CAPÍTULO 7

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O sol iluminava a aldeia na

linda e perfumada manhã

primaveril quando Marise, corada

pelo esforço, subiu a encosta à

procura de inspiração para o

quadro que resolvera iniciar.

Com os bastos cabelos

protegidos pelo vasto chapéu

gracioso, ela harmonizava-se

perfeitamente com a suavidade

fresca da manhã.

Até ali, pensava, estivera

descansando, divertindo-se,

adaptando-se à nova vida, mas,

agora, sentia a necessidade de

ocupar-se com algo útil e

agradável. Ia em busca de um

motivo para fixar em sua tela.
Pensara nos ciganos.

Frei Antônio lhe falara neles

assim que regressam. Ele sentia

pena da vida sem Deus que viviam.

Tentara dirigir-se a alguns deles

na rua, com intenção de convertê-

los, mas fora recebido com ironia e

chacota.

Diante da impossibilidade de

modificá-los, passou então a

desejar que eles partissem o

quanto antes, notando a influência

nociva que exerciam nos

habitantes da aldeia, vendendo-

lhes objetos sacrílegos para

mascotes, abusando em proveito

próprio das crendices e

superstições do povo.

Ainda há poucos dias, haviam-

lhe contado que um cigano havia

curado um doente libertando-o de

uma paralisia do braço direito, que

o incomodava havia vários anos.

Frei Antônio abanara a cabeça,

descrente, exortando na Igreja aos

seus paroquianos que não

procurassem os ciganos, pois que

eles certamente pactuavam com o

demônio. Como poderiam curar se

nem sequer respeitavam a Deus?

Frei Antônio estava indignado e

mesmo disposto a ir procurar o

Duque, solicitando-lhe a expulsão

dos ciganos, porque sabia que

muitos aldeões não haviam

seguido seus prudentes conselhos, correndo o boato mesmo de que

havia um cigano santo no

acampamento.

Frei Antônio estremecia de horror

diante de tal sacrilégio! Marise,

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