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    Os seus longos e ondulados cabelos pretos estavam soltos no dia seguinte, e as suas meias com folhos eram cor-de-rosa. Se não me engano, aquela seria uma sexta-feira, pois no dia seguinte passámos a tarde juntos a passear ao pé da minha casa, com alguma vigilância dos meus pais, é claro. Arizona era uma rapariga diferente, (ainda é), e não tenho dúvidas nenhumas disso. Normalmente as outras raparigas da minha turma não gostavam de ficar sentadas sobre a relva no intervalo e fugiam quando viam um pequeno insecto ou mesmo uma formiguinha. Arizona não... Ela, se fosse preciso, até pegava nos bichinhos. Arizona parecia não ter medo de nada e essa era uma das coisas que mais me fascinava nela.

    Recordo-me do dia em que ficámos sozinhos pela primeira vez no jardim da minha casa. A promessa que tínhamos feito permanecia intacta assim como os nossos pequenos corações cheios de amor para dar e receber.

    Sentámo-nos na relva esverdeada e olhámo-nos durante alguns minutos. Mesmo em criança, eu apreciava mirar Arizona. Observá-la atentamente e detalhadamente. Gostava do facto de os seus olhos serem cinzentos como as nuvens num dia nublado.

    Ela cruzou as pernas à chinês e olhou-me nos olhos enquanto os dela estavam semicerrados. Estávamos a ter um jogo de contacto visual ou assim? Não fazia a mínima ideia.

    "Eu sei o teu segredo..." – ela proferiu, num tom suspeito. Fiquei confuso. Não estava à espera daquela.

    "Que segredo?" – levantei uma sobrancelha, aproximando-me dela.

    "Ainda dormes com um peluche à noite..." – Arizona murmurou ao meu ouvido e desmanchou-se a rir. Arregalei um pouco os olhos ao ouvi-la, porque, sim, ela tinha razão. Em vez de ficar envergonhado nesta situação, soltei pequenas gargalhadas nervosamente enquanto as minhas bochechas se tornavam rosadas.

    Mas, uma coisa que adorei foi o riso dela. A maneira de como os seus grandes olhos se semicerravam e a sua boca se abria exageradamente, fazendo-me ver os seus dentinhos pequeninos e brancos.

    "Como é o peluche?" – ela questionou quando o riso desvaneceu lentamente. Começou a remexer na relva, provavelmente procurando por bichinhos.

    "É um pinguim" – encolhi os ombros. Arizona rapidamente me olhou, com um sorriso imensamente largo. Puxou-me para os seus braços e abraçou-me enquanto o seu punho se esfregava no topo da minha cabeça. Quando me largou, soltei um longo suspiro.

    "Adoro pinguins!" – exclamou. O seu sorriso imediatamente caiu quando algo captou a sua atenção. Franzi a testa, preocupado, e, de repente, a sua mão apareceu à frente do meu nariz. Duas coisas pequenas movimentavam-se na sua fina mão.

    "Bichos da seda?" – fiz uma expressão de nojo e Arizona deu-me uma palmada no ombro, sorrindo.

    "Bichos da seda!" – levantou-se de súbito – "Temos que fazer uma casinha para eles, Luke!" – examinou atentamente os seres vivos na palma da sua mão.

    "Como?" – perguntei, e ela apenas me lançou um sorrisinho maroto, começando depois a caminhar. Tudo o que eu fiz foi segui-la.

    Encontrámos uma caixa velha de cartão perdida no jardim da minha casa e decorámo-la com pequenas folhas e ramos. Assim que terminámos, limpei a testa com o meu ante-braço e respirei fundo.

    "Agora eles já têm uma casinha!" – Arizona sentou-se ao meu lado e permanecemos sossegados, a olhar para os bichos da seda.

    "A casa deles era a relva" – sussurrei quase inaudível.

    "Mas eles viviam sobre o medo de ser esmagados. Agora, aqui, estão a salvo" – explicou a menina ao meu lado, fazendo vários gestos com as mãos – "E ninguém gosta de viver com medo"

    Podia-se dizer que Arizona era uma criança sábia. E, a minha lição daquele dia, – embora eu não a tivesse percebido, – foi: Nunca viver com medo.

    Mas a verdade é que, mesmo que tentemos, iremos sempre ter medo de algo. E o meu maior medo era – e continua a ser – a rejeição.


Unrequited Love ➤ Luke Hemmings [Dropped]Onde histórias criam vida. Descubra agora