Capítulo 7

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      A noite já ia alta e todos se encontravam sentados a grande mesa de carvalho no centro da ampla sala de jantar. Adan dormia em seu quarto e Hope sabia que já não podia mais esconder seu passado. Todos ali mereciam saber a verdade sobre ela e sobre os perigos que carregava entranhados em si. O silêncio era quase paupável e só aumentava a angústia e o medo em seu coração. Seth sorriu a encorajando a começar

     - Eu nasci logo depois da grande guerra, pouco antes das mulheres humanas pararem de ter filhos. Quando eu tinha cinco anos a casa em que nos escondíamos foi atacada por demônios, meus pais me esconderam em um buraco no chão e foi assim que eu sobrevivi, eles não tiveram tanta sorte. - remexeu-se desconfortável - Fiquei naquele buraco por muito tempo, sozinha e no escuro, não sei quanto tempo ao certo. Então quando a fome e a sede estavam insuportáveis  Asriel, um anjo da guarda, me encontrou. Ele cuidou de mim, me protegeu e me ensinou tudo o que era preciso para sobreviver, Asriel foi o mais próximo de uma família que eu já tive. - sentiu a voz embargando - Durante o tempo em que cuidou de mim ele nunca me deixou só, nunca tirou os olhos de mim. Asriel dizia que eu era importante para o mundo, que eu tinha uma promessa. Mesmo quando eu me tornei adulta e capaz de me cuidar sozinha, ele não me deixou.

 
      Hope parou de falar quando as lágrimas turvaram-lhe a visão, secou os olhos, respirou fundo e então continuou.

       - Há alguns anos nós fomos emboscados por vários batedores, eles era muitos para nós e fomos capturados. - a voz dela embargou novamente - Eles nos fizeram prisioneiros e nós esperamos por vários dias até que o líder deles chegasse. Asriel me disse que não importava o que acontecesse eu não deveria jamais olhar nos olhos do líder dos demônios , que eu deveria resistir. Eu não entendia o que ele queria dizer mas obedeci. Quando "ele" chegou os demônios se calaram, não havia som nenhum. Ele se aproximou da nossa jaula e levou Asriel sem o mínimo esforço, nem se quer olhou para mim ou mesmo falou comigo. Ele prendeu Asriel em uma cadeira no meio da sala e então o torturou por dias a fio. Asriel não disse uma palavra e "ele" também não, ele não fazia perguntas, ele apenas o torturava sem parecer se cansar.

      Hope sentia a garganta doer pelo esforço de não chorar, aquelas lembranças eram extremamente dolorosas, ela forçou-se a continuar. 

     - Eu estava ali, presa, sem poder fazer nada além de chorar. Depois de todo o tipo de tortura cruel e vil, que eu achei que jamais suportaria, ele arrancou uma das asas de Asriel, e... - escapou um soluço - E eu não pude mais suportar! - disse derrotada. - Eu implorei para que ele tivesse misericórdia, eu gritei para que parasse, eu me ajoelhei e implorei.

      Seth levantou-se de onde estava e foi até uma das janelas, seu rosto estava impassível. Hope continuou. 

     - Assim que eu implorei "ele" veio até mim e me pegou pelo pescoço. Ele olhou no fundo dos meus olhos e então soube tudo o que se passava na minha mente, cada pensamento, cada sentimento, cada memória. Ele não precisou fazer perguntas, ele soube tudo o que queria sem precisar dizer uma palavra. Então sorriu pra mim e disse que seria misericordioso, e... e... - Hope soluçou alto. - Então ele o matou. - disse num fio de voz - A última coisa que vi em Asriel foi o olhar de decepção que ele me lançou, eu jamais esquecerei isso. 

      Os anjos se remexeram desconfortáveis e Daresiel trouxe um copo com água para Hope. Ela bebeu um pouco da água e se sentindo mais calma prosseguiu. 

      - Eles me levaram para uma cela que não tinha janelas, me mantiveram alimentada e até confortável. Eu não sei quanto tempo fiquei ali, tudo que eu sei é que depois daquele dia "ele" passou a atormentar os meus sonhos, eu passei a ter pesadelos terríveis, sempre sendo castigada ou torturada por ele, pessoalmente "ele" nunca me dirigiu mais do que poucas palavras, mas nos meus pesadelos "ele" dizia que tinha planos para mim, que eu o faria invencível, e então me torturava até eu clamar por misericórdia. Eu passei a dormir cada vez menos, tinha medo de sonhar com ele. Estava a beira da loucura quando outro humano foi lançado na minha cela. - respirou fundo - John, o outro humano era John, ele também tinha pesadelos, também tinha perdido alguém importante e nós ficamos amigos. Não havia mais ninguém, não havia outra pessoa para conversar , uma coisa leva a outra e nós nos apaixonamos - deu de ombros, parecendo constrangida. 

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