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    Foi engraçado o facto de Arizona ter memorizado o meu amor por pinguins. Quando fiz nove anos, ela apareceu na minha festa com um presente consideravelmente grande. Não me separei dela o tempo todo. Os meus outros amigos jogavam vídeo-jogos enquanto eu e a rapariga que me fascinava brincávamos às escondidas no meu quarto pequeno. Quando abri as prendas, Arizona surpreendeu-me. Ela tinha-me dado um peluche com o formato de um pinguim. Escusado seja dizer que o meu interesse por ela foi crescendo cada vez mais. Todos pareciam notar que eu tinha um fraquinho por Arizona, menos ela.

    Nunca me importei com isso, na verdade. Sempre achei que se ela soubesse dos meus ditos mais fortes sentimentos, a nossa amizade não iria ser a mesma. Contudo, era bom saber que Arizona me escolhia, e só a mim, para companheiro das suas aventuras.

    Recordo-me do dia em que ela apareceu à janela do meu quarto. Eram 21 horas da noite e os meus pais encontravam-se a dormir.


           Remexi-me na cama à procura de uma posição confortável para dormir. Mas, só conseguia pensar naqueles olhos cinzentos que pertenciam a Arizona e a forma de como brilhavam. Sentia-me esquisito. Os rapazes pequenos não se apaixonavam, como a minha mãe dizia. Só os adultos, certo? Então porque é que não conseguia parar de pensar naquela rapariga? E porque é que ela me fazia nervoso e com borboletas na barriga?

           Um barulho vindo de lá de fora interrompera os meus pensamentos. Franzi a testa e pontapeei os lençóis, para que saíssem de cima do meu corpo. Calcei as minhas pantufas e abri a janela. Assim que vi Arizona, um sorriso delineou-se nos meus finos lábios.

    "O que fazes aqui?" – a minha voz fez-se ouvir, num sussurro – "Os teus pais não vão ficar chateados contigo?"

    "Somos vizinhos, Luke" – ela deu-me uma pequena palmada na testa e eu lancei-lhe um olhar de desdém – "Tenho boas notícias para nós!" – a sua voz de menina pequena voltou a soar neste espaço.

    "O que aconteceu?" – esfreguei o meu rosto algumas vezes, para despertar completamente.

    "Os nossos bichinhos da seda vão-se transformar em borboletas, Luke!" – ela exclamou. Coloquei o meu indicador sobre os seus lábios, arregalando os olhos.

    "Tens que ver isto" – Arizona tentou murmurar contra o meu dedo. Assenti lentamente, e, embora soubesse que se fosse apanhado pelos meus pais, ia ficar de castigo, decidi aventurar-me com ela.

    Quando saltei para fora da janela, soltei um grunhido de dor e apenas recebi uma palmada na testa, mais uma vez. Revirei os olhos e caminhei com Arizona até ao nosso esconderijo, o sítio onde escondíamos os nossos bichinhos da seda.

    Chamei à situação que ocorreu destino. Talvez porque se chegássemos mais tarde àquele lugar, não iríamos ter o privilégio de ver estes seres vivos a transformar-se em bonitas borboletas. Eu ainda era capaz de apreciar a Natureza. Os meus olhos focaram-se na caixa de cartão perante Arizona. Sentámo-nos na relva húmida e não nos importámos com o facto de as nossas roupas terem ficado molhadas. Quem se importaria? Éramos crianças inocentes e estávamos a assistir a algo lindo.

    A minha pequena mão procurou a de Arizona, e, quando a encontrei, entrelacei-a na minha. Ela cruzou o seu olhar com o meu e deu-me um pequeno sorriso, encostando-se a mim. Nesse momento, juro que senti milhares de borboletas a nascer na minha barriga. Irónico, não é?

    A rapariga ao meu lado enroscou-se no meu ombro e pensei para mim mesmo: "se calhar este vai ser o mais próximo que vou estar dela". Então, porque não aproveitar?

    Coloquei o meu braço disponível à volta da sua cintura, como o meu pai costumava fazer à minha mãe, e examinei atentamente a sua reação. Ela não se importou com o meu gesto. Apenas continuou a sorrir largamente e a encarar as borboletas com uma admiração intensa.

    Percebi que Arizona não sabia o que estas pequenas acções significavam. Talvez algum dia soubesse.

    Quando as borboletas voaram para longe do meu jardim, um suspiro longo escapou dos meus lábios. Olhei para baixo e fitei as nossas mãos, ainda pegadas uma à outra.

    "Sabes, Luke..." – a sua voz fez-se ouvir – "A minha mãe uma vez disse-me que as borboletas apenas viviam 24 horas" – fechou os olhos, continuando de seguida a falar – "Isso deixa-me triste. Eu gostava que todos reparassem na sua rara beleza. Elas apenas têm 24 horas para mostrar no que se tornaram, porque, quando eram lagartas, ninguém lhes dava atenção" – engoli em seco ao ouvir a sua frase. Arizona era uma rapariga nova, mas muito sábia.

    "É uma história triste" – foram as únicas palavras que consegui dizer. Arizona abanou negativamente a cabeça e sorriu tristemente.

    "Não é" – fez uma pequena pausa – "Porque elas conseguiram ser o que estavam destinadas a  ser. Por 24 horas, mas o que interessa isso? Elas vão falecer felizes." – finalizou, levantando-se.

    "E se houver, por aí, uma borboleta diferente das outras?" – questionei com um genuíno sorriso.

    "Ela vai acabar por encontrar a felicidade"

Unrequited Love ➤ Luke Hemmings [Dropped]Onde histórias criam vida. Descubra agora