Capítulo 4 - O destino da Água e do Fogo

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A rua estava fechada, inúmeros carros de polícia davam apoio para o retorno do trânsito naquela via. Uma voz no rádio de um carro avisava, com tom de alerta, que há a possibilidade de uma pancada forte de chuva hoje em Tocantins.

— O tempo mudou repentinamente, temos a informação do centro meteorológico. A porcentagem de uma tempestade é grande devido ao acumulo de nuvens. — Alertava o locutor.

Não muito longe daquele bagunçado trânsito, o embate entre Evablue, Nec e Mortis está a um fio de começar. Nec Logro rodeava Evablue, a fim de encurralar a menina. Ele esfregava seus dentes uns nos outros, provocando um som desagradável. Os três se estudavam com cautela, esperando pelo primeiro movimento. Partiu de Mortis a primeira investida. Uma neblina verde-escura vazou de sua chama, acelerando-se na direção de Evablue. Provavelmente nada mais nascerá no solo que foi tocado por essa neblina, toda a vegetação rasteira desintegrou-se, virou pó. Não demorou muito para que Evablue percebesse que se aquilo tocasse sua pele seria catastrófico. Ela encheu os pulmões, e lançou um potente grito sonar. Com a força das ondas de som, aquela nuvem tóxica recuou e se dissipou.

Nec Logro era o alvo mais perto de Evablue no momento, e sofrera bastante com o sonar. Uma intensa dor de cabeça e um zumbido insistente nos ouvidos abriram a guarda do negro que estava, agora, com as duas mãos na cabeça. Mortis também sentiu o impacto das ondas de som, e caiu, ajoelhando-se em uma das patas dianteiras. Evablue, com o auxílio impulsivo da água, flanqueou na direção de Nec, golpeando-o com seu ombro direito, acertando o queixo do oponente. Antes que o negro caísse, ela usou a ponta do cabo do tridente para acetar a boca de Nec, quebrando vários de seus dentes, logo deixando-o inconsciente no chão.

— Maldita! — Disse Hidra Mortis.

Aquela fétida criatura se levantou, e recitando algumas palavras em uma língua extinta a muito tempo no Brasil, fez com que alguns símbolos indígenas aparecessem no chão, brilhando na mesma cor de suas chamas.

— Levantem-se dos mortos e sigam as minhas ordens, pois sou a mensageira da decadência!

Alguns dos animais que foram mortos pela neblina de Mortis, quando ela revelou sua presença pela primeira vez, ressuscitaram podres, fétidos e sem alma. Todos sob o controle dela. Eles tinham agora uma forma grotesca. Dois pássaros estavam enormes, não havia penas em suas asas, apenas ossos rachados. Um bicho-preguiça também estava sob o controle de Hidra Mortis. O seu tamanho era cerca de vinte vezes maior que um bicho-preguiça normal, seus músculos eram absurdamente grades e pulsavam fora de sua pele. Todos possuíam os olhos brancos.

— Caia diante da Necromante da noite, Evablue!

O grotesco bicho-preguiça avançou na direção de Evablue, cambaleando de um lado para o outro como um gorila apressado, um dos pássaros sobrevoou baixo, mas logo foi atingido por um pilar de água, o partindo ao meio. O bicho-preguiça golpeou Evablue com um soco, porém, ele era lento demais.

Houve tempo suficiente para a garota cravar seu tridente no chão, e, usando as duas mãos, bloquear o ataque, mas, fora arrastada alguns metros para trás, devido a força brutal do bicho. Cabisbaixa, ela sorriu, e antes que Mortis desse o comando para que a criatura recuasse, Evablue usou o pouco de água que ainda restava no corpo do bicho para criar inúmeras lanças de gelo, retalhando-o de dentro para fora. Aquele corpo pútrido caiu. A onda que sustenta Evablue aumentou, e ela avançou na direção de Mortis, que logo deu o comando para que o pássaro zumbi também atacasse.

— Perdeu o juízo, garota? Avançando assim com as mãos limpas. — Disse Mortis.

O bico daquele pássaro era longo, e com certeza acertaria Evablue primeiro, mas, Mortis não contava com algumas habilidades. A poucos metros do embate, Evablue apontou sua mão direita para trás, e o tridente se dissolveu, transmutando-se em seguida direto na mão dela. O bico do pássaro já estava próximo do rosto dela, quando, com um giro corporal surpreendente, ela desviou retalhando o pássaro ao meio com um único corte de seu tridente. Metade para a esquerda e metade para a direita, ambas congeladas. O avançou continuou ainda com vigor. Um corte fora feito nas patas dianteiras da quadrúpede, fazendo-a ajoelhar, seguido de outro feroz corte na lateral de seu dorso. O cheiro podre exalou. Evablue saltou, e, girando seu tridente com velocidade, disparou um turbilhão de água na direção de Mortis, que fora arrastada metros à frente, já desacordada. Sua chama extinguiu-se. Não houve reação nenhuma dela. Evablue aproximou-se de cada um, Nec e Mortis, apoiou seu tridente sobre eles, aquelas três pedras verdes voltaram a brilhar. Um clarão de luz ofuscante iluminou ali, e com ele, os corpos de Nec e Mortis elevaram-se ao céu, e antes que se transformassem em energia cósmica, a voz feminina de Mortis disse:

— Desculpe-nos, Evablue, e cuide-se diante do fogo do imperador.

Aquele foi o último minuto de sensatez de Hidra Mortis. Os dois retornarão à sua forma cósmica.

Ísis deixou a forma de Evablue em seguida, o tridente se foi e ela caiu de joelhos no chão, ofegante, um tanto cansada. As luzes de algumas lanternas iluminaram o local quando ela pôde ouvir algumas vozes chamarem por seu nome. Alguns policiais acompanhados de seu pai a procuravam. Gregório pediu ajuda aos oficiais depois de perceber que a filha havia desaparecido de dentro do carro, e aquele clarão final chamou a atenção dos homens para aquele local isolado do parque.

— Ísis, minha filha, o que aconteceu? — Perguntou Gregório, ajudando a filha a se levantar. — Procurei você por toda a parte.

— Desculpa, papai, eu fiquei com medo e corri para cá.

— Meu Deus, que susto você me deu! Vamos para casa, acho que vai chover forte.

Finalmente o "vamos para a casa" se concretizou, e Ísis pôde dormir em sua cama. Dois dias depois do embate no parque, pela manhã, a notícia que Ariel de La Blanca, sua mãe, retornaria de Portugal, logo foi ofuscada pelo noticiário matinal da televisão enquanto pai e filha tomavam café juntos.

— Um estranho e intenso incêndio perto da Praia da Gaivota deixou turistas horrorizados. Os bombeiros foram acionados e a luta para conter as insistentes chamas continua... Esperem, temos ao vivo um chamado de Suelen Couto, nossa repórter. Diga, Suelen, como anda o trabalho dos bombeiros?

— Nada bom, Gabriela, o fogo parece não se entregar aos jatos d'água dos caminhões, ele está avançando cada vez mais.

Uma explosão aconteceu ao vivo.

Gabriela, Meu Deus, um dos caminhões dos bombeiros acabou de ser atingido pelo fogo, ele explodiu Gabriela, repito, o caminhão explodiu!

Uma segunda explosão foi ouvida, e logo em seguida, a transmissão caiu.

Evablue - O chamado das águas. Volume 1Onde histórias criam vida. Descubra agora