Crying in the Rain

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Essa música na capa do capítulo me inspirou a fazer uma das cartas, mais precisamente a de Otávio. Ouçam ela enquanto leem a carta, eu recomendo. Aproveitem.

Luccino acordou em mais um dia no qual Otávio saíra cedo de casa. Depois de se acordar, abriu a janela da sala para ver o tempo. Havia um conjunto de nuvens cinzas, algumas azul escuro, que se encaminhavam para o vale. Ele sabia que isso significava uma tempestade se aproximando. Em outros tempos tais nuvens não afetariam o italiano. Hoje, porém, lhe traziam melancolia. Sensação de vazio. Não gostava mais de chuvas fortes como um dia gostara. Não que um dia tenha realmente gostado, mas também não costumava ficar depressivo quando o tempo fechava.

Pegou uma folha da gaveta de papéis, a pena de galinha que usara na última carta e, num saquinho, derramou um pouco de tinta e saiu. Escreveria a carta na oficina. No caminho tentava pensar em outras coisas que não aquela melancolia. Um dia antes da última grande tempestade ele fora expulso de casa. No dia da tempestade Otávio lhe havia feito a proposta de fugirem, abandonando Luccino sozinho na oficina depois de ele recusar a proposta.

Coincidentemente, sua ordem cronológica de cartas havia chegado até esse ponto. Não queria ter que escrever sobre algo triste, já que o objetivo das cartas eram, basicamente, enfatizar os porquês de eles ainda estarem juntos e para lembrarem outras coisas felizes ou marcantes pelo lado bom. Os auto questionamentos sobre escrever ou não essa carta o acompanharam pelo resto do caminho.

No quartel...

Por conta da ameaça de tempestade, todos os treinamentos tiveram de acontecer o mais antecipadamente possível. Otávio, que havia chegado cedo ao quartel para escrever a carta do dia (que ele talvez sequer completasse), teve de postergar seus planos. Entre treinamentos de tiros, flexões/abdominais e corridas pelo quartel, Otávio pensava em como Luccino passaria o dia. Sabia da sensibilidade do amado quanto a tempestades e, honestamente, ele também sentia algo de ruim com as tempestades. Ele pensava, porém, no dia da chuva de tinta toda vez que o céu se fechava por sobre o vale e esse algo ruim passava, achava ele.

No início da tarde, quando os soldados faziam abdominais diante do quartel, a chuva chegou. Alguns não se afetaram pelas gotas e seguiram os abdominais. Outros pararam na hora e se levantaram para sair. Otávio interrompeu os persistentes e controlou os outros. Com o pelotão sob controle e sob chuva, o major dispensou todos, que prontamente foram para os chuveiros.

Otávio ia para o gabinete e planejava ficar sozinho por uns momentos. Mas seu momento de solidão teve de ser cancelado quando o major cruzou seu caminho com o de Randolfo. Para não fazer desfeita ao amigo, Otávio o convidou para o acompanhar. Foram, então, juntos para o gabinete onde o major fazia o que tinha de mais burocrático enquanto Brandão não voltava. Cada um se sentou de um lado da mesa, Otávio do lado em que ficavam as gavetas e Randolfo do outro lado. Agora que não estava mais comandando os soldados, Otávio estava começando a se entregar a essa tensão: será que havia alguma razão para escrever sobre um dos dias mais tristes de sua vida recente? E se houvesse, será que ele teria alguma força para isso? Tão ocupado estava ele tentando responder a si mesmo (e não conseguindo) que não percebeu que Randolfo lhe chamava a atenção. Acordou depois de tomar um leve tapa no braço.

"O-O-Otávio. Me r-r-responde." falou Randolfo

"É algo bastante interessante. Pode ser útil na situação em que estamos" respondeu Otávio vagamente, sem ao menos saber o que estava respondendo.

"O-O-O que isso t-t-tem a ver com o f-f-fato do coronel estar v-v-voltando?" Perguntou Randolfo confuso diante da resposta completamente sem sentido de seu amigo.

"O coronel tá voltando?!" Perguntou Otávio surpreso e aliviado. Gostava de comandar o quartel, mas se sentia cada dia mais exausto, o que lhe fazia desejar voltar aos tempos de soldado, quando sua única preocupação era não desmaiar durante os exercícios. Além da exaustão que a posição de poder lhe dava, o fato de também não poder contar para ninguém sobre as cartas (já que Randolfo não sabia ainda do relacionamento dele com Luccino) o incomodava mais do que ele demonstrava. Conversar com Mariana sobre isso talvez lhe aliviasse a mente.

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