Capítulo 1 - A Ira de Obá

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Com o poder de Xangô, Obá e Oxum foram transportadas para uma floresta. Oxum se encontrava pálida, incrédula com o que ocorrera. Jamais imaginaria que seu plano pudesse virar contra ela mesma. Já Obá estava possuída pela ira, e decidira vingar-se pela traição da qual fora vítima.

– Oxum, traidora, agora saberá porque sou temida nos quatro cantos do mundo! – gritou.

Com uma velocidade formidável, Obá partiu para o ataque. Desferiu em sua rival um soco com o punho esquerdo, seguido de outro com a mão direita. Oxum não esboçava reação. Parecia ter se entregado antes mesmo da batalha começar. Obá retirou sua faca de guerra da cintura e colocou na altura do coração da adversária.

– Vamos, implore por sua vida!

Oxum, ao contrário, rendeu-se.

– Mate-me, Obá – pediu. – Não suportarei viver sem Xangô. Mate-me, eu lhe imploro. Já não tenho mais motivos para respirar.

Obá sorriu.

– Não! Eu não lhe matarei, Oxum.

– Por que? Está querendo me ensinar bondade, Obá? – ironizou.

– Bondade? Bondade seria matá-la! Acha mesmo que realizarei seu desejo, depois de tudo o que me fez? Ao contrário! Deixá-la com vida será o seu castigo e a minha vingança! Condeno-lhe a viver da mesma forma da qual eu fui condenada por você: sem amor.

– Não, Obá! Não faça isso! Mate-me, eu lhe imploro! – chorava.

Obá deixou sua rival no chão. Sangrando, mas viva. Ela também sangrava. Seu coração havia sido partido. Seu amor havia lhe exilado. As lágrimas também caíam em seu rosto. Sentia que jamais voltaria a encontrar Xangô. Aprender sobre o amor? Se o que sentia por ele não fosse amor, então ela realmente não tinha ideia do significado de tal sentimento.

Caminhando enquanto sofria, a distração impediu-a de ver uma jovem correndo em sua direção. A humana, também perdida em seus próprios pensamentos, trombou diretamente com a orixá. O forte encontro fez com que ambas fossem ao chão.

– Perdão, senhora!

– Sabe quem sou eu, humana? – esbravejou Obá. – Mais um descuido como esse e eu lhe mato!

A jovem não pareceu amedrontada.

– Acha que estou mentindo? – gritou a orixá, retirando a faca de sua cintura.

– Não duvido, senhora. Apenas não é possível ameaçar a vida de alguém que já esta prestes a morrer – respondeu.

– Como assim?

– Estou indo ao encontro de minha morte.

– Da morte? – indagou Obá.

– Sim. É o único jeito de salvar meu povo do monstro que nos atormenta há séculos. Rezei muito para que os orixás me dessem outra alternativa, mas nenhum me respondeu. Acho que eles não se importam comigo.

Obá riu com a ironia.

– Pois, então, acaba de encontrar uma que pode se importar. Eu sou Obá, deusa da guerra e do poder. Em que posso lhe ajudar?

A humana, espantada, deu dois passos para trás, atordoada por ter uma divindade bem a sua frente.

– Graças a Olorun! – ajoelhou-se a humana, beijando os pés de Obá. – Meu nome é Etana. Por favor, salve a mim e ao meu povo, eu lhe imploro!

– Então, conte-me o que lhe aflige. Que monstro tão terrível é esse?

– Contarei! E espero que você possa nos ajudar, ó grande Obá!

Os Deuses Não Sabem AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora