"Da forma que vejo, toda vida é uma pilha de coisas boas e ruins." — Doctor Who
Chovia forte lá fora, em contrariedade à tal premissa, o interior do Décimo Sétimo Batalhão de Nova Brasília encontrava-se imerso no mais profundo dos silêncios, de fato, a delegacia estava tão silenciosa que quem estivesse em seu interior seria capaz de ouvir os próprios batimentos cardíacos; bem como os batimentos cardíacos de seus companheiros.
Nunca, em toda a história do departamento, o silêncio os havia tomado de tal forma. Contudo, não culpemos-os por se privarem de burburinhos e comentários que de nada acrescentariam ao caso, não culpemos-os por se encontrarem imersos no mais profundo dos limbos, ou por estarem incrédulos devido às notícias que acabaram de sair nos jornais mais importantes do país: Clarissa Teige cometera suicídio.
A reportagem feita em primeira mão para a Rede Nova Era de Televisão, mostrava, com detalhes em demasia, o corpo da jovem garota jazendo sem vida sobre uma poça lamacenta.
"Isso não é caso de polícia" — comentou um dos repórteres de uma rede menor — "está claro em demasia que se trata de um suicídio."
Tolo. — Foi exatamente isso que Capitão Sava gritou para sua televisão — Não há como afirmar que não se trata de um homicídio e, caso se trate de um, certamente as provas que não foram levadas pela chuva se encontram corrompidas. Maldita imprensa metida a sabe tudo!
Agente Sava adentra o batalhão com uma carranca estagnada em seu rosto anguloso, certamente está a amaldiçoar seu pai mentalmente por tirar-lhe da cama tão cedo. Sava, o filho, não o pai; sempre foi seletivo com seus casos; optava sempre pelo melhor e o mesmo pode ser dito para seus parceiros.
Parceiros bons e casos bons trazem boa fama junto de si; não preciso dizer o quão chocado ele ficou quando o pai comentou que uma detetive consultora — essa merda sequer existe? — seria sua nova parceira.
Ele mal se recuperou da perda de Anthony e já está sendo obrigado à treinar outra parceira, parceira a qual ele nem teve a oportunidade de escolher. Isso não pode lhe soar mais injusto. Sendo sincero, isso o soa como o mais completo desastre prestes a acometer sua vida. E não, eu não estou exagerando ao dizê-lo, o jovem agente realmente possui uma veia dramática.
Não muito longe dali, a jovem detetive adentrava o ônibus de coloração avermelhada, no intuito de rumar até o seu mais novo emprego, emprego para o qual foi muito bem recomendada. Não mentirei ao dizer que a garota se surpreendeu quando seu telefone tocou exatamente às seis e cinquenta e seis da manhã com uma proposta de emprego no melhor batalhão da cidade, batalhão o qual tem mais casos resolvidos do que qualquer outro.
Ela sempre soube que era capaz de grandes feitos, sempre teve ciência de que todo seu sacrifício, esforço e talento — porque sim, precisa-se de talento para ser um bom detetive, nem tudo se aplica apenas em teoria — seriam-lhe de grande ajuda.
Trilhou o seu caminho até o fundo do ônibus e nem ao menos deu-se ao trabalho de sentar; ao invés disso ajeitou a mochila de coloração negra em suas costas e empurrou os óculos de armação dourada um pouco mais para trás, de forma que este voltasse a se encaixar perfeitamente em seu nariz delicado, sua mão livre passou a segurar a barra, no intuito de proteger-se de uma eventual queda.
Delicada.
Esta certamente seria uma ótima palavra para descrever a jovem detetive, tudo nela — ou ao menos quase tudo — grita fragilidade, doçura e delicadeza; embora as pessoas que a conheçam saibam perfeitamente que de frágil a garota alourada não tem nada, tampouco de delicada e de doce. Ågot sempre foi obstinada, forte e possuidora de um humor tão ácido quanto o mais azedo dos limões, suas feições de garota doce não passam de um reles disfarce.
Ainda na delegacia, Sava — o pai — conversava com Sava — o filho sobre sua nova parceira.
— Ela foi muito bem indicada. — O mais velho dentre os dois repetiu pelo que aprontou ser a milionésima vez em dez minutos — Sei que ainda está se recuperando da perda do agente MacTyler, contudo, se sonha em chegar onde eu cheguei tem de se cercar de pessoas tão competentes quanto você. — Sua fala foi concluída com um aperto no ombro direito de seu primogênito, em uma forma silenciosa de dizer que o assunto se encerrou ali e que não havia nada que o outro pudesse dizer que o fizesse mudar de ideia
O mais novo suspira cansado, tem plena ciência de que discutir com o patriarca não levará à lugar algum, tendo em vista que este raramente — muito raramente mesmo — dá o braço a torcer e, para sua infelicidade, o mais velho já chegou à uma conclusão definitiva sobre a contratação da tal detetive.
Inferno! — O rapaz alto em demasia pragueja em sua mente enquanto roga aos céus para que a garota seja um completo desastre em seu serviço
Não que ele almeje isso com todo o âmago de seu ser, não que ele lhe queira o mal, contudo, seria uma surpresa bem vinda ver seu pai tendo de engolir todo o orgulho e admitir que errou.
O ônibus parou no ponto em frente ao batalhão e uma garota trajando um enorme sobretudo bege desceu dele, caminhando com uma lentidão torturante para dentro do local. Todos observavam curiosos através da enorme porta de vidro, ela certamente aparentava ser jovem em demasia para ter se formado em alguma instituição superior, de fato; a garota aparentava, no máximo, estar cursando o ensino médio.
— Acho que desceu no ponto errado. — Foi um dos agentes mais velhos que ousou pronunciar tais palavras
Um olhar incisivo fixou-se nele, a expressão da garota encontrava-se ainda mais séria do que antes e seus braços cruzaram-se sobre seus peitos ao mesmo passo em que uma de suas sobrancelhas se ergueu; em um claro ato de divertimento.
— Sou Sætre, Ågot Sætre e sou a nova detetive consultora designada à vocês.
Alguém ainda lê isso aqui?
Demorei mil anos pra atualizar, eu sei. Porém prometo atualizar ao menos uma vez a cada duas semanas a partir de agora.
Tia Bia ama muito o cês.
Não esqueçam da estrelinha marota, caso tenham gostado do capítulo!
Kissus da tia Bia!
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O caso Teige por Ågot Sætre [PAUSADA]
Mystère / ThrillerA morte da filha mais nova de um diplomata norueguês vira uma cidade brasileira futurista de ponta cabeça. Um assassino tão astuto quanto Jack o Estripador e uma detetive tão inteligente e mirabolante quando Sherlock Holmes travam uma batalha na qu...