Sempre Acabo Acreditando

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A manhã que chegara era a mais gelada desde que o inverno começou, o que dificultava o despertar até dos alunos mais matinais, uma vez que o aconchego de suas cobertas atingia Plus Ultra. Izuku voltara tão tarde do treino que só lhe sobrou tempo pra uma espécie de longo cochilo, ao invés de um sono completo. Talvez, justamente por estar tão grogue, quando passara pela sala comunitária antes de subir para seu andar, horas antes, ele não percebeu nem Katsuki estirado no sofá, nem Uraraka, no chão, apoiando braços e cabeça no espaço que sobrara do assento, nas costas do loiro.

 "Eles... chegaram agora?" perguntou o jovem herói.

"É nada! Tão aí desde ontem!" Kirishima havia acabado de descer, e enrolava um grosso cachecol vermelho em volta do pescoço.

Mina, Asui e Denki juntaram-se a eles, observando a dupla completamente capotada, provavelmente mal-dormidos e possivelmente prestes a se atrasarem pra aula.

"Acordamos eles?" perguntou Kamiari.

"Acho que sim, kero~..." respondeu Tsuyu.

"Ok..." concorda Mina. "Quem vai?"

E absolutamente nenhum deles se prontificou. Inclusive, um a um foram checando celular, relógios, luz solar, pegando suas bolsas, enfiando café da manhã nas bocas e saindo dali rapidinho, deixando pra trás os dois colegas adormecidos e Deku.

Depois de uns segundos parado observando, o rapaz saiu e retornou trazendo um segundo cobertor. Uma parte de si preferia despertá-los para que não perdessem a aula, mas não conseguiu se forçar a fazer isso. 

Talvez pudesse passar suas anotações pra eles depois. Apesar de duvidar que Kacchan fosse aceitá-las...

  Cobriu Ochako com cuidado para não perturbar a nenhum dos dois e se foi.   

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Pela primeira vez em muitos e muitos anos, Bakugou despertou sentindo-se muito bem, após uma noite sem sonhos. Ao abrir os olhos, estranhou o teto alto e o encosto do sofá... Ao se sentar, estranhou o bolo de mechas morenas jogadas do lado... Mas o que o rapaz não estranhou foi aquela cara inchada da dona dos cabelos, babando enquanto dormia de um jeito desconfortável, toda torcida no chão ao pé do sofá.

As cenas  esquisitas e emocionalmente carregadas do dia anterior continuaram viajando por sua mente até seu olho cair nos ponteiro do relógio.

Estavam atrasados pra aula.

Seu primeiríssimo impulso foi abrir a boca pra dar um berro indignado, mas se segurou a tempo, cobrindo-a com uma mão quente e calejada. Olhou para Uraraka. Ela certamente dormira mal sentada daquele jeito. O fato de estar roncando tão pesado e ainda ter olheiras do tamanho das do idiota que controla mentes, atestava isso. Por um segundo ele fitou o próprio cobertor, ponderando. 

Então jogou ambos os tecidos pra longe, chacoalhando a menina pra acorda-la.

Por qualquer motivo, as lembranças de vê-la sentada perto de si nos treinos, ou no seu quarto, chorando, rindo, brincando ou falando sério faziam-no sentir-se bem. Apenas bem. Nem melhor ou pior do que outros, mas algo diferente, algo que diferenciava daquele "bom" que vinha depois de se vencer uma competição. Sentia-se simplesmente bem. Pleno. Contente.

Devia ser... porque ele acredita nela.

"Uraraka...! OI! ABRE ESSES OLHOS, MULHER!" e finalmente a morena soltava um resmungo, esfregando o rosto para tirar as mechas de cabelo dali.  "Você vai querer perder quantas aulas droga?? Quem quer ser herói tem que estar de pé com um minuto!!"

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