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P.O.V – Haydée Pamplona

Os latidos começaram e isso despertou o meu sono profundo, só então reparei que eles tinham um motivo. A campainha estava tocando. E como Esmeralda era muito agitada, qualquer barulho fazia com que seus latidos ecoassem pela casa, denunciando que algo estava acontecendo ou algo errado aconteceu.

Levanto-me da cama e olho para o relógio, constatando que ainda eram seis e meia da manhã. Visto meu roupão e calço minhas sandálias, ainda de olhos fechados vou caminhando até a sala.

- Calma Mel, já vou atender a porta. – Resmungo, bocejando em seguida. – Quem será uma hora dessas?

E só então, ela late como se eu fosse entender a sua resposta. Mas, pela sua agitação, imagino quem seja.

- Bom dia, Sra. Haydée.

- Motta, já faz anos que nos conhecemos e eu já pedi milhões de vezes para você esquecer as formalidades. – Digo, passando a mão em meus cabelos, com absoluta certeza estavam bagunçados, denunciando o meu estado de sono.

- E eu ainda continuo preferindo você como patroa. – Ele fala rindo e isso me faz lembrar tudo o que aconteceu.

Glauco Pamplona. Meu ex-marido. Aquele que me traiu com a Lurdinha. E hoje estava casado com a mesma. Foram cinco anos de separação, cinco anos que não suportava ficar no mesmo ambiente que ele e cortamos os laços de amizade que restaram. Sofri, chorei, mas segui em frente, tentando superar a tudo.

Ficamos casados por muitos anos, durante eles, tivemos uma filha. Raíssa Pamplona. Ela tinha vinte e dois anos, quando assinamos os papéis do divórcio. E a partir disso, dividimos a atenção de nossa filha e a guarda da nossa cachorrinha Esmeralda, que foi adotada depois que nos separamos, como presente da nossa filha para nós dois. Uma desculpa para nos "aproximar" depois da separação, e para não sentirmos saudades dela por estar longe da gente.

- Tempos difíceis, Motta? – Pergunto, segurando a risada.

- Você sabe minha opinião sobre a Srta. Lurdinha e o casamento com o Sr. Glauco. – Ele responde dando de ombros e Esmeralda já está pulando em cima dele. – Vim buscar essa princesa para uma corrida com o patrão.

- Acho tão ridículo essas atitudes do Glauco, parece que não superou nosso divórcio e não pode ao menos vim buscar nossa filha para passear. – Digo revirando os olhos e entrando para pegar as coisas da Mel. Mas antes, vi o fiel empregado do meu ex-marido engolir em seco e reprimir um sorriso.

- Trago ela de volta daqui a dois dias, como o combinado. – Ele informa e eu aceno com a cabeça concordando. Logo ele se vai com a única que me restou de companhia, depois que Raissa foi trilhar sua vida.

Era sempre assim, Mel passava dois dias ou três com Glauco e os outros comigo. Dividimos como podíamos através de Motta, nosso pombo correio. Desde que nos separamos, evitávamos estar no mesmo ambiente. Porém, depois de cinco anos eu consegui me acostumar com essa situação entre nós dois; afinal, tínhamos amigos em comum, e eles sempre tinham um motivo para inventar uma festa ou um jantar comemorativo.

E isso acaba de me lembrar que hoje tería mais uma festa na famosa mansão dos Villa Nova. Antes, eu evitava comparecer pois sabia que ele estaria lá. Óbvio que estaria, é o melhor amigo dele. Porém, todos ainda me consideravam muito e faziam questão da minha presença, principalmente Irene. E como eu imaginava, não poderia escapar de mais uma festa.

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No horário marcado, eu já estava pronta e perfumada. Fui dirigindo até a casa do casal Villa Nova que estava completando mais um aniversário de casamento. Irene e Laerte continuavam firmes, depois de tantos anos casados. Ao estacionar o carro, deixo a chave com o manobrista e vou entrando no grande casarão bem iluminado.

- Haydée... – escuto a voz de Irene e ao me virar, sou recebida por um abraço apertado. – Pensei que não viesse.

- Eu iria perder seu aniversário de casamento? Que tipo de amiga você pensa que eu sou...? – Pergunto.

- A melhor de todas, tenho certeza. – Ela sorriu, agarrando meu braço e me levando entre os convidados até o seu marido que estava conversando com outro homem. E eu sabia muito bem quem era, o reconheceria de longe. – Laerte, olha quem chegou!

- Haydée, esbanjando beleza como sempre. – Ele me cumprimenta, com dois beijos na bochecha. – Fico feliz que tenha vindo.

- Ah, estava sozinha em casa... – dou de ombros, com um sorriso tímido. – E não podia deixar de prestigiar a festa dos meus amigos.

- Boa noite, Haydée.

- Como vai, Glauco? – Pergunto, por educação.

- Melhor agora... – sinto o seu intenso olhar, acompanhado daquele sorriso charmoso.

- Que ótimo! Espero que a Mel esteja bem... – tento mudar de assunto.

- Não se preocupe, cuido muito bem da nossa filha. – Glauco responde, levantando a taça em minha direção.

- Por falar em filha, como está a Raíssa? – Irene pergunta.

- Muito empolgada com a faculdade no exterior. – Comento, completamente empolgada. – Conversamos todos os dias para matar a saudade.

- Graças a Deus, ela encontrou algo que gosta de fazer e está se dedicando. – Ele responde, tomando um gole do champanhe. Lhe encaro, quase lhe torrando em pedacinhos com os olhos.

- Finalmente encontrou alguém que a ama de verdade, e estão indo muito bem. Espero que tudo dê certo. Confesso que morro de saudades, mas o que importa é a felicidade dela, aonde quer que esteja.

- Está certíssima. – Laerte concorda.

- Parabéns pelos tantos anos de casamento, eu até perdi a conta. – Brinco, brindando com os dois. – Para onde vão viajar dessa vez?

- Havaí. – Irene responde, completamente empolgada.

- Ah, o Havaí. Lembra das nossas férias com a Raíssa? Foram inesquecíveis, cansávamos a pequena o dia todo para que pudéssemos aproveitar a noite. – Arregalo os olhos, lhe encarando completamente chocada. E quando iria retrucar, chega quem eu menos queria encontrar.

- Haydée? Nossa, você está ficando cada dia mais... experiente. – Lurdinha fala, dando uma pausa para pensar na sua escolha de palavras. Respiro fundo, contando até três. – Já escondeu suas peças de valor, Irene? Cuidado.

- Lurdinha. – Glauco a repreende.

- Tudo bem, já estou acostumada. – Digo, fazendo-o poupar minha paciência. – Experiência é uma virtude, meu bem. Coisa que você não terá. E sim, envelheço a cada dia que passa, se era isso que iria dizer. E garanto, você chegará na minha idade também. Só cuidado, o brinquedinho do Glauco pode parar de funcionar a qualquer momento, afinal velhice chega para todos, até para os homens.

Vejo Irene com a boca aberta, Laerte com os olhos arregalados e Glauco me encarando com um sorriso preso. Conheço muito bem, ele queria soltar uma alta gargalhada. E antes que Lurdinha dissesse algo...

- Com licença... – digo, me virando para sair.

- Não esquece de buscar aquela pulguenta, não aguento mais um dia com aquela sarnenta na minha casa. – Fala, num tom mais elevado. O sangue sobe para os meus olhos, borbulhando durante o caminho.

- Lurdinha, não fale assim da Esmeralda. – Glauco reclama. Me aproximo dela, jogando todo o champanhe em seus cabelos.

- Respeite a minha filha... – sussurro ameaçadoramente.

- Glauco, você não vai fazer nada? – Escuto ela perguntar raivosa, enquanto me distancio.

- Você mereceu. Com licença. – Viro minha cabeça um pouco para a esquerda, a fim de ver a reação dele. Glauco havia deixado sua mulher sozinha, completamente molhada do champanhe que derrubei. Era isso mesmo, ou eu estava vendo miragem? 

Um (Des)Casamento Complicado  #HAYCOOnde histórias criam vida. Descubra agora