Julho/ 2018
Cá estou eu, chamando elas. De novo.
- Sara! - Grito pela terceira vez. Nada. De novo. Ainda não sei porquê me dou o trabalho de vir aqui.
Chego perto do portão e olho pela gretinha. Olho tudo até onde me é possível; olho as cortinas, a porta, e o corredorzinho. Nada. Não tem ninguém aqui. Podiam ter me avisado, piruas. Ia me poupar as canelas. Agora tenho que voltar todo esse caminho. Tá que não é tão longe assim, mas sou preguiçosa, fazer o quê?!
Começo a fazer o caminho de volta. Ficar reclamando aqui não vai fazer elas aparecerem.
Chegando perto da mercearia de meu pai, o Mário me chama.
- Laria! - Sorri e começa a fazer sinais para que eu vá até ele.
- Oi, Mário. - Mário é um menino de 13 anos que as vezes brinca comigo. Ele é pequeno e tem cabelos negros.
- Cê' ficou sabendo que tá' vindo um trem pra cá? - Fala naquele seu sotaque da roça. Eu mudei recentemente para cá. É um lugar pequeno com muita gente fofoqueira, mas meus pais são felizes aqui.
- Que trem, menino? - Pergunto não entendendo nada. Sim, além de preguiçosa eu sou bem voada e desinformada.
- O circo! Tá' vindo o circo pra cá. a gente tudo vai lá amanhã. Cê' vai? - Quase pulando ele me fala. Não sei como consegue, ele tá em cima da bicicleta, Deus!
- Eu vou sim! Vai ser legal. - Eu amo o circo, as apresentações, os palhaços, as cores, tudo.
- Tá' certo. Eu vou pra lá com os meninos, que a gente vai jogar bola. Depois 'nois' conversa. - Fala e sai pedalando. Como sempre.
Volto a andar para a mercearia do meu pai. Agora, mais animada.
Não está muito cheia, mas isso não é surpresa para mim, já que nunca está.
- Oi, pai. Cadê a mãe? - Entro e pergunto. Meu pai é alto e tem o cabelo castanho escuro, alguns já estão brancos, mas nada que o incomode.
- Sua mãe tá' lá em casa, saiu daqui agora, quase. - Se vira pra me responder e depois volta a fazer o que estava fazendo. - Cê' ficou sabendo do circo que tá' chegando?
- Mário me falou agorinha. - Respondo enquanto me sento num dos bancos que fica perto do balcão. - Você vai ir? - Meu pai não costuma ir nesses tipos de lugares porque sempre passa raiva. Da última vez que fomos no parque ele ficou bem estressado. Eu tinha ganhado ingressos na escola, os moços que me entregaram disseram que eu não precisaria pagar se levasse. Eu, que sou bem mão-de-vaca peguei logo quatro: pra mim, pra mãe, pra Cássia e pro pai. Cheguei em casa quase explodindo de felicidade e implorando para que me levassem. Meu pedido foi atendido e fomos para o parque. Chegando lá tinha uma fila enorme, e por aí o pai já começou a se irritar pelo simples fato de que a fila não andava nem com reza braba. Quando a gente finalmente chegou na frente, entregamos os ingressos e estávamos prontos para entrar quando o moço que estava lá disse que era dez reais pra cada. Pai ficou muito bravo, mas já que estávamos ali, depois de todo aquele tempo esperando na fila, ele pagou e a gente entrou. Eu me diverti, mas o pai disse que nunca mais ia ir nesses lugares.
- Não sei ainda, mas é provável que não. Sabe que não sou muito fã. - Olha pra mim e sorri.
- Sei sim, pai. - Digo sorrindo. - Mas seria legal se você fosse. Nada nunca acontece nesse lugar, tem que aproveitar quando tem alguma novidade.
- Tá' certo. Talvez eu vá.
- É isso. Vou lá pra casa ver televisão. - Digo levantando e indo em direção a porta. - Tchau, pai.
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Um Amor De Temporada
RomanceLaria sempre apaixonada por circos, nunca se imaginou apaixonada por um cria de circo. O amor floresceu rápido, e as chamas faiscavam e se espelhavam por todos os ângulos. Ignorante os que não enxergam o romance. Fracos de fé os que proibem e j...