CAPÍTULO 4

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Os dias que se seguiram, foram
para Marise suaves, deliciosos. A
descoberta da vida cotidiana da
aldeia enchera—a de entusiasmo,
alegria e confiança. Rapidamente
familiarizara—se com Liete que,
apesar de disfarçar, tomara—se de ternura pela sobrinha que viera
preencher o vazio de sua vida sem
filhos e sem objetivos.
Sentindo—se longe e livre dos
enormes muros de St. Michelle,
Marise procurava gozar o mais
possível da vida campestre,
extasiando—se frente às campinas
magníficas que avistava do alto da
torre da Igreja. Frequentemente
saia a passeio pêlos bosques,
descobrindo feliz a vida dos
pássaros, das borboletas e das
flores.
Ninguém diria, vendo—a rosada
pelo sol a correr pêlos campos,
com os teimosos anéis da sedosa
cabeleira castanha caindo—lhe pela
testa, ouvindo o chasquear do seu
riso alegre e feliz, que Marise já
completara vinte anos.
Frei Antônio habituara—se a
facilidade â presença alegre da
moça que transformou sua vida,
fazendo emergir de seu coração o
amor de pai, até então
desconhecido. A principio, fora
somente sua jovialidade que o
atraíra, mas, depois, conhecendo—
a melhor, aprendeu a admirar sua
lucidez e sua mentalidade adulta.
Marise sempre olhava
firmemente nos olhos das pessoas
com as quais conversava. Captava
rapidamente a simpatia pela
sinceridade e pelo respeito com
que se relacionava com elas. Frei
Antônio admirava particularmente
sua capacidade de conhecer o
íntimo de cada um, sabendo como
conviver com todos de maneira
adequada.
Assim, naqueles trinta dias que
estava residindo ali, Marise havia
conquistado completamente a
confiança e estima de Frei Antônio.
Era com prazer que o velho
sacerdote conversava com ela,
expondo—lhe alguns dos seus
problemas com a paróquia e os
paroquianos, surpreso por ouvir—
lhe sempre opiniões sensatas e
práticas. Algumas vezes chegava
mesmo a esquecer—se que
conversava com uma mulher, além
do mais, jovem.
Certa manhã, Marise levantou—
se não muito cedo como de
costume e preparava—se para sair
quando Liete alvoroçada bateu—lhe
à porta do quarto.
— Marise! Marise, minha filha!
— Entra titia, — e reparando na
fisionomia transtornada de Liete –
O que há? Parece que a casa pegou
fogo!
— Não brinque Marise. Finalmente
ele veio. Veio ver—te!
Marise empalideceu, "Ele"
certamente seria seu pai.
Finalmente! Esperava sempre por
essa visita com um sobressalto no
coração. Desejava e temia ao
mesmo tempo. Por que não viera
antes? Teria receio ou falta ele
estima?
Enfim, o tão desejado e ao
mesmo tempo temido momento
chegara. Enfrentá—lo—ia
serenamente. Procurando
dominar—se, segurou Liete pelos
ombros enquanto dizia:
—Não te preocupes. Saberei como
agir. Diz—lhe, por favor, que
descerei dentro de alguns minutos.
Ao contacto em seus ombros dos
dedos firmes da sobrinha. Liete
recuperou o habitual sangue frio e
recompondo a fisionomia, tomou:
— Direi. Naturalmente sabes como
recebê—lo.
Saiu enquanto Marise procurava
o espelho buscando nele sua imagem excitada e nervosa. Lavou
o rosto em água fria, empoou
ligeiramente. Quanto ao traje,
serviria aquele mesmo. Seu
coração estava aos saltos no peito
debatendo—se entre a curiosidade
o receio. Como seria ele?
Entrementes, Roberto esperava
na sala. Seu pensamento divagava.
Como Marise o receberia? Desde
que ela chegara, desejara vê—la,
mas um sentimento de culpa, mais
forte do que sua vontade, o abatia
impedindo—o de ir até a casa do
padre.
Temia a presença da filha, temia
antes de qualquer coisa as suas
censuras pela atitude que tomara
no passado com referência a Anete
e a ela mesma. Mas, sentia que
fugindo novamente à sua
responsabilidade, retardando o
momento de uma explicação entre
ambos, estaria consolidando a
muralha que a separação erguera
entre eles, criando assim uma
dificuldade maior a ser removida.
Resolveu, por fim, enfrentar a
situação, mas, embora lutasse para
aparentar calma na tentativa de
encobrir seus sentimentos, havia certo temor em seus olhos.
Sabia por Frei Antônio que sua
Marise já não era criança. Haveria
de conquistar—lhe a estima,
fazendo—a compreender o
passado.
Em pé, frente a uma das janelas,
o Duque esperava olhos fixos na
paisagem sem, entretanto nada
ver. De repente, notou que suas
mãos estavam geladas e molhadas.
— Estou nervoso! — pensou. —
Tolice. Afinal tenho feito todo o
possível para remediar meu erro!
Afastou—se da janela algo
impaciente. Por que demorava
tanto? Teria o atrevimento de
recusar—se a recebê—lo? Roberto
passou o lenço de cambraia
guarnecido de finíssima renda pela
testa um pouco suada.
— Não. Ela não faria isto! Merediet
o avisara de que ela desceria em
seguida.
Sentou—se. Seus olhos
voltaram—se para o quadro
pendurado na parede. Jesus
crucificado. Suspirou. Aquele,
apesar de inocente, fora
crucificado, e ele? Ele era culpado
de muitas coisas e apesar da absolvição bondosa de Frei
Antônio, sua consciência às vezes o
incomodava chamando—o á
responsabilidade.
O perdão era barato — pensava,
— mas o esquecimento muito caro.
Se fora perdoado, por que não
podia esquecer os erros passados
dos quais Marise era apenas ínfima
parcela? Seria sua consciência
mais forte do que o perdão de
Deus? Mas teria Deus, através do
padre, perdoado realmente?
— Estou divagando! — pensou
sacudindo a cabeça como para
expulsar os pensamentos
inoportunos.
Apanhou um livro sobre a mesa e
começou a folheá—lo
maquinalmente. Um ligeiro ruído, a
porta gemeu sonoramente sob os
gonzos e Marise surgiu diante dele.
Um pouco enleados, surpresos,
fitaram—se. Roberto esqueceu—se
de tudo quanto pensara momentos
antes, deixando—se envolver por
doce emoção. A jovem que tinha
diante de si era linda, muito mais
do que imaginara. Mas, além da
beleza do seu rosto de linhas
puras, do maravilhoso contraste formado pela alvura de sua tez
com o castanho dourado dos seus
ondulados cabelos, olhos
profundos de um azul muito
escuro, da elegância de suas
formas ressaltadas pela singela
sobriedade do seu vestido, havia
aquele olhar luminoso, franco, que
sustentando o olhar do
interlocutor, buscava desnudar—
lhe o caráter.
Surpreendeu—se, desejando a
todo custo conquistar a estima de
tão formosa filha.
Marise, entretanto, muito
emocionada, faces coradas,
penetrara na sala preparada para
uma possível desilusão. Entretanto,
a elegante figura do Duque, bem
como a súplica que lera em seu
olhar, haviam—na emocionado
favoravelmente. Seus olhos se
encontraram. Um olhar foi
suficiente para que ela
compreendesse de um lance a
volubilidade do seu caráter.
Um tanto embaraçada,
adiantou—se, estendendo—lhe as
mãos.
— Senhor, esperava ansiosamente
vossa visita. Lamento ter—vos feito esperar.
Vencendo a emoção, Roberto
tornou—lhe a mão levando—a aos
lábios. Desejaria tê—la abraçado,
porém, seu constrangimento não
permitiu.
— Marise! Marise! Minha filha,
quantos anos! Mas como és linda!
Sustendo nas suas a pequena
mão da filha. Roberto não se
cansava de admirá—la. Marise
sorria um pouco envaidecida.
Depois de algumas exclamações
de júbilo, conduziu—a para uma
cadeira sentando—se em outra, a
seu lado.
— Suponho que sabes por tua mãe
todo nosso passado. – Roberto
falava compassivamente,
estudando no rosto da filha as
reações que suas palavras
provocavam.
Marise calmamente assentiu.
— Não sei a maneira pela qual
Anete relatou nossa história. Temo
que em seu ressentimento tenha
exagerado minhas atitudes... —
calou—se embaraçado.
É possível... — mas notando o
olhar ansioso do Duque, aduziu: —
Não tenho intenção de julgar ninguém, muito menos meus pais.
A inquietação do Duque
aumentou. A atitude nobre da filha
despertou mais forte nele o
sentimento de culpa. Desejou
naquela hora gritar que fora o
único culpado de tudo. Conteve—
se, porém, e disse:
— Fui culpado, bem o sei, mas
posso afirmar—te que Anete foi
meu único amor! Ainda agora,
depois de tantos anos, ao rever—
te, sinto despertar em mim mais do
que nunca as saudades de Anete.
Sou culpado e tu não me
desprezas?
Surpresa, Marise fitou o
semblante torturado do pai.
— Não — respondeu lentamente,
como se tentasse uma análise mais
profunda dos seus sentimentos.
O Duque, agora cabisbaixo,
sentiu—se embaraçado. Vivo
estava mais do que nunca em sua
consciência o verdadeiro lugar que
aquela formosa criatura deveria
ocupar em sua casa, em sua vida,
em sua fortuna. Ele, apesar de
sentir—se magoado intimamente
com a situação social e financeira
da filha, não se sentia com forças para reparar publicamente seu
erro, dando—lhe o nome e o lugar
que moralmente lhe pertencia.
Somente poderia ajudá—la às
escondidas, o que desejava fazer
regiamente. Seria uma espécie de
compensação às demais
necessidades.
— Alegra—me saber que não me
desprezas. Afianço—te que
ninguém tem sido mais castigado
do que eu. Meu casamento desde o
principio tem sido um fracasso, o
que mais ainda me faz lamentar
não ter enfrentado a sociedade, a
miséria se preciso fora, para
casar—me com tua mãe.
O Duque desejava despertar a
simpatia e a piedade no coração da
filha. Marise, vendo confirmar—se
pelas palavras do pai a impressão
de fraqueza e leviandade que
formara de sua pessoa logo ao
primeiro olhar, sentiu—se
envergonhada intimamente por
ele, pela sua falta de discrição
confiando—lhe um problema tão
íntimo que sua nobreza de caráter
deveria silenciar.
— Senhor! O passado é passado.
Devemos esquecê—lo. Tenho para mim que nesta vida somos aquilo
que desejamos. Colhemos sempre,
não os frutos do que aparentamos
ser, mas do que realmente somos.
— Queres dizer que sou também
culpado pelo fracasso do meu
casamento?
— Por favor, senhor. Mudemos de
assunto...
—Não, filha. Desejo conhecer teu
pensamento, tua maneira de ser,
teus pontos de vista. Continuemos,
responde.
Marise perturbou—se um pouco.
— Temo que não vos agrade minha
maneira de pensar.
O Duque teimosamente renovou:
— Não importa. Fala.
— Vosso casamento, antes de
realizar—se, estava destinado ao
fracasso mais completo.
— Então não me crês culpado?
Compreendes que fui uma vítima?
Marise sacudiu a cabeça num
movimento inconscientemente
gracioso:
— Absolutamente. Prefiro não falar
em culpa. Acredito que um
matrimônio para ser feliz deve ter
como base o amor recíproco, o
respeito, a amizade. Um casamento buscado nas aparências, nas
conveniências sociais, jamais
levará a uma união verdadeira.
Será sempre malsucedido.
O Duque, impressionado com a
opinião dela, reconhecendo certa
verdade em suas palavras,
conservou—se calado e pensativo
por alguns instantes. Depois se
levantou acariciando levemente a
cabeça da filha.
— Tão jovem e sem ainda teres
casado, possuis a experiência que
eu somente agora, depois de
longos anos de angústia e
incompreensões, consegui
armazenar. Surpreendes—me!
— Não compreendeis que da vossa
e das atitudes de minha mãe
resultaram minha opinião? Credes
por ventura que apesar do colégio
me vedar certas verdades eu não
às tenha há muito compreendido?
Somente o amor justifica o
casamento. O Senhor, por exemplo,
temeroso de legitimar perante as
leis humanas um amor verdadeiro
e sincero, vos escravizou a um
preconceito, mantendo um lar de
mentira, onde uma esposa mesmo
que vos amasse jamais poderia ser venturosa. Minha mãe, desiludida
do amor, pensando em meu futuro,
desposou um tirano que, por ironia
da sorte, teve a coragem de
enfrentar o preconceito, não para
libertá—la dele, mas para torná—la
sua escrava. Agora, as moedas de
ouro, as jóias, não lhe servem para
ajudar—me como pensara a
principio, pois que o marido, ciente
de que não é amado, tornou—se
mais ciumento do que demonstrara
anteriormente e fiscalizam—lhe os
gastos, os objetos e até os
pensamentos. Credes que não
possuo suficiente experiência do
assunto?
Roberto comovera—se diante da
franqueza apaixonada da filha.
Compreendeu num relance que
pensara somente em si mesmo,
esquecendo as conseqüências que
seus gestos e os de Anete teriam
trazido ao caráter da filha quando
em formação. Emocionado
sinceramente, Roberto abraçou—a
com ternura.
— Tens razão, minha filha. Tudo
quanto fizer de hoje em diante,
será pouco para proteger—te e
amar—te como mereces! Crês que poderás gostar um pouco do teu
pobre pai?
Marise, tocada pelo tom suave e
sincero do Duque, sentiu que,
apesar de suas fraquezas, aquele
homem despertava em seu coração
grande e profunda afeição.
Sem saber o que dizer,
levantou—se nas pontas dos pés e
beijou—o de leve na face. Roberto
abraçou—a com força enquanto
lutava com a emoção. Sua filha
Julie jamais o beijara e tivera para
com ele demonstrações de carinho.
Seu coração, ávido de amor,
sentiu—se mais feliz em saber que
teria dali por diante uma afeição
sincera para acalentar.
Transcorridos alguns momentos
afastou—a brandamente e fitando—
a carinhosamente, disse como que
para disfarçar a emoção:
— Agora precisamos combinar
muitas coisas! Senta—te
novamente a meu lado e
conversemos. Era meu desejo
levar—te para minha casa,
oferecendo—te o lugar que de
direito te pertence. Porém, sabes
que não vivo só. Minha mulher
jamais permitiria tua presença.
Ligeiramente Marise enrubesceu.
Era—lhe embaraçoso saber que
outra mulher ocupava o lugar que
deveria ser de sua mãe em
situação normal e ainda mais o
rancor, o ciúme e o desprezo que
essa mulher deveria dispensar—
lhe.
— Tranquilizaí—vos. Jamais
aceitaria viver em vossa casa nas
presentes condições.
— Bem — resmungou o Duque
embaraçado. — Também pensei
nisto. Mas a falta de tolerância de
minha esposa não impede que eu
cumpra, na medida do possível,
meus deveres de pai. Na semana
próxima, dar—te—ei o suficiente
para a compra de um enxoval
completo. Desejo que possuas tudo
quanto meus outros filhos
possuem. Teus desejos serão
ordens e terei o grato prazer de
realizá—los. Já conversei com Liete
a respeito. Irás com ela a Paris.
Porém, compra o teu gosto que
considero apurado. A pobre
Madame não estaria à altura de
fazê—lo.
Vendo que a moça tornar—se—á
algo preocupada e triste, indagou para animá—la:
— Conheces Paris?
— Não. Nunca sai do colégio,
mesmo durante as férias. — Seu
semblante animou—se de incontido
entusiasmo. — Gostaria de
conhecê—la!
Pois podes ir. Fica em Paris o
tempo que quiseres. Poderás
também conhecer Versailles. E...
Dize—me, o que desejas mais
fazer?
Marise baixou a cabeça com
arzinho sério e algo receoso:
— Tem outra coisa muito
importante para mim e que
certamente não me deixará em
Paris por muito tempo. Entretanto,
não vos direi nada por agora, ser—
vos—á uma surpresa.
Queres guardar segredo, não
insisto. Confio na tua capacidade
de ação, Marise sorriu. Receava
que ele caçoasse de suas
pretensões artísticas como pintora.
Quando uma hora mais tarde ele
se foi, havia conquistado
definitivamente a simpatia da filha.
Sua cultura, seu gosto pela musica,
pintura, pelas artes em geral,
aliadas à maneira elegante e cortês
de expressar—se a haviam enternecido. Justificava agora, em
parte, a paixão que despertara no
coração de Anete. Essa
particularidade, entretanto, não a
impedia de instintivamente
perceber suas fraquezas. Sentia—
as naturalmente, sem intenção de
crítica. Em razão da sua situação,
sentindo—se insegura, aprendera a
confiar na própria intuição, na
tentativa de proteger—se. Desse
modo desenvolvera bastante sua
sensibilidade. Contudo, seu olhar
penetrante, sincero, não se fixava
para analisar, criticar ou ferir, mas,
simplesmente para descobrir um
suporte à sua amizade, à sua
estima.
Muito excitada, Liete tornou à
sala sequiosa dos detalhes de tão
longa entrevista. Percebera em
Marise uma cena altivez, uma
independência, que a fizera temer
pelo êxito do encontro. Mas, agora,
pelo ar satisfeito com que o Duque
se retirara, percebia que tudo
deveria ter corrido bem.
Apesar da vergonha pelo
procedimento da irmã que
conservara durante todos aqueles
anos, orgulhava—se agora da nobreza da sua sobrinha, de ser
alvo das atenções do Duque e
ainda mais do casamento de Anete
com um marquês. Como se sentiria
orgulhosa se Anete voltasse para a
Aldeia! Até a bem pouco tempo
estremecia de pesar e receio diante
dessa idéia, mas agora, sentia—se
desejosa de contar a todos o que
acontecera com sua irmã.
Marise, com um ar alegre na
fisionomia, abraçou Liete dizendo:
— Querida Liete. Amanhã mesmo
seguiremos rumo a Paris! — e
diante do assustado ar da tia,
prosseguiu — combinei tudo com o
senhor Duque. Hoje mesmo irá um
mensageiro seu a Paris conversar
com seu tabelião e amigo que
providenciará nossas
acomodações. Oh! Liete Como sou
feliz!
A fisionomia dura de Liete
abrandou—se um pouco ante o
entusiasmo de Marise. Suspirou
enquanto dizia:
—Não te esqueças, entretanto que
deverei cuidar de ti. Só irei se me
prometeres obediência. Paris e
perigoso para duas mulheres como
nós. Dizem até que os homens assaltam e raptam as mulheres nas
ruas em pleno dia!
Dessa vez Marise riu com gosto.
— Que exagero titia! Em todo caso,
— motejou ela — levaremos dois
punhais conosco.
É uma boa idéia. Não esquecerei.
Enquanto as duas conversavam
alegres, o Duque rumava para o
castelo. Guiava o belo animal que
montava, com doçura, lentamente,
procurando gozar das delícias da
manhã, que embora avançada, era
fresca e agradável.
Roberto sentia—se leve e alegre.
Parecia—lhe ter—se libertado de
um grande peso com aquela visita
e ainda mais, com a amizade nova,
mas sincera da filha.
Retardou ao máximo seu
regresso ao castelo, conduzindo o
animal preguiçosamente. Desejava
esquecer sua situação penosa
dentro do lar, principalmente tão
em contraste com o ambiente que
desfrutara há pouco.
Sua mulher, desde a malograda
tentativa de suicídio, quase não lhe
dirigia a palavra. Seus filhos, já de
regresso, parecia haverem—se
tornado mais reservados e distantes. Tratavam—no
cortesmente, mas como a um
estranho, enquanto adoravam a
mãe, expandindo—se
intencionalmente de forma
exagerada com ela, quando em sua
presença. Não que ele sentisse
ciúmes, pensava, mas doía—lhe
como pai, ver—se relegado como
um criminoso.
De natural expansivo e amante
das alegrias, sentia—se
constrangido dentro de sua própria
cosa, vendo—se na contingência do
agravar ainda mais a situação
fugindo ao contato com os seus
sempre que podia. Jamais qualquer
um deles mencionara os últimos
acontecimentos, mas Roberto
pressentia que seus filhos sabiam
de tudo. Alice certamente não
perdera a oportunidade para
fazer—se vítima mais uma vez.
Não fossem os negócios, iria a
Paris. Aliás, a corte com suas
alegrias e distrações estava lhe
fazendo falta. Súbito, teve
brilhante idéia: iria também a
Paris! Assim poderia fugir ao
ambiente triste de seu lar. Uma vez
lá, estaria à vontade para ver Marise. Seria delicioso! Passeariam
juntos, conversariam, estreitando
assim a amizade que já se
esboçava. Impaciente por
temperamento, entrou em casa
disposto a preparar o necessário e
viajar naquela mesma noite.
Enquanto em seu gabinete
aprestava seus deveres imediatos,
Roberto pensava seriamente na
vida sem alegrias que desfrutava.
O som harmonioso de um piano
tangido suavemente, arrancou—o
de suas meditações.
Julie! Sim era Julie. Como poderia
ela ser tão fria para com ele e tocar
daquela maneira doce e
suavemente melancólica? Como
conciliar a sensibilidade de artista
com a frieza glacial que
testemunhava ao próprio pai?
Era bem verdade que ele,
encerrado em seu orgulho, jamais
procurara vencer a barreira que os
separava. Tinha consciência de
sempre haver sido um bom pai.
Educara seus filhos nos melhores
colégios proporcionando—lhes
sempre recursos financeiros para
brilharem em toda parte. Ainda no
ano anterior apresentara oficialmente sua filha na corte,
como uma verdadeira rainha.
Desde então lhe proporcionava
sempre temporadas em Paris ou
Versailles, para que se divertisse.
Que mais desejaria ela? Seus
carinhos certamente que não,
desprezava—o!
Quanto a Roberto, apesar de
respeitoso e obediente às suas
ordens, não era seu amigo. O
Duque sentia—se sufocar nesse
ambiente frio, quase hostil. Os
amores fáceis que outrora tanto o
seduziam, agora pela continuidade
e pelo hábito, causavam—lhe tédio.
Encontrava—se ele naquela
encruzilhada em que o homem já
maduro, pára de repente sua
corrida vertiginosa em busca de
suas emoções, pensa, examina,
lança uma vista de olhos sobre o
passado e compreende o ritmo
acelerado, mas ilusório e vazio que
imprimira à sua existência até
então. Sente necessidade das
coisas simples, mas fundamentais
da vida. Do amor, da amizade, da
harmonia. Tudo quanto valorizara
na mocidade não mais o satisfaz,
pois seu espírito pede algo mais para alimentar—se. É a própria
consciência, mestra inconfundível
do raciocínio, que o chama a
responsabilidade de maneira sutil,
através da insatisfação íntima.
O espírito emancipando—se da
adolescência julga—se dono da
vida, quer gozá—la, sorvê—la em
toda plenitude. O corpo jovem,
forte, dá—lhe a ousadia necessária
de não pensar no amanhã. Mas,
quando essa fase acaba, ele entra
então na busca das coisas que
antes mal notava ou algumas vezes
escarnecera. Pobre Roberto
Chãtillon. Não soubera disciplinar
os sentimentos, respeitar sua
natureza, agir de maneira
adequada e agora tinha como
resultado a frustração e o vazio.
Longe de assumir a
responsabilidade dos seus atos,
preferiu colocar—se como uma
vítima, justificando sua infelicidade
pela atitude de sua família.
Era uma fuga própria do seu
caráter. Preferia pensar que sua
mulher era a maior culpada. Iria
para sua casa em Paris e lá
permaneceria o máximo possível e
talvez, porque não dizer, tivesse
oportunidade de rever Anete! No seu cansaço emotivo, no seu
passado vazio, restava a figura
apaixonada de Anete e a doçura de
sua filha Marise. Quem sabe
encontraria ainda o carinho
perdido?
Naquela mesma tarde, quando
em seu gabinete ultimava os
preparativos para partir, algumas
pancadas secas na porta o
surpreenderam.
— Entra — ordenou,
A porta abriu—se lentamente. Um
moço belo e elegante penetrou no
aposento. Tinha já 19 anos, porém,
aparentava ainda menos. A
estatura normal, magro, a pele
clara e delicada. Belos olhos
castanhos. Cabelos crespos e
rebeldes aureolavam—lhe o rosto
de traços delicados.
— Peço—vos licença, meu pai.
Surpreendido, o Duque
cortesmente ofereceu—lhe uma
cadeira. Estas visitas do filho eram
raras e o pai se perguntou: o que
desejaria ele, dinheiro?
— Pai, se tomei a liberdade de
interromper vosso trabalho, foi
porque necessito falar—vos. Não
pretendia fazê—lo esta noite, porém, vossa partida inesperada
força—me a tomar esta atitude.
O rapaz, tímido de natureza,
estava embaraçado. As palavras
brotavam dificultosas em sua boca.
A atitude embaraçada do filho
despertou no Duque um assomo de
simpatia. Afinal era ele seu único
filho varão. Sobre ele pesaria um
dia a
responsabilidade dos Duques de
Merlain. Interrompeu o que estava
fazendo e disse:
— Fizeste bem. Fala.
— Senhor, sinto—me algo
constrangido, pois que jamais falei
convosco sobre este assunto.
Desejo casar—me, isto é, peço—vos
licença para casar—me.
Uma expressão de assombro
estampou—se no rosto do Duque.
— Casar! Não achas ainda muito
cedo?
— Não, meu pai. Tenho já quase
vinte anos; completarei no começo
do próximo ano. Depois, penso que
já estou suficientemente maduro
para isto.
O Duque permaneceu silencioso e
sério por alguns instantes. O
inesperado deixava—o sem saber o que dizer. Era bem verdade que
seu filho já estava em idade
casadoira. Subitamente indagou:
— Mas, se pedes licença para casar,
é porque já possuis uma noiva...
Quem é ela?
O jovem Roberto suspirou
ligeiramente enquanto pelo seu
rosto espalhava—se algum rubor.
— Estou enamorado, meu pai.
Trata—se de uma jovem bela e
digna, filha de uma das melhores
linhagens da França. É rica e sei
que me aceitará.
As explicações satisfizeram o
Duque. Sem poder encontrar nada
para negar o consentimento,
objetou:
— E tua mãe, já sabe?
— Não, senhor. Nada há ainda
acertado. Apenas cortejei um
pouco mademoiselle Etiene, mas
desejo antes obter vossa
aprovação para depois pedir à
mamãe que, tenho a certeza,
adorará minha escolhida.
Diante da atenção do filho para
com ele, Roberto, vaidoso por
índole, sentiu—se satisfeito.
— Esta jovem chama—se...
— Etiene Lisant, filha única do Marquês de Vallience.
Roberto sobressaltou—se
tremendamente. Filha do Marquês
de Vallience, o marido de Anete!
Para esconder a perturbação,
voltou—se de costas para o filho e
pareceu entretido em examinar um
dos papéis que estavam sobre a
mesa.
— Marquês de Vallience! ——
murmurou sem sentir, com voz
sumida.
— Sim, meu pai. Deveis conhecê—
lo bem, penso.
— Sim, meu filho, Conheço—o.
Porem, há longos anos não o vejo.
Sem poder dominar—se,
perguntou: — Ele tem viajado
muito. Está agora em Paris?
— Provavelmente. Porém, não
freqüenta a corte há muitos anos.
O Duque permaneceu silencioso
alguns segundos enquanto um
mundo de perguntas e problemas
surgia em seu cérebro aflito.
— Mas... Eu não sabia que ele tinha
uma filha. — E sem poder deter as
palavras, continuou: —— Não sei se
poderei consentir neste
casamento. Talvez não saibas que
ele casou—se com uma simples camponesa que, além do mais, não
era honesta!
Vendo o rubor tingir as faces do
filho, Roberto arrependeu—se
imediatamente do que dissera. Por
que manchar ainda mais a
reputação daquela que seduzira?
Porém, o ciúme fora incontrolável.
Anete, sua Anete, esposa de outro
homem! Nunca a tendo visto com o
marido, procurara deliberadamente
afastar essa idéia da mente,
porém, vendo mencionar uma filha,
prova bastante convincente e
material do casamento de Anete
com o Marquês, seu sangue
inflamara—se cheio de ódio e
ciúme.
Como permitir que seu filho se
case com a outra filha de Anete?
O jovem Roberto, porém, que não
pretendia desistir com facilidade,
retrucou um pouco alterado:
— Admira—me ouvir tais palavras
dos vossos lábios! Porém,
enganai—vos. A senhora Marquesa,
a quem tive a honra de observar de
longe algumas vezes, em sua
residência, ou mesmo na Igreja, é
uma senhora digna fina e honesta.
Sua reputação na corte é perfeita.
Todos a respeitam por suas
virtudes. Se não possui a nobreza
do nascimento, tem a do coração
que é muito mais valiosa. Não
aceito vossa objeção para recusar a aprovação de meu casamento
com Etiene!
O Duque bebeu avidamente as
palavras do filho. Finalmente
notícias de Anete! O desejo de ir a
Paris reapareceu sôfrego.
Subitamente um sorriso irônico
estampou—se em sua fisionomia
enquanto disse:
— Vejo que estás determinado.
Porém, se me recusei a dar—te o
consentimento foi porque tenho
sérios motivos.
— Quais? — inquiriu o jovem
jogando desafiadoramente a
cabeça para trás.
— Dizem mais de perto a tua mãe.
Consulta—a. Estou certo de que ela
recusará a consentir no teu
casamento com essa moça. Porém,
para não pensares que estou
contra tuas aspirações, digo—te
que, se ela concordar, darei
boamente o meu consentimento.
O sorriso voltou à fisionomia
jovem do rapaz.
— Está bem, meu pai. Tenho
certeza de que ela não me negará.
Vou procura—la agora mesmo.
Deixando o pai mais do que
nunca interessado em ultimar seus
preparativos para ausentar—se, o
jovem Roberto retirou—se.
Desejava esclarecer o assunto o
quanto antes, pois todo seu futuro
e o de Etiene dependiam daquele entendimento. Qual o mistério que
envolvia sua mãe em relação aos
Vallience? Sentia—se preocupado e
embora procurasse interiormente
convencer—se de que tudo sairia
bem, não podia furtar—se a uma
espécie de sobressalto, a certo
receio.
Encontrou sua mãe lendo na
biblioteca. Vendo—lhe o semblante
triste e as profundas olheiras que
lhe circundava os olhos fazendo
com que seu rosto parecesse ainda
mais encovado. Roberto sentiu
dentro de si um assomo de ternura.
Impulsivamente, abraçou—a
beijando—lhe levemente os
cabelos.
Alice levantou os olhos e sorriu.
Seu rosto iluminou—se refletindo
a adoração que sentia pelo filho.
—Surpreendes—me, Roberto. Tu há
esta hora, aqui? Não desejas ler
com certeza.
Seu tom brincalhão continha um
átimo de graciosa ironia. Roberto
não gostava dos livros. Pelo
contrário, evitava sempre que
podia seu contato. Achava—os
enfadonhos e cacetes. Ao inverso
de sua mãe cujo prazer maior consistia na leitura. Gostava da
literatura romântica, poesias,
contos, etc. Era assim que buscava
fugir da realidade dolorosa de sua
vida amorosa.
— Tem razão, mamãe. Vim a tua
procura. Preciso falar—te.
Notando o ar preocupado do
filho, Alice sobressaltou—se:
— O que há?
— Trata—se de um assunto muito
sério. Permita que eu me sentasse.
— Quando se viu sentado a seus
pés em uma pequena banqueta,
continuou:
— Sabes que em janeiro completo
vinte anos.
Alice aquiesceu.
— Sendo assim, resolvi casar—me
para o que te peço o
consentimento.
Alice sorriu um pouco aliviada, mas
vendo a seriedade do filho,
perguntou:
— Tu a amas?
— Sim.
— Ela pertence à boa família?
— Uma das casas mais nobres de
França.
Desta vez o rosto de Alice
iluminou—se e um sorriso
entusiasta brotou—lhe nos lábios.
— Então, tu amavas em segredo! O
guardavas até de mim que sou tua
amiga e só desejo a tua felicidade!
Roberto pareceu tranquilizar—se
um pouco. Afinal, por que teria
com sua mãe um segredo? E logo
com relação à Etiene?
Com a mente povoada de contos
românticos, Alice pediu ao filho
que relatasse sua história de amor.
Um pouco encabulado. Roberto
tornou:
— É uma história simples.
Conheci—a no Bois, há dois anos.
Era quase uma menina. Passeava
com a governanta quando esta
deixou cair o lenço. Apanhei—o e
devolvi—o. Fui obrigado a
apresentar—me. Indaguei dos
amigos e soube que a encantadora
menina morava em San Valicen e
aos sábados costumava ir com a
governanta ao Bois. Pensei em ir
ao Bois todos os sábados. Tive a
honra de passar—lhe alguns
bilhetes. Percebi que era
correspondido. Sorria—me sempre.
Uma vez em Notre Dame a
encontrei e pudemos conversar um
pouco na Igreja, muito reservadamente. Antes de voltar
para cá, porém, compreendi que a
amava e desejava tomá—la por
esposa. Falei com o senhor meu pai
pedindo—lhe o consentimento. Ele,
porém, procedeu de maneira
incompreensível. Disse—me que
falasse contigo e se consentisses,
ele por sua vez consentiria.
Intrigada, Alice permaneceu
alguns instantes silenciosa. Por
que o Duque colocara sobre ela
toda responsabilidade do
matrimônio do filho?
— Então mamãe, que dizes?
— Considero estranha a atitude de
teu pai. Deveríamos pelo menos
discutir juntos este assunto, mas,
não importa. Se como dizes, a tua
escolhida é de boa linhagem e o
amor existe entre ambos, não vejo
motivos para opor—me. Mas, dize,
a que família pertence, conheço—
a?
— Certamente. Trata—se da filha
única do Marques de Vallience.
— De quem? — perguntou Alice
parecendo não haver
compreendido.
— Do Marques de Vallience.
Alice levantou—se
imediatamente, pálida e nervosa,
pondo—se a passear pelo
aposento. Já agora, Roberto não
ocultava a preocupação. Porque o
nome dos Vallience produzia tanta
reação em sua mãe?
Alice parou frente à janela, de
costas voltada para o filho,
buscando assim ocultar—lhe seus
sentimentos. Seu filho desejava
desposar a filha da odiosa Anete!
Oh! Deus, por que deveria sofrer
esse castigo? Como consentir em
tal união? Nunca soubera negar—
lhe o menor capricho, como
poderia impedi—lo de ser feliz?
Frente a um dilema tão doloroso,
Alice sentiu—se impotente e triste.
Mais uma vez o desanimo tomou
conta do seu ser. As lágrimas
rolaram dos seus olhos cansados e
sua cabeça em atitude
desalentada pendeu para frente,
apoiando—se de encontro ao vitral
da janela.
Lentamente, Roberto levantou—
se e aproximou—se dela. Estava
emocionado, pálido, temeroso.
Suas mãos trêmulas pousaram no
braço de Alice forçando—a a
voltar—se.
— Choras? Tu que há pouco sorrias
ouvindo minha história de amor,
choras? Minha felicidade te causa
sofrimento? Diz—me, peço—te. Se
meu casamento te causa
sofrimento, desistirei dele, mas,
desejo primeiro saber se teu
motivo é realmente justificável.
Meu pai falou—me sobre a origem
plebéia da marquesa, será isto que
te contraria?
Alice apoiou a cabeça no ombro
do filho sem saber o que dizer.
Devia contar—lhe a verdade? Como
ele insistisse na pergunta,
respondeu:
— E mais do que isso. Essa mulher
é uma camponesa que além do
mais não era honesta.
Os braços que abraçavam
carinhosos penderam subitamente
frios. Rosto transtornado, olhos
duros, o rapaz tomou:
— São calúnias. Essa senhora é
honesta e digna. É muito
respeitada na corte embora não a
freqüente. Possui um marido tirano
e egoísta, entretanto, suporta tudo
resignadamente. Vive reclusa
quase, embora seja muito mais
jovem do que ele. Gostaria de saber de onde tiraram o senhor
meu pai e a senhora, essa triste
calúnia.
Alice não conseguiu dominar
desta vez a indignação. Anete
roubara—lhe o amor do marido e
agora era tão calorosamente
defendida pelo seu próprio filho,
voltando—o também contra ela?
— Como ousas falar—me assim?
Julgas—me capaz de mentir,
caluniar? Essa história, tendo—a eu
vivido dia a dia em minha própria
alma! Caluniadora, eu? Crês então
que deveria aceitar em minha casa,
como tua esposa, a filha da amante
de teu pai?
Diante destas palavras, por
alguns instantes, Roberto sentiu
que suas vistas se turvavam.
Amante de seu pai?
Deixou—se cair em uma cadeira
segurando a cabeça entre as
mãos.
Alice caiu em si, trêmula e
desorientada, sem saber como
suavizar aquela cera desagradável
e dolorosa.
— Não é possível, minha mãe.
Como soubeste? O Marquês tem
um ciúme doentio da esposa, não à deixa um só instante!
Vendo que ele duvidava ainda.
Alice sentiu—se novamente
dominada pelo ódio.
— Sabes já da história vergonhosa
no passado de teu pai com aquela
camponesa, a irmã de Liete
Merediet. Pois bem, depois que teu
pai a deixou para casar—se
comigo, ela por sua vez conseguiu
iludir o marquês e casar—se com
ele. Não sei se eles se encontraram
depois. É possível até que a jovem
que amas seja tua irmã.
Alice sabia ser mentira o que
dizia, sabia pela carta de Anete
que jamais eles tinham se
encontrado depois que ele se
casara, mas o ódio, o desejo de
vingar—se daquela mulher e do
próprio marido, fez—na
maldosamente lançar—lhes tão
terrível acusação.

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