Expectation • jjk+pjm

First

Expectativa;
É ver você chegando perto. É sentir tua respiração rente ao meu pescoço. É sentir teu toque. A vibração que percorre meu corpo toda vez que você está comigo. É saber que você sempre vai me surpreender, simplesmente por ser você.

  Quando alguém me pergunta sobre minha história, – o que não acontece com certa frequência, para ser honesto – muitas coisas se passam pela minha cabeça. O mesmo acontece quando pedem para eu me descrever. "Me fale sobre você," eles dizem.  A verdade é que eu ainda não consegui definir exatamente a minha história, ou quem sou eu. Existe muita informação dentro de mim e na minha vida, e eu ainda não consegui colocá-las em ordem. Acredito que a vida seja melhor assim, sem algo definido, que pode ser mudado a qualquer momento.

Direcionando meu olhar para a janela que está em frente a minha mesa de estudos, em meu quarto, consigo enxergar as cores do outono, cores vazias e frias, que por coincidência – ou não – combinam com o meu humor atual. As folhas que suavemente vão ao chão, o céu cinzento e a brisa razoavelmente mais forte que o normal, me deixam mais reflexivo e desesperançoso. Nos últimos dias eu venho pensado com mais frequência sobre o futuro, sobre como mais uma etapa da minha vida já está perto de seu fim. Vim para esta cidade quando pequeno, e desde sempre, me permiti apenas sonhar limitadamente, afinal, esse é o destino de todo mundo daqui: estudar na mesma escola por toda a sua vida, fazer um curso, ou pular essa parte, e trabalhar. Até morrer.

   Apesar desse local "aconchegante" ter me acolhido sempre muito bem, e do fato de minha família e amigos viverem aqui, eu sempre senti um vazio. Talvez a falta de sonhos, ou de amor. Não a falta de um amor fraterno, mas a falta de um amor que já li em tantos livros, um amor ardente que ao mesmo tempo é tão doce. O problema é que eu nunca me apaixonei... Ok. Uma vez. Foi virtualmente e não acredito que isso conte, foi um web amor que durou no máximo 2 semanas. Eu gostaria de me apaixonar de verdade, sentir as borboletas que todos dizem sentir no estômago. Dizem que é como enxergar o mundo de outra maneira, com cor. E talvez essa fosse a explicação para mais um outono tão cinza. A ausência do amor.

   Após mais uma de minhas reflexões, levantei-me e fui em direção ao meu armário. Ahá, infelizmente não foi dessa vez que sai de dentro dele. Peguei o meu uniforme e fui me arrumar, teria que ir para o colégio em alguns instantes. Eu e meu grupo de amigos estávamos ensaiando uma coreografia para a nossa performance para o "show de talentos", e eu, como líder e dançarino principal do grupo, não poderia estar ausente.

   Assim que coloquei meus pés para fora de casa, meu cachorro veio até mim e começou a pular em direção às minhas pernas, como se pedisse por colo.

— Desce Fiote, eu vou me atrasar. — Eu disse com voz de bebê e acariciando as orelhas dele.

Você deve estar se perguntando, "que porra de nome é esse?" e a resposta é: nunca desrespeite o nome mais incrível já dado para um cachorro. Basicamente, é filhote, sem lh. O nome surgiu aleatoriamente durante uma piada interna/conversa entre mim e minha mãe.
— Mãe, que nome a gente vai dar para o fiotinho?

— Fiotinho? — e então minha mãe simplesmente explodiu em risadas. Uma explosão que durou aproximadamente 10 minutos.

— Fiote mãe,  filhote. Filhote, fiote. Entendeu? — e então a crise de risadas se desencadeou novamente.

E foi assim que surgiu o nome Fiote. Respect.

   Terminei de tirar os pêlos deixados em minha calça e abri o portão. Pelo clima frio da estação, as coisas normalmente ficam mais geladas e com o portão não foi diferente. Senti um leve choque ao encostar minha mão no objeto um pouco enferrujado, que no momento estava tão gélido. Coloquei os fones de ouvido e a playlist com músicas mais tristes que eu tinha, eu precisava sentir a vibe por completa.  O vento frio batia contra o meu rosto e eu podia sentir a parte central dele começar a ressecar e enrijecer, e eu podia apostar que a ponta de meu nariz e minhas bochechas cheinhas estavam vermelhas. Meus cabelos mantinham-se intactos pelo gorro do moletom, e minhas mãos estavam tão frias quanto meu rosto.