Capítulo 2 - O Olimpo

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– Bernardo?

Desperto da minha fantasia com a Narcóticos Anônimos, a colega ao

lado que sempre esqueço o nome me chama. Ela aponta com os olhos o

telefone que não para de tocar em minha frente.

– Desculpa, eu estava longe. – Pego o telefone e levo até o ouvido. –

Star TV, no que posso ajudar?

Às vezes imagino que tenho um dom. De viver as coisas sem precisar

vivê–las de fato. Imagino como seria se eu fosse a lugares, conversasse com

pessoas, muitas vezes imagino diálogos inteiros entre mim e outra pessoa e

quando percebo me sinto íntimo. Deve ser a vigésima vez que eu vivencio

uma experiência com a narcóticos esta semana. É melhor continuar vivendo

minha vida normal, do que continuar com todo esse nheim nheim nheim de

largar as drogas. Eu não faço mal a ninguém, exceto a mim.

Tic? Tac! Tic? Tac! Tic? Tac!

Já está quase na hora de sair do meu trabalho, e minha ansiedade é

aparente, não consigo tirar os olhos do relógio, o barulho dos ponteiros

soa em minha cabeça, como um diálogo interminável de duas entidades.

Loucura, eu sei. E ainda nem estou chapado. Ainda.

Hoje é sexta, o que torna meu desespero pra ir embora ainda maior.

Não que eu odeie meu trabalho, mas aqui todos se cumprimentam, mas

ninguém se conhece de verdade. Um dos meus passatempos, além de observar

o relógio, é tentar imaginar o que cada um faz fora dali. O senhor

da limpeza, o gerente metido, a gostosa da secretária...ah, a gostosa da

secretária...como eu adoro imaginar o que ela faz fora daqui.

Meu nome é Bernardo, tenho 22 anos, não espero nada da vida e não

esperem nada de mim. Eu me tornei a marionete que jurei nunca me tornar,

fui dominado pelo sistema capitalista. Fazer o que? A realidade bateu

à minha porta. Não faço faculdade e minha família me detesta. A única

parte interessante é que toco guitarra, e minha banda tem certo glamour

pela cidade. Sou conhecido na periferia, o único lugar que me faz bem.

Pronto! Já deu a hora. Às sete da noite de sexta, é quando meu dia

começa. Dou um salto da cadeira e arrumo minhas coisas o mais rápido

possível. Quase correndo bato meu cartão e saio, pego minha moto e

sumo pra longe desse lugar o mais rápido possível.

Periferia, 19:48, sexta feira

Faltam apenas 12 minutos pra começar o meu show, eu fui o único que

não ensaiou hoje, mas a banda entende o meu lado. Pelo menos eu espero

que sim. Acendo meu cigarro, cumprimento todo mundo e entro no

Olimpo. Entro no camarim, todos já estão me esperando. Minha banda

tem três membros além de mim: Jélly, a vocalista e guitarrista da banda,

A Epifania de BernardoOnde histórias criam vida. Descubra agora