Yeolda

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Chanyeol lembra, como se tivesse ocorrido no dia anterior, da primeira vez que colocou os olhos naquele que na época era um dos muitos calouros daquele ano na escola. Há mais ou menos dois anos, no primeiro almoço do ano letivo. Era sempre o mesmo plano de fundo, eles não tinham a mesma idade e, portanto, não eram colegas de classe. Chanyeol era um ano mais velho e, agora, estava no último ano do colegial. Mas na época ainda estava no segundo e ele havia entrado no primeiro, como todos os outros calouros.

Cabelos castanho-escuro desgrenhados com uma franja grande demais, lhe cobrindo a visão quando escorregava na frente dos óculos por algum movimento repentino. Ah, falando em óculos... óculos enormes. Igualmente grandes demais para o rosto pequeno e delicado com seus olhinhos quase sempre espremidos pela rinite visível. Chanyeol sabia que ele tinha rinite porque o nariz estava sempre vermelho, igualzinho acontecia com a sua irmã.

E o uniforme. É claro que ele não usava o uniforme do seu tamanho. Usava o moletom da escola três vezes maior, dando a impressão de que ele era mais pequeninho do que realmente era. As mangas ultrapassando os punhos com tanta frequência que Chanyeol achava que nunca havia visto as mãos dele. Talvez apenas os dedos, quando raramente segurava o hashi ou os talheres para comer.

Ele não comia muito, mas tomava muito café. Quando se cruzavam no corredor dos armários, de manhã cedo, ele sempre estava segurando uma garrafa térmica. A sorte de Chanyeol era que os armários dos dois eram quase um ao lado do outro, e num dos muitos dias nos quais seu corpo tencionava ao chegar perto do baixinho, sentiu o cheiro gostoso de café saindo da térmica quando ele deu um grande gole.

Bem, de qualquer forma... a primeira vez que o viu foi no refeitório, no primeiro dia de aula daquele segundo ano para Chanyeol. Sentado em uma mesa sozinho mergulhado em suas anotações. Era engraçado, ele enfiava o rosto no caderno para escrever. De que serviam aqueles óculos enormes então?

Suas anotações pareciam sempre tão importantes que a comida ficava em segundo plano. Na verdade o mundo inteiro ficava em segundo plano, era como se ele tivesse a verdade sobre o universo nas mãos e tudo ao seu redor se tornava irrelevante.

Era um típico nerd, ou seja, fazia parte de um estereótipo oposto ao de Chanyeol. Não que ele gostasse de estereótipos, mas eles existiam, de qualquer forma. E quando você faz parte do time de basquete da escola e é o pivô popular, acaba se conformando com os padrões. Não concordava com eles, apenas se conformava.

Passou a observar o pequeninho depois do primeiro dia. Era como um passatempo secreto na hora do almoço. Precisava administrar as conversas na sua mesa lotada de amigos e conhecidos com os olhares de relance para a mesa perto da janela, isolada do resto dos estudantes.

Com o passar das semanas, Chanyeol percebeu que ele não tinha amigos. Não havia feito nenhum, caso contrário estariam dividindo a mesa. Mas era difícil dizer se a solidão dele era uma escolha pessoal ou não.

Só que depois de uns dois meses o observando de longe, sem ter coragem de dar um jeito de se aproximar, foi possível notar que ele era o novo alvo dos valentões de seu ano. Cada ano tinha um grupo de valentões, era normal, e os valentões do ano de Chanyeol nem ousavam se meter com a mesa dos populares. Ou seja, nunca precisou lidar com eles.

Mas o pequeninho precisava lidar com os seus, que de vez em quando até se juntavam com os do ano de Chanyeol para importuná-lo. Parecia ser divertido para eles passar pela mesa do pequeno e lhe dar um tapa na cabeça ou arrancar o caderno de suas mãos. Era óbvio que eles nem deveriam entender o que estava escrito naquelas páginas porque eram uns ogros ignorantes, e as orelhas de Chanyeol esquentavam quando ele tinha que assistir aquilo.

Talvez acontecesse mais de uma vez por dia, ele só não presenciava todas as vezes. Mas admirava a forma como o pequeninho lidava com tudo aquilo. Apenas ficava parado, com uma expressão vazia, esperando os brutamontes irracionais lhe deixarem em paz. Por mais que levasse um tapa ou outro, nada era capaz de lhe atingir. Teve uma vez que até arrancaram os óculos de seu rosto, em um dos muitos almoços, e mesmo assim ele se manteve impassível, aguardando que um deles lhe jogasse de volta na cara o que lhe pertencia. A sorte era que ainda não haviam quebrado as lentes. Não que Chanyeol tivesse visto, pelo menos.

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