Narração de Elizabeth Cooper
Terminei de organizar os jornais em uma pilha alta e coloquei-os em cima de uma bancada do lado da escadaria principal do colégio. Meus olhos ardiam de sono e me sentia acabada tanto fisica quanto emocionalmente, mas, precisava continuar seguindo em frente como se nada tivesse acontecido além do que as pessoas sabiam.
Fitei a minha imagem no vidro espelhado da sala do diretor e vi como minha fachada estava perfeitamente alinhada - os olhos talvez estivessem um tanto quanto nublados - com rabo de cavalo e tudo. Somente a boa e velha Betty de sempre - mesmo que para mim agora essa imagem fosse uma estranha conhecida - que me deixava confusa e desconfortavel dentro de sua pele.
- Quando foi que você teve tempo para fazer isso?
Verônica apareceu na minha frente com um exemplar do Blue&Gold em mãos, pisquei os olhos duas vezes rompendo aquele transe estranho comigo mesma.
- Passei a noite em claro. - Respondi limpando resquícios de delineador das minhas palpebras. - Não consegui dormir nada essa noite.
- Eu também não.
Ela hesitou por dois segundos, comprimindo os lábios cheios de gloss e então falou suavemente:
- Betty você se mostrou para mim de uma forma que ninguém jamais tinha feito, mas... - Verônica procurou meu olhar com seus olhos, ela parecia sinceramente preocupada quando prosseguiu. - Podemos falar sobre o que aconteceu?
Não. Não podemos. Eu te ajudei, agora cuide da sua vida. Ponto final.
Meus pensamentos egoístas me trairam, mas, eu estava começando a gostar de verdade dela e não podia descontar minha frustação em Verônica.
- Como assim? - Perguntei inocente e confusa.
- A peruca e aquela roupa. - Sussurrou. - Até onde você iria?
Franzi as sobrancelhas com descrença.
- Ele mereceu.
- Você chamou ele de Jason. - Pontuou séria. - Você chamou a si mesma de Polly.
- Não. - Desmenti saindo pelo corredor afim de me esquivar dessas perguntas. - Não chamei não.
- Fez sim. - Afirmou correndo em seus sapatos de salto para andar ao meu lado. - Foi como o médico e o monstro você virou outra pessoa.
- Tudo bem. - Resmunguei quando chegamos ao meu armario. - Eu me lembro de ter mandado ele pedir desculpas pela Polly, mas, não de ter chamado ele de Jason.
- Mas, porque?
Coloquei minha mochila nas costas e virei para encarar minha mais nova melhor amiga.
- Porque eu cansei de caras iguais ao Chuck e o Jason fazendo coisas horríveis com meninas como eu, você e a Polly. - Bati a porta do armario e completei: - Tá bom?
Verônica cruzou os braços embaixo do busto, porém, não falou mais nada. Tampouco me seguiu quando comecei a andar pelo corredor em direção a saída do colégio, cansada demais para assistir mais uma aula sequer. Passei arrastando os pés pelo estacionamento - não queria admitir para mim mesma que estava procurando a moto de Jughead - tentando demorar o máximo possivel na rua antes de ir para casa, contudo, acabei levando menos de dez minutos até a rua - a moto de Jughead não estava lá.
Passei na farmacia de manipulação para pegar minhas novas pílulas contraceptivas e quando estava saindo comecei a sentir uma estranha sensação de estar sendo seguida. Entrei em uma rua paralela - um beco entre a farmacia e um restaurante italiano - acelerando o passo assim que fiz a curva, meu coração martelava no peito.
Ouvi passos ressoarem atrás de mim, abracei minha mochila junto ao corpo e comecei a correr o mais rápido que meus pés podiam em direção a calçada ensolarada no final do beco, não tinha coragem nenhuma de olhar para trás e muito menos de parar de correr como uma maluca pela rua afora até parar dentro de sorveteria com as mãos nos joelhos, arfante e descabelada.
- Tudo bem aí?
Uma senhora simpática que estava atrás do balcão servindo frutas em um copo de sorvete de iorgute perguntou confusa.
- Tudo. - Respirei fundo antes de me indireitar e pedir: - Será que posso usar seu banheiro?
Ela hesitou por cinco segundos antes de piscar os olhos três vezes rapidamente e sorrir sem jeito.
- Claro, claro. - Apontou a direção com o pegador de sorvete. - É lá trás.
Segui a passos rapidos para a parte de trás e assim que cheguei no banheiro desmoronei. Meu coração batia descompassado, apertado, minha respiração estava ofegante e pesada, minhas mãos tremiam sem parar. Senti minha visão embaçar e os azulejos do banheiro girarem a minha volta, a bile ácida subiu por minha garganta queimando-a.
Cambaleei até o box mais próximo e me debrucei sobre ele colocando todo o suco gastrico para fora. Vomitei até não ter mais nada para sair quando a ânsia me subia pela garganta, exausta e envergonha sentei no piso frio e chorei.
- Betty? Aconteceu alguma coisa?
Cheryl estava de pé na minha frente - quase tão perfeita como sempre - os olhos opacos e verdadeiramente tristes.
- Não. - Respondi passando as mãos rapidamente sobre os olhos para afastar as lágrimas aculumadas. - Não, está tudo bem Cheryl.
- Sério? - Ela perguntou irônica e tombou a cabeça de lado. - Tem um pouquinho de vômito aí na gola da camisa.
Ela andou até a pia e molhou um chumaço de papel higiênico, me entregando em seguida.
- Se precisar conversar... - Ela levantou e deu meio sorriso. - Eu sei como é viver uma vida de mentira.
Abri a boca para falar alguma coisa, - agradecer talvez - mas, minhas palavras se perderam completamente quando nossos celulares apitaram ao mesmo tempo. Automaticamente olhei para a tela do celular e depois para Cheryl, os olhos dela refletiam a mesma coisa que os meus - podia apostar - era evidente que nossas mensagens tinham sido iguais.
"Tenho uma missão para vocês, vadias."
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Serpentes
Fanfiction"Era uma vez, numa pequena cidade às margens da floresta, uma garota de olhos azuis e louros cabelos cacheados, tão graciosa quanto valiosa. Mas, ela não usava um capuz vermelho e também não tinha medo de um lobo mau. Ela tinha medo de uma serpent...