– Apresente–se para nós. – Diz o homem com um chapéu cinza estúpido
sentado na outra ponta da roda. Todos olham para mim piedosamente,
como se fossem eles próprios sentados no meu lugar. A mulher ao
meu lado não para de tremer a perna.
– Meu nome é Bernardo, tenho 23 anos e sou viciado. Viciado em
tudo de melhor que a vida tem para te oferecer: Sexo e drogas.
– Oi, Bernardo. – Eles respondem em coro. O homem de chapéu prossegue
falando. – Quanto tempo faz que você é usuário de drogas?
– É engraçado quando você resolve assumir este título. Não é porque
você perdeu o medo, ou resolveu não esconder mais quem você é. Na
verdade, é porque todo mundo já sabe quem você é de verdade. Ficou
impossível esconder graças aos dentes amarelados, as olheiras profundas
e a sua falta de discernimento.
Você não escolhe ser um viciado, ou você é ou não. Se você for, acredite
em mim, você sempre vai ser, por mais autocontrole que tenha. Jovens
têm essa mania de achar que estão no controle de tudo.
É uma ilusão idiota!
– O vício é uma doença, Bernardo. Chamada adicção. Diga–nos como
você começou.
– Comecei com a Vodka, aquele amargo horrível, mas seguido de um
calor maravilhoso. A doce liberdade de fazer o que você sentir vontade,
não ter medo e não olhar para trás.
Depois acendi meu primeiro cigarro, não lembro direito como foi, no
entanto passei a comprar maços e fumar com frequência apenas para tirar
pausa do serviço, já que todos os fumantes faziam isso e voltavam só
vinte minutos depois, fazendo o mesmo processo passadas duas horas,
ou às vezes até menos. Lembro do gaúcho, que às vezes chegava a tirar até
2 horas de pausa por dia, apenas para fumar. Já que todos faziam isso, eu
que não ia ser o idiota que não fuma e se mata de trabalhar.
Não adiantava dizer que estava cansado e que precisava respirar um pouco,
ou eu fumava ou dava uma cagada de vinte minutos.
Preferi me tornar tabagista a cagão. Cigarro é mais social, você fuma, conversa com outras pessoas;
fazer isso dentro de uma cabine, sentado no vaso, pode ser esquisito.
Lembro que a primeira vez que eu fumei maconha foi em uma festa, o
garoto que enrolou era a cara do Kurt Cobain. Não que isso faça diferença,
não acho que eu tenha sido influenciado por este fato, mas é curioso mesmo
assim. Enquanto ele enrolava o baseado ele me aconselhava, dizia que eu não
precisava fazer aquilo, me disse dos riscos, também disse que depois que ele
experimentou nunca mais quis parar. A parada é boa mesmo, se não fosse
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A Epifania de Bernardo
ActionA Epifania de Bernardo é um livro para quem busca algo diferente nas narrativas e não foi feito pensado para um público específico, mas ousou na mistura de linguagens, estilos e gêneros. Tendo como referências Frank Miller, Admirável Mundo Novo e N...