Gustavo viveu uma vida cheia de arrependimento.Ele jamais esqueceu o que aconteceu naquele dia fatídico, na mesma casa onde viveu durante tantos anos após o sucedido. Ele nunca quis que Júlia morresse, mas o ódio que tinha sobre Danilo, homem esse que considerou amigo durante tanto tempo, foi mais forte que o cegou completamente sobre as consequências das suas ações.
Júlia morreu e Danilo foi preso. Mas ele não sentiu como se tivesse ganho. Sim, ele ganhou a casa e as terras do Coronel, mas ele estava sozinho. Seu irmão Otávio morreu, a mulher com quem queria casar morreu, deixando para trás um filho. André Luís. Filho esse que agora era orfão, e cheio de culpa ele decidiu criar esse filho como se fosse dele. Ele era um último elo que Gustavo tinha para com Júlia, mesmo que sempre que este olhava para ele se lembrava do ódio que tinha para com Danilo. Ele que tirou ela dele. Ela que deveria ter sido esposa dele, e André seu filho.
Dora ficou do seu lado. Ela contestou a decisão de Gustavo criar André, mas ele foi firme na sua decisão e ela enfim se calou sobre o assunto. O casal se casou após uns anos. O que eles tinham entre eles não era amor. Era luxúria. Desejo. Ela amava o seu dinheiro. Suas posses. Amava ter a vida que deveria ter sido de Júlia, viver a vida que sempre invejou dela. Ela vivia na casa que sempre desejou morar, vestia os vestidos que sempre desejou usar e tinha o prestígio que sempre desejou ter. A única coisa que ela odiava era ter de ver o filho de Júlia a viver no mesmo teto que ela.
Ele era um lembrete que mesmo morta, Júlia sempre era melhor que ela. Dora nunca teve filhos, sempre que engravidava perdia o bebé antes que nascesse. Até nisso Júlia foi melhor, e isso não ajudou Dora a se livrar do ódio que tinha sobre o menino, pois ele lhe lembrava como sempre seria inferior à sua mãe.
Gustavo viveu a sua vida rodeado de fantasmas. Seu irmão Otávio lhe aparecia nos sonhos, suas palavras eram cruéis, seu olhar vingativo. Às vezes sonhava com Júlia, mas esses sonhos nunca eram melhores. Nos seus sonhos ela lhe culpava pela sua morte, por ter deixado seu filho sem mãe, sem pai, e quando Danilo morreu ele lhe atormentou também. Seus dias eram passados sendo atormentado pelos fantasmas do seu passado.
Quando André era grande o suficiente e foi estudar para a América, Gustavo se mudou para Portugal tentando fugir dos fantasmas que o perseguiam, talvez aí encontra-se a paz que tanto procurava.
Ele morreu não muito tempo tempo depois. O coração, o médico falou. Durante a vida Gustavo Bruno não encontrou absolvição pelos seus crimes, por isso nunca imaginou que o ia encontrar na morte.
Pouco antes de morrer, o Marquês se encontrava sentado no seu escritório, um copo de licor na sua mão. Seus olhos estavam fechados.
"Marquês de Torga" uma mulher falou chamando sua atenção "Sua hora chegou"
O Marquês abre seus olhos e se assusta com o que vê.
"Júlia?" ele perguntou chocado. Júlia Castelo, assassinada há décadas atrás encontrava-se na sua sala. Exatamente igual ao dia em que morreu. "Júlia? Como isso é possível? Você está morta. Eu vi você morrer."
"É verdade." Júlia concorda com um sorriso amável na sua cara
"Eu não queria...me perdoa...seu filho...André... eu cuidei de seu filho...eu lhe dei a melhor educação, tudo o que o dinheiro podia comprar." ele faça tentando se defender por seus atos terríveis
"Você lhe deu tudo menos amor Gustavo." ela fala "Você ainda tem muito que aprender, que evoluir. Mas nesta vida já é tarde de mais. Sua hora chegou."
"Minha hora?" Gustavo pergunta confuso "Para morrer? Eu estou morto não é mesmo? Por isso consigo ver você. Você veio me levar para o inferno?"
"Não" ela nega se movendo para perto de mim. "Para onde nós vamos, será um lugar bastante diferente. Será um lugar de evolução, de aprendizagem. Você fez muito mal nesta vida, chantajou, matou, e tudo isso deixa uma marca na sua alma. Mas, também fez algum bem, cuidou de meu filho, mesmo quando não era sua obrigação, lhe deu tudo o que você estava disposto a dar, e ajudou a Maristela e seu filho. Salvou suas vidas de meu pai. Todas as suas ações carregam um peso na sua alma, essa é quem decide onde você merece estar."
"Eu tentei...eu tentei me redimir" Gustavo fala chorando "Eu fiz tudo...."
"Eu sei" Júlia fala "E é por isso que você vai ter outra oportunidade de evoluir, de aprender com os seus erros, para que você assim possa finalmente estar em paz."
"E você?" Gustavo questiona "Você está em paz?"
Júlia não responde, ela apenas sorri tristemente para mim.
"Há alguém que lhe deseja ver" ela fala. Gustavo não consegue pensar em ninguém que lhe queira ver. Seu irmão seria o primeiro a lhe mandar para o inferno. Danilo provavelmente se juntaria a ele. Mas quem aparece no seu escritório lhe tira o folgo todo.
"Maristela?" ele pergunta incrédulo. A mulher que ele sempre pensou no fundo da sua mente. A mulher que uma parte de si sempre desejou, se encontrava à sua frente, tão linda como na última vez que a vi. Talvez mesmo a mulher que alguma vez se via a amar.
"Olá Gustavo" Maristela fala com um sorriso lindo na cara "Já faz um tempo desde que nos vimos"
"Mas...você tá morta?"
"Não faz muito tempo, mas me conformei. Meu filho já é adulto, sabe se virar bem sem mim." ela responde "
"Eu procurei por você em Paris, mas ninguém sabia de você."
"Eu viajei durante um tempo, tinha medo que o Coronel nos viesse procurar. Mas eu estou aqui agora." ela informa Gustavo "Você está pronto?"
"Pronto? Pronto para quê?"
"Para nossa próxima aventura claro" Maristela responde pegando na minha mão. "Vamos?"
"Vamos" Gustavo responde e pela primeira vez não receia os fantasmas à sua volta, mas sim os acolhe.
Aqui está meus queridos leitores! Obrigada @VeronicaPatrona pela sugestão para este capítulo. Espero que esteja dentro daquilo que sugeriste e que tenhas gostado.
Este capítulo é um bocadinho mais pequenino, mas espero que todos vocês tenham gostado, e que não se esqueçam de Votar e Comentar para eu ir postando mais One Shots desta novela maravilhosa!
Beijos!