Capítulo 2

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A rua 15 faz uma encruzalhada com a avenida Brandon Meyer e a rua 32. Eu odiava passar por ali, não pela encruzalhada, mas pelo local em si.
O edifício North homer's abriga uma porção de universitários idiotas, entorpecidos e bêbados.
O pequeno prédio de tijolos, número 775, esconde mais uma porção de vagabundos em série.
Há música ruim por toda a parte e bares com nomes escrotos que jazem abertos, as vinte e quatro horas do dia. Rine até fez uma piada envolvendo o bar do "Fish" no caminho.
Mas eu precisava passar por ali para chegar em casa. Eu deveria ter passado mais uma vez, mas eu estava cansado do odor do álcool e das vozes embriagadas e Rine, que dessa vez me acompanhava, fala para entrarmos em outra rua.
Entramos, mal me lembro qual foi, talvez a 13 ou 29. Estávamos tão distraídos, que nem notamos a confusão logo a frente.
Um revólver fora arrancado das mãos da mulher, o homem à apontou pra qualquer parte, a mulher não se importava, se jogou contra o homem e sobre o revólver..., ambos caíram, a arma tilintou contra o asfalto.
Posso jurar que a minha vida passou diante dos meus olhos, maltrapilha e lenta.
Rine gritava e estancava o sangue com sua camisa, eu adorava os seios pequenos da Rine, parecia uma visão do paraíso e acho que isso que me deixou entorpecido.
Os paramédicos sussuravam meu nome enquanto eu ainda permanecia sobre o pavimento, Rine entrelaçou nossas mãos.
As sirenes das viaturas e da ambulância gritavam loucamente e demasiadamente.

A arma fora apreendida.

O homem foi preso.

A mulher voltou pra casa.

A Rine gritou

E eu morri.

Acho que Rine se culpa por eu ter morrido e talvez, seja isso que eu vim consertar.

X

Rine finalmente acorda, olho para ela e a mesma arregala os pequenos olhos acinzentados. Sério isso? Pensei que a gente já tinha passado dessa fase Rine.
- Não foi um sonho?- Ela sussura.
- Não, eu realmente tô aqui.
- Não pode ser, você morreu, você tá ali ó -Ela aponta para o vaso azul com as minhas cinzas -É lá que deveria estar!-Ela começa falando baixo e vai aumentando o tom de voz gradualmente.
- Olha...-
- Olha você porra, você é um fantasma? Não, isso é uma alucinação porquê você morreu, então eu tô projetando isso porque sinto sua falta e isso é só coisa da minha cabeça! - Ela fala andando por todo o quarto, a calça de moletom e a blusa com a estampa de um donut recheado, deixava ela com um ar infantil.
- Quer um chá de camomila? - Pergunto arqueando a sobrancelha e ela joga um despertador em mim, infelizmente Rine tinha uma ótima mira.
- Eu te odeio - E ela começa a chorar.
- Rine, vem cá - Vou até ela - Eu voltei por você, idiota. Eu não vou embora tão cedo - ela solta uma risada nasalada e concorda.
- Sua mãe tá subindo, não sei se ela consegue me ver, então, qualquer coisa eu tô no banheiro.
- Como é que vo..- A mãe dela abre a porta.
- Falando sozinha, Catherine? - Tia Carla fala e eu tenho certeza que a Rine revirou os olhos.
- O que foi, Carla?
- Só queria saber se você tá bem.
- Por quê eu não estaria?
- Hoje é dia 12 filha.
Rine não fala nada e eu lembro do que significa, hoje eu completaria 18 anos.
Vocês podem até pensar que eu sou meio convencido, que penso que tudo em torno da Catherine gira ao redor de mim, mas não é bem assim, a gente se conhece a nove fudidos anos, estávamos acostumados um com outro e éramos inseparáveis. De repente eu morro e o mundo de Catherine dá um chacoalhão, tínhamos feito planos para depois do colégio, depois da faculdade,enfim, o que eu quero dizer com isso é que eu fazia parte do planejamento dela e ela do meu, estaríamos juntos até a morte. Eu iria morrer com câncer de pulmão por causa dos cigarros e ela ia morrer com alguma doença sexualmente transmissível, acontece que nem tudo é como a gente quer.
- Acho que eu ouvi o Henrique chorando, vai lá.
Logo a tia sai do quarto e a Rine me olha.
- Eu senti tanto a sua falta
- também senti a sua.
Tento mudar de assunto pois, eu conheço bem ela, ela ia querer que eu prometesse que não iria mais embora, o problema é que...eu ia.

[X]

Catherine estava se arrumando, tia Val vivia obrigando ela ir a igreja, só que a Rine não era o tipo de pessoa que você consegue simplesmente obrigar a fazer algo, mas dessa vez ela disse que sentia necessidade de ir.
Catherine prendia o cabelo azul de forma desgrenhada, haviam pontas azuis para todos os lados saindo daquela cascata que ela chama de rabo de cavalo.
E eu daria tudo para habitar lá.
A saia longa ia se ajustando ao seu corpo sem muitas curvas e dava um ar mais adulto, a blusa cinza realçava uma das coisas que eu mais gostava no corpo da Rine, os seios.
Catherine era uma garota alta comparado as meninas daqui e eu amava isso.
Na verdade, eu amava ela.
Mas Rine era bonita demais pra mim, esperta demais pra mim, popular demais pra mim, legal demais, amiga demais e perfeita demais pra mim, e isso definitivamente não era pra mim.
Eu estou acostumado a ser o garoto escondido pelos cantos.Rine talvez fosse a única que me procurava, mas isso só provava que ninguém me esperava.
Mas eu realmente não me importava, eu gostava de sermos só eu e ela.
- A gente vai sair depois- ela afirma enquanto troca o piercing que tinha nos lábios.
- Pra onde?
O celular dela toca
- Tô indo, você ainda vai estar aqui quando eu voltar, certo?- Ela pergunta meio receosa.
- Acha que vai se livrar de mim fácil assim?- ela  ri e me mostra o dedo do meio.
- Tô indo, é bom estar aqui quando eu chegar.
- Sim senhora- faço uma continência.
E ela vai embora rindo.
E agora eu não sabia o que fazer, eu podia deixar pra Rine pensar que eu iria realmente iria ficar aqui ou ir logo preparando ela.
E acreditem, essa não é uma decisão nada fácil

[X]

05/11/2018

The dark blueOnde histórias criam vida. Descubra agora