PRÓLOGO

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"O que sabemos é uma gota, o que ignoramos é um oceano".
- Isaac Newton


O bar já estava fechando, olho as poucas pessoas que ficaram até agora saírem com seus amigos e acompanhantes cambaleando até seus veículos, um se apoiando no outro. Todo mundo sabe que dirigir alcoolizado é um crime, mas em uma cidadezinha pequena, quem se importa? Se houver um acidente, fica por isso mesmo. A polícia preguiçosa leva quase meia hora para ir até o local, a ambulância leva mais 1h para garantir que todos morram mesmo, e os corpos vão para a cidade vizinha e depois voltam para um velório cheio de gente falsa, onde as únicas lágrimas verdadeiras são as das mães e, talvez, dos irmãos. Nenhuma conscientização vem depois, todos seguem suas vidas normalmente, após comentarem o caso por uma ou duas semanas.

"O filho de fulano estava na bagaceira, por isso morreu. Gente que apronta demais só termina assim".
"Morreu porque vivia correndo em alta velocidade mais esses vagabundinhos da rua".
"Meus filhos nunca vão fazer isso, eu eduquei eles muito bem. E se fizerem, vão dormir de couro quente ou eu os expulso de casa".

Aquela rotina de cidade pequena, onde nada acontece. E, se acontece, é motivo de comentários na cidade inteira. Onde todo mundo conhece e sabe da vida de todo mundo. É numa cidade assim que eu moro.

Me chamo Cristina Silva.
Nome simples e comum, nada de H ou Y ou dois N's. Sobrenome também comum. Ou seja, sou apenas uma pessoa comum.
Minha idade? 20 anos. Recém saída do Ensino Médio e procurando um rumo para tomar na vida, como muita gente por aí.

Muito velha para ser recém saída do Ensino Médio? Eu fiquei alguns anos sem estudar devido à mudanças de cidade. Coisa que me amargura muito, pois perdi tempos preciosos em que poderia ter usado para terminar os estudos mais cedo.

Estou provavelmente indo em direção a um curso de graduação qualquer para em seguida ser jogada no mercado de trabalho e viver uma vida adulta sem graça e sem expectativas. Mas eu queria mesmo era ser astrônoma.

Eu sou apaixonada por Astronomia. Não Moda, não Direito, não Medicina, nem Arquitetura ou Engenharia... O meu grande amor é a Astronomia.

Com 1,55m de altura e pesando 50kg, não sou nenhuma menina de corpo exuberante, não tenho seios avantajados e nem aquela bunda enorme que fazem os homens correrem atrás. Sou magra, apenas magra. Mas não se engane, eu como igual um pedreiro.

Pele branca, com algumas partes queimadas pelo sol, dos dias em que temos uma amostra grátis do Inferno, aqui no Brasil. Cabelo curto e ruivo de farmácia, na altura do ombro, liso e com franja.

Moro sozinha, em uma kitnet alugada. Morar sozinha é uma benção e ao mesmo tempo uma maldição. A benção é que não tem ninguém para encher o seu saco e nem para reclamar dos seus horários de acordar ou de chegar em casa. A maldição é que você tem que cozinhar e limpar, ou morre de fome em meio à sujeira. Odeio trabalhos domésticos, se não fosse uma necessidade fisiológica e sim uma opção, eu jamais chegaria perto de um fogão para cozinhar.

Termino de comer o espetinho frio que comprei e bebo mais um gole da cerveja quente. Não estou bêbada, mas estou um pouco tonta e a visão meio turva. Só restou eu no bar. Sim, eu adoro uma cervejinha nos fins de semana. Não é só homem que gosta dessas coisas.

- Cristina, já vamos fechar. - Seu Zé grita - Vai pra casa, menina!

Como eu disse, cidade pequena, todo mundo conhece todo mundo. O dono do bar me viu nascer, crescer e virar cliente dele.

Menina dos Olhos de EstrelaOnde histórias criam vida. Descubra agora