Capítulo 4 - De volta para Oyó

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Obá voltava para o reino de Oyó. Nada naquele lugar parecia ter mudado. Ela, entretanto, sentia-se diferente. Sua energia estava brilhante, sua pupila mais dilatada e sua boca em forma de sorriso. Seria essa a sensação da completude?

Ela avistou Xangô, seu marido, antes mesmo dele avistá-la. Ele estava acompanhado não apenas por Iansã, mas também por outras duas orixás. Sua luz intensa, porém, não passou despercebida por muito tempo.

- Obá, minha esposa, é você? Está tão radiante!

- Sou eu mesma, Xangô - sorriu.

- Vejo que conseguiu a mudança que eu tanto desejava! Ninguém pode ser tão radiante se não tiver conhecido o verdadeiro significado do amor.

- Sim! Agora conheço o verdadeiro significado do amor, Xangô.

O orixá estava maravilhado. Nunca vira Obá tão bonita quanto agora. Entretanto, uma outra luz, quase tão forte quanto a de Obá, parecia surgir no horizonte.

- Quem é este outro ser divino? - questionou-se o orixá.

- Não me reconhece, Xangô?

O outro ser de luz era Oxum, a outra esposa banida.

- Oxum? - disse Xangô, maravilhado. - Como está esplêndida! Vejo que conheceu, enfim, o significado da bondade!

- Sim, conheci. Graças à Obá. Apesar de todo o mal que eu fiz, ela me perdoou e me permitiu vir para cá com ela. Foi Obá quem me mostrou o verdadeiro significado da bondade.

- Isso é maravilhoso! - deleitou-se Xangô.

- Após aprender sobre o amor, descobri também o quanto cada vida vale a pena e o quanto perdoar é importante - explicou Obá. - E, com isso, Oxum e eu deixamos nossas diferenças de lado.

Não havia nada que Xangô desejasse mais que a volta de suas duas esposas. E elas haviam regressado mais resplandecentes do que nunca.

- Vocês são bem vindas de volta ao reino de Oyó, minhas amadas orixás! Venham dar um abraço em Iansã e também em minhas duas novas esposas, Egunitá e Nanã.

As duas novas esposas cumprimentaram-nas cordialmente. Já Iansã correu ao encontro das regressas.

- Vocês estão radiantes! - elogiou Iansã. - Que bom que voltaram, minhas queridas! Estava com muita saudade de suas companhias!

Obá e Oxum se entreolharam.

- Na verdade, não voltamos em definitivo, minha amiga - disse Obá.

- Não? - surpreendeu-se Xangô.

- Não - respondeu Oxum.

O orixá não entendia o que acontecia.

- Por que não querem ficar em nossa companhia? - questionou ele.

- Quando nos baniu daqui - falou Obá -, você disse que eu só poderia voltar quando entendesse o significado de amor. No início, confesso, senti muita raiva de você, Xangô. Agora, porém, sei que tinha razão. Eu realmente não sabia o que era amor.

- Da mesma forma - prosseguiu Oxum -, você disse que eu só poderia voltar para cá quando entendesse o que significava a bondade. Apesar de ficar desolada por conta do banimento, você também tinha razão sobre mim. Eu não sabia o que era bondade.

Xangô continuava sem entender.

- Se eu estava correto, por que não permanecerão aqui comigo?

Obá se aproximou do marido com doçura e, ao mesmo tempo, firmeza.

- Porque ao entendermos o que é o amor e a bondade, entendemos também que você, Xangô, não foi bondoso e nem amoroso ao nos exilar para uma terra distante, largando-nos no sofrimento, com o risco de matar-nos uma à outra.

O orixá não acreditava no que ouvia.

- Quer dizer que vocês não me amam mais?

- É claro que amamos! - respondeu Oxum.

- Mas agora que conhecemos o significado de amor, amamos, primeiramente, a nós mesmas, e não aceitaremos nada menos do que reciprocidade - completou Obá.

Xangô, deus do fogo, raio e trovões, jamais imaginou que pudesse sofrer tamanho revés.

- Então vocês vieram aqui apenas para esfregar isso na minha cara? - questionou ele, já com a cabeça baixa.

- Não, meu querido. Viemos aqui por dois motivos - disse Oxum.

- Primeiro, para comunicar que voltaremos, sim, para cá. Mas com uma condição - falou Obá.

- Por Olorun! Qual é essa condição? - questionou Xangô, aturdido diante de tantas revelações.

- Pediremos a você a mesma coisa que nos foi solicitada. Voltaremos para cá quando conseguir compreender o verdadeiro significado de amor e bondade - explicou Obá. - Só assim saberemos que você nos merece novamente. Até lá, estará banido de nossa convivência.

Antes que Xangô pudesse protestar diante de tamanha ousadia, Oxum prosseguiu:

- O segundo motivo é para convidar suas outras três esposas a se juntarem a nós. Temos a intenção de andar pelo mundo por um bom tempo, a fim de conhecer e aprender mais coisas com os humanos e outros seres divinos. A fim de nos tornarmos seres melhores. Dessa forma, se elas quiserem, é só nos acompanharem! - completou, sorrindo.

Obá e Oxum deram as costas para seu marido e caminharam, juntas, em busca de suas próprias aventuras.

- Sentirei falta de Xangô, mas acho que tomamos a melhor decisão - comentou Oxum.

- Eu não tenho dúvidas, minha amiga! Agora seremos como rios percorrendo esse mundo atrás de nossa própria jornada - afirmou Obá.

As antigas rivais deram as mãos e o brilho das duas se intensificou ainda mais.

- Ei, esperem por nós! - gritou Iansã.

Ao olharem para trás, Obá e Oxum avistaram as três outras esposas de Xangô se aproximando. Elas haviam aceitado o convite.

- Será que Xangô aprenderá um dia o que é amor e bondade? - questionou Oxum.

- Não sei, Oxum. Mas, por experiência própria, sei que até os deuses podem aprender a amar, e Xangô terá uma eternidade inteira para isso - disse Obá, sorrindo.

FIM

Os Deuses Não Sabem AmarOnde histórias criam vida. Descubra agora