Capítulo 8

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Cristina

Ando de um lado para o outro no apartamento aguardando ansiosamente para saber qual vai ser a desculpa dessa vez. Eu não sei se sinto raiva ou mágoa, mas eu sei que hoje está mais forte do que eu. Hoje ele conseguiu me ferir de verdade, pois era um dia muito importante para mim.

Eu estava rodeada de clientes, parceiros e amigos; pessoas importantes na minha vida comemorando um grande passo na minha carreira, menos o meu marido. Menos a droga do meu marido.

As pessoas me perguntavam por ele e eu não sabia nem o que responder, qual desculpa dar. No meu íntimo, eu queria gritar ou chorar: foi péssimo. Sei que meu casamento não anda muito bem, mas hoje só se comprovou a indiferença do André comigo, e isso doeu. Doeu demais.

Estou começando a suar de nervoso quando ouço o barulho da chave entrando na fechadura e a maçaneta girando. E então vejo a imagem de quem eu menos queria ver agora.

André entra em casa com um semblante despreocupado e passa por mim me cumprimentando como se nada tivesse acontecido, o que só faz o meu sangue talhar.

— Sério?! Você não tem nada a me dizer? — Pergunto com a voz áspera e os braços cruzados.

Ele se vira para mim arqueando a sobrancelha esquerda.

— Do que você está falando?

Juro que tenho vontade de voar no pescoço dele agora, mas me contenho. Respiro e tento manter a calma.

— Você não tinha um compromisso comigo hoje?

Sua expressão fica um pouco confusa e logo seu semblante muda, como se tivesse tido um estalo.

— Ah, foi mal. Eu tive que ir ao fórum resolver um problema de emergência e acabou não dando tempo de passar lá hoje.

— E não podia mandar uma mensagem avisando? Ia matar você? Eu estava te esperando. As pessoas não paravam de perguntar por você e eu não sabia nem qual desculpa dar.

— Não tinha que inventar desculpa, eu estava trabalhando e ponto final. Não consegui sair, na próxima eu vou.

— Que próxima? Acha mesmo que vai ter próxima vez? Você sabe o quanto trabalhei duro naquela reforma e como eu estava sonhando com esse dia. Mas ok, eu nunca sou prioridade para você.

— Ah, para de show Cris, até parece. Você sabe que eu te apoiei nessa reforma.

— Se estiver falando em dinheiro, obrigada, mas não preciso de você. Vou te devolver cada centavo que me deu. Eu queria o seu apoio moral, e isso, pelo visto, é impossível né?

— O que mais você quer de mim, Cristina? — Ele abre os braços, seu tom de voz sobe e percebo que ele está ficando nervoso.

— Eu só queria o seu apoio, André. O apoio do meu marido. Você não fez questão nenhuma de participar da realização do meu sonho. Você me prometeu que iria. Eu só queria um marido que cumprisse com suas promessas e estivesse do meu lado. — Cuspi as palavras, quase engasgando com minha aspereza.

— Você não é obrigada a ficar casada comigo. Se eu não sou o marido que você quer, tudo bem. Vou embora.

Meus olhos se arregalam e sinto como se tivesse tomado um soco no estômago: por essa eu não esperava.

— Eu não estou falando disso André... — E antes que eu termine a frase, o vejo pegando as chaves da moto junto com a jaqueta e indo em direção à porta.

— Aonde você pensa que vai? Ainda não terminamos a nossa conversa. — Pergunto incrédula por ele estar indo embora no meio de uma discussão.

Ele vira para trás e me lança um olhar frio, que faz me faz tomar outro soco no estômago.

— Vou dar uma volta. Não tenho mais nada para falar com você. — E bate a porta com tanta força que eu dou um pulo involuntário.

Eu desabo e grito, grito alto. Não estou nem aí se os vizinhos vão me ouvir, eu só quero gritar e colocar para fora tudo que está entalado.

Logo os gritos cessam e dão lugar ao choro. Um choro alto e sufocante toma conta de mim e eu tenho dificuldade em respirar.

Lá da rua ouço o barulho do ronco acelerado da sua Harley-Davidson e me sobe uma ira tão grande que tenho vontade de matar alguém. Ódio por ele ter me deixado falando sozinha. Ódio por todas as vezes que ele foi indiferente comigo.

— Por mim, que bata essa moto e se quebre todo! — Me escapa sem que eu perceba e não sinto remorso. O ódio, a mágoa e todos os piores sentimentos tomam conta de mim.

Eu me arrasto para o quarto aos soluços e deito na cama. Olho no relógio e vejo que ainda são oito horas da noite, mas eu preciso dormir. Preciso apagar esse dia infame da minha memória.

Mando uma mensagem para a Flávia:

Acabou. Amanhã converso com você.

Eu me deito de roupa e tudo, nem banho tomo. Estou acabada e nada disso me importa agora. Desligo a internet do celular e o coloco no criado-mudo. Fecho os olhos para tentar relaxar um pouco, mas os acontecimentos de hoje voltam como um turbilhão na minha mente e não consigo controlar minhas lágrimas. Depois de sentir os olhos ardendo de tanto chorar eu adormeço.

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Vocês são lindos, sabiam??

Já passamos de 770 leituras e eu só tenho a agradecer!

Espero que gostem desse capítulo e aguentem firme, pois semana que vem tem mais!

Obrigada por todo carinho!

Ótimo fim de semana!



E ah... Não deixem de conferir a história de duas amigas aqui também no wattpad:

· O Ogro e a Louca – S. G. Fidelis

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· Incomparável Nix – Polli Teixeira

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De volta para mim [EM DEGUSTAÇÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora