. Devido a isso, eu odeio-me por estar assim. Pois, sinto-me incapaz de realizar qualquer atividade sem que você esteja aqui, diante dos meus olhos [...