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P.O.V – Haydée Pamplona

- O que acabou de acontecer ali? – Irene se aproximou, completamente chocada.

- Eu não consegui me controlar. Ela pode falar o que for de mim, eu não me importo. Mas, não se atreva a falar sobre as minhas meninas. – Respondo, ainda bufando de raiva.

- Você viu? Glauco a ignorou completamente. Esse casamento não vai durar muito tempo... – comenta, com um sorriso surpreso.

- Eu não tenho nada a ver com isso, quero que os dois se explodam. – Sentencio, pegando mais uma taça de champanhe, tomando o liquido de uma só vez.

- Haydée, você não engana ninguém. Mesmo com todos esses anos, ainda continua amando o Glauco, apesar de toda decepção que sofreu, ele sempre vai ser o amor da sua vida.

- Chega desse assunto, estou seguindo minha vida. – Encerro, pegando outra taça. Irene levanta as mãos em rendição e se afasta, indo até o seu marido e os outros convidados.

Respiro fundo e pego outra taça, que estava sendo servido pelos vários garçons. Vou caminhando em direção ao jardim iluminado da casa, sentindo o ar puro invadir meus pulmões. Fecho os olhos e penso em todos os problemas que tive de enfrentar.

Os vários anos de terapia por conta da minha doença, que agora eu estava conseguindo controlar. Cleptomania era uma doença rara e que eu demorei muito a aceitar. Logo depois, veio a descoberta da traição e a separação. Foram tempos difíceis, no qual sofri.

Cinco anos, tentando matar o amor por esse homem, dentro de mim. Mas, parecia impossível. Glauco continuava em meu coração, mesmo com todas as decepções que passei. Ele foi o meu primeiro amor, é o pai das minhas filhas e foi meu companheiro por muito tempo. Eu nunca havia amado ninguém, como foi com ele.

- Não acha que está bebendo demais? – Acabo me assustando e derrubo a taça na grama.

- O que você tem a ver com isso, Glauco? – Pergunto, fuzilando com o olhar.

- Não quero que você passe mal ou acabe tendo uma ressaca amanhã. – Ele responde, dando aquele sorriso no qual eu sempre me derretia.

- Glauco... você não devia estar cuidando da sua esposa? – Pergunto, gaguejando por conta do nervosismo que senti, com a delicadeza de suas palavras e a preocupação que demonstrava.

- Eu estou... – ele diz, na maior cara de pau. – Desculpe, eu ainda sinto que devo proteger você.

- Eu não preciso da sua proteção, sei me cuidar. – Respondo, transparecendo minha raiva.

- Sabe mesmo? Bebendo tanto assim, não vai conseguir nem voltar para casa dirigindo.

- Por que você não vai atrás da sua esposa e me deixa em paz? Por falar nela, se acontecer alguma coisa com a Mel, eu mato a Lurdinha. – Ameaço, apontando em sua direção.

- Acredite, se algo acontecer a nossa menina, eu sou o primeiro a matá-la. Lurdinha não chega perto de Esmeralda. – Ele garante, fazendo-me ficar mais tranquila.

- Ótimo, melhor assim. – Concluo, me virando para voltar a festa. Mas, ele segura meu braço.

- Me desculpe, mas eu preciso comentar o quanto você está linda. – Encaro seus olhos azuis, vendo o quanto estavam radiantes. – Sua beleza é algo raro hoje em dia...

- Glauco, qual o seu problema? – Questiono, me soltando de seus braços.

- Amorzinho? – Escuto a voz de Lurdinha e reviro meus olhos, respirando fundo em seguida.

- Sua mulher chegou, creio que seja melhor comentar sobre a beleza dela...

Saio no exato momento em que Lurdinha se aproxima, apresso meus passos, pois não quero acabar perdendo a paciência novamente. Se ela falasse mais alguma coisa, eu era capaz de arrancar cada fio do seu cabelo, um por um. Entrego a taça que caiu na grama, a um garçom e o mesmo me oferece outra, porém eu nego. Glauco tinha razão, eu já bebi demais e ainda voltaria dirigindo para casa.

Procuro por Irene e Laerte, encontrando os dois abraçados. Era um casal muito bonito e apaixonado, já que estavam a mais de quinze anos juntos. Vou me aproximando para me despedir, já estava cansada e desejava mais do que tudo a minha cama. Pena que Esmeralda não estaria comigo, para me fazer companhia.

- Queridos, a festa está maravilhosa. Mas, eu preciso ir.

- Já? Está cedo... – Laerte questiona.

- Se eu ficar mais um minuto, alguém sairá direto para o IML. – Brinco, fazendo ele gargalhar.

- Ela está impossível, a cada dia que passa. – Ele confidencia, me fazendo rir. – Glauco já está perdendo a paciência.

- Bom para ele, me trocou por ela... agora aguente. – Respondo, sem dar muita importância.

- Ele ainda é louco por você. – Laerte ri, vendo minha expressão de surpresa.

- O que você está querendo me dizer...?

- Nada. – Ele levanta os ombros, fugindo do assunto.

- Obrigada por ter vindo e cuidado na volta para casa, você bebeu um pouco a mais. – Irene me abraça apertado.

- Parabéns novamente, que o casamento de vocês dure enquanto o amor existir.

- Se for dessa forma, eu conheço outro casamento que está pausado, porém o amor continua persistindo. – Laerte brinca, me fazendo revirar os olhos.

- Seu marido está impossível. Boa noite. – Me despeço pela última vez e vou saindo da casa.

O trânsito estava calmo, considerando que já passava das dez horas da noite. Fui dirigindo devagar, enquanto escutava a música que tocava na rádio e sentia o vento bater em meu rosto. Logo as palavras de Laerte surgiram em minha cabeça. O que ele quis dizer com aquilo? Glauco tinha feito a escolha dele, escolheu me trair com uma menina que tem idade para ser sua filha.

Sei que nosso casamento não estava em bons ventos, que minha doença afetou grande parte das minhas atitudes; mas, isso não dava o direito de ele fazer o que fez. Ficar com a melhor amiga de nossa filha, que era quase trinta anos mais jovem que ele. E o que me surpreendeu ainda mais, ter casado com ela dois meses depois do nosso divórcio.

Eu realmente não entendia e preferia não entender. Estava muito bem sem o Glauco, seguindo minha nova vida. Não precisava de homem nenhum para me fazer feliz. Tinha minhas filhas, meus negócios, minhas amigas. Estava vivendo um dia de cada vez, e estava indo muito bem. Mas, que foi estranho o jeito que ele me tratou hoje, e como tratou Lurdinha depois da pequena discussão... isso foi. 

Um (Des)Casamento Complicado  #HAYCOOnde histórias criam vida. Descubra agora