Capítulo 5

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Cristina


Eu me levanto do sofá num pulo. Achei que fosse tirar apenas um cochilo e acabei pegando no sono. Olho para o celular e vejo as horas: são duas e quinze da tarde; preciso tomar um banho correndo para não me atrasar.

Hoje é domingo, e todos os domingos às quinze horas eu tomo café com meu avô, é a nossa tradição há anos.

Essa semana passou como um borrão, e quando pisquei os olhos, já era final de semana. Ontem eu estava exausta do trabalho e passei o dia maratonando séries em casa. André passou a tarde jogando bola com os amigos então eu só o vi a noite. Assistimos a alguns filmes juntos, mas sem muita interação. Esse tem sido o resumo dos meus dias em casa com ele.

Corro para o chuveiro e tomo um banho rápido. Visto uma calça jeans, camiseta e sapatilhas, pois sempre uso algo mais confortável nos encontros com meu avô.

Penteio os cabelos e escovo os dentes. Passo um batom e pego minha bolsa com a chave do carro de cima da mesa.

Hoje estou sozinha em casa, para variar, mas não preciso me preocupar em avisar ao André para onde estou indo; ele já sabe do meu compromisso semanal com meu avô. Algumas vezes ele vai comigo, mas sempre prefiro ir sozinha, gosto de aproveitar meus momentos de avô e neta.

Tranco a porta do apartamento e vou esperar pelo elevador, que se abre para mim após alguns segundos. Desço até a garagem e sigo em direção ao meu carro que está sozinho na vaga, pois hoje é um daqueles dias em que o André aproveita para sair de moto com seus amigos.

Saio da garagem de ré e abro o portão pelo controle remoto. Olho novamente para o relógio e vejo que ainda tenho tempo; gasto cerca de vinte minutos para chegar ao meu destino. Paro na padaria que tem na esquina da minha rua rapidamente, só para buscar um tareco, que é uma espécie de biscoito de trigo, não sei explicar muito bem, só sei que vovô adora, e como lá é difícil encontrar, sempre levo para ele quando vou visitá-lo.

Volto para o carro e sigo pela estrada. Ligo o som baixinho e está tocando Guns n' Roses; ouvir essa banda faz com que eu me lembre do dia que eu conheci o André e isso me faz sorrir.

O lar que meu avô mora fica um pouco afastado da cidade, mas entenda uma coisa: aquilo lá não é um asilo! Eu bem queria morar em um lugar como aquele.

Ele mora em um lar especializado para idosos, ou "casa de repouso" como alguns dizem.

Ele ficou viúvo há quinze anos e por muito tempo morou sozinho, mas com o tempo e a idade avançando, vimos que ele precisava de acompanhamento em tempo integral. Faz cinco anos que ele mora lá, e por incrível que pareça, essa decisão foi tomada por ele; ele preferiu ir para lá do que para a casa de algum dos meus tios. Esse senhorzinho detesta incomodar as pessoas, e como sua aposentadoria gorda de militar lhe permite esse conforto, ele se instalou por lá.

Apesar da falta que ele sente da minha avó, sinto que ele é feliz. Tem várias atividades para passar o seu tempo e amigos para conversar; isso faz com que ele se sinta menos solitário, e para nós é um alívio saber que ele está sendo bem assistido.

Ele costuma receber visitas frequentes da família. Meu tio mais velho vem visitá-lo semanalmente como eu, mas às quintas-feiras. Os outros que não moram na cidade, visitam sempre que podem. Os netos também aparecem vez ou outra, mas a única que vai com tanta frequência sou eu e sei o quanto ele fica grato por isso.

Viro a esquina e percebo que já estou chegando quando vejo a placa indicando com uma seta: Casa São Lucas.

Paro o carro na portaria e cumprimento "seu" Eustáquio, que já me conhece. Ele me saúda com um: "Boa tarde Cristina", e já vai abrindo a cancela para eu entrar. Vou passando pela estrada arborizada e viro à esquerda para o estacionamento. Escolho uma vaga com sombra e desço do carro, indo em direção à recepção.

De volta para mim [EM DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora