Eu o vejo brincando na salinha.
Ele está sozinho, como normamente era o caso. Ele estava muito mais crescido desde a última vez que o vi. Ele ainda não notou na minha presença, o seu carrossel de brincar era o foco da sua completa atenção.
Silenciosamente eu me aproximo dele. Cuidadosamente eu me aninho ao seu lado e gentilmente lhe dou um beijo na sua bochecha, fazendo ele notar que não estava mais sozinho.
"Oi" eu falo sorrindo. Eu adorava quando podia visitá-lo, mas me entristecia sempre que eu vinha, pois eu sabia que teria que o deixar outra vez.
"Porque demorou tanto tempo a voltar?" ele pergunta triste
"Eu já lhe expliquei meu amor, não posso." eu falo sofrendo com a ideia de o abandonar outra vez, ele era ainda muito pequeno para perceber.
"Ele me obriga a chamar ele de pai, mas não gosta de mim. Vou fugir desta casa, não gosto dela." ele fala sério.
"Tenta entender, um pouquinho mais de paciência." eu lhe peço
"Promete que vai sempre me ver? Promete?" ele pergunta esperançoso
"Prometo" eu juro "Eu prometo."
Eu coloco minha mão no meu bolso e de lá tiro uma rosa branca que eu trouxe especialmente para ele.
"Assim que essa flor perder o perfume, eu volto." eu lhe conto.
André pega na flor e me abraça forte.
"Não vá embora mamãe. Não me deixe sozinho com ele. Ele é mau para mim." ele pede
"Eu tenho que ir meu amor, mas eu vou voltar. E Gustavo tem muita raiva no coração, não lhe dê muito caso. Se precisar de alguma coisa fale para Benedita, ela cuidará de você ok?" eu lhe aconselho
Ele acena com a cabeça. O relógio começa a tocar, me relembrando que já estava mais do que na hora de eu partir.
"Lembra meu amor, quando a rosa perder seu perfume, eu voltarei." eu beijo sua testa "Eu amo você."
"Também te amo mamãe" ele responde
Eu me levanto e saio da salinha, mas não antes de dar uma última olhada para meu filho e lhe acenar adeus.
Eu desapareço da casa e me transporto para o mundo astral, onde todos os espíritos residiam antes de continuarem sua viagem para outras vidas.
"Júlia" eu ouço alguém chamar.
"Meu senhor" eu o cumprimento.
"Como foi sua visita com seu filho?" ele pergunta pacificamente
"Foi boa, mas ao mesmo tempo muito dolorosa. Me custa muito ver meu filho sozinho, especialmente sabendo que o ego de Gustavo Bruno o faz incapaz de cuidar dele da maneira correta." eu lhe respondo sinceramente. Eu nunca era capaz de mentir para ele.
"Júlia vários casos semelhantes ao seu já passaram por aqui. Mas seu caso foi especial. O amor de você e Danilo era um amor raro, puro, um amor de verdadeiras almas gémeas."
"Porque me está dizendo isso?" eu pergunto
"A hora de Danilo chegou Júlia." ele me conta
"Danilo está morrendo? Mas...mas ainda é muito cedo, ele é muito jovem para morrer."
"E você era ainda mais jovem que ele quando morreu" ele me relembra "O seu tempo chegou sim, Júlia. A sua morte foi muito forte para Danilo. Após a sua morte ele foi preso e condenado a viver o resto de sua vida na prisão pelo seu assassinato."