Capítulo 1 - Apresentação

4 1 1
                                    


– Apresente–se para nós. – Diz o homem com um chapéu cinza estúpido

sentado na outra ponta da roda. Todos olham para mim piedosamente,

como se fossem eles próprios sentados no meu lugar. A mulher ao

meu lado não para de tremer a perna.

– Meu nome é Bernardo, tenho 23 anos e sou viciado. Viciado em

tudo de melhor que a vida tem para te oferecer: Sexo e drogas.

– Oi, Bernardo. – Eles respondem em coro. O homem de chapéu prossegue

falando. – Quanto tempo faz que você é usuário de drogas?

– É engraçado quando você resolve assumir este título. Não é porque

você perdeu o medo, ou resolveu não esconder mais quem você é. Na

verdade, é porque todo mundo já sabe quem você é de verdade. Ficou

impossível esconder graças aos dentes amarelados, as olheiras profundas

e a sua falta de discernimento.

Você não escolhe ser um viciado, ou você é ou não. Se você for, acredite

em mim, você sempre vai ser, por mais autocontrole que tenha. Jovens

têm essa mania de achar que estão no controle de tudo.

É uma ilusão idiota!

– O vício é uma doença, Bernardo. Chamada adicção. Diga–nos como

você começou.

– Comecei com a Vodka, aquele amargo horrível, mas seguido de um

calor maravilhoso. A doce liberdade de fazer o que você sentir vontade,

não ter medo e não olhar para trás.

Depois acendi meu primeiro cigarro, não lembro direito como foi, no

entanto passei a comprar maços e fumar com frequência apenas para tirar

pausa do serviço, já que todos os fumantes faziam isso e voltavam só

vinte minutos depois, fazendo o mesmo processo passadas duas horas,

ou às vezes até menos. Lembro do gaúcho, que às vezes chegava a tirar até

2 horas de pausa por dia, apenas para fumar. Já que todos faziam isso, eu

que não ia ser o idiota que não fuma e se mata de trabalhar.

Não adiantava dizer que estava cansado e que precisava respirar um pouco,

ou eu fumava ou dava uma cagada de vinte minutos.

Preferi me tornar tabagista a cagão. Cigarro é mais social, você fuma, conversa com outras pessoas;

fazer isso dentro de uma cabine, sentado no vaso, pode ser esquisito.

Lembro que a primeira vez que eu fumei maconha foi em uma festa, o

garoto que enrolou era a cara do Kurt Cobain. Não que isso faça diferença,

não acho que eu tenha sido influenciado por este fato, mas é curioso mesmo

assim. Enquanto ele enrolava o baseado ele me aconselhava, dizia que eu não

precisava fazer aquilo, me disse dos riscos, também disse que depois que ele

experimentou nunca mais quis parar. A parada é boa mesmo, se não fosse

A Epifania de BernardoOnde histórias criam vida. Descubra agora