2. Cobra Maquiada

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Ser feio é uma merdona.

Note que não se trata de uma simples merda, e sim de uma merdona – no aumentativo, pois o impacto soa mais legal dessa forma. Ser feio é um caralho, um cu – seja lá qual for o palavrão mais adequado neste contexto – e o fardo da feiura se torna ainda pior quando você, pobre pimpolho infortunado, é exatamente o tipo de pessoa cujos arredores são recheados de diversas pessoas bonitas, como se fosse justo sofrer mais um pouco. Caso vocês não tenham notado, eu sou o feioso em questão, bem como o tipo de pessoa que consegue achar beleza em todas as outras, menos em si mesma.

Todavia, este espaço não é nenhum livro de autoajuda – se fosse, o começo deste capítulo já teria sido uma falha – e o objetivo do primeiro parágrafo não é estabelecer alguma espécie de reflexão acerca do que é ser feio – longe disso, por favor, não levem essa merda a sério, nem eu levo. O ponto é que esta introdução, talvez muito exagerada, me dá abertura para falar do meu desgosto genuíno pelo fato de que a genética parecia simpatizar bem mais com meu irmão do que comigo; Hoseok era um rapaz abençoado, (in) felizmente uma beldade na terra, sortudo o bastante para que até o namorado pudesse ser tão bonito quanto, o que era realmente um soco no meu estômago vindo diretamente das estrelas para escrachar o inegável na minha cara: mil pessoas serão bonitas ao seu lado, dez mil à tua direita, mas sua feiura não será atingida. Foda, clã. E quando falo sobre beleza, não me restrinjo somente à física, já que trato juntamente de algo além do material. Mesmo que eu não acredite muito nessas coisas, me parece inegável a existência de pessoas que têm até mesmo uma energia bonita.

Park Jimin também é cultura, respeita o pai. 

E falando sobre beleza, especialmente sobre pessoas bonitas, lá estavam Hoseok e Yoongi sentados nos bancos da frente do carro que meu irmão havia pegado emprestado dos nossos pais, este com o porta-malas lotado de bagagem e algumas tranqueiras para a mudança. Os namorados conversavam animadíssimos logo à minha frente, formando um daqueles momentos que faziam com que eu percebesse o quanto eles soavam três vezes mais bonitos do que o comum quando estavam juntos; a presença daquele tipo de beleza, tanto física quanto espírito-enérgica (eu nem sei se esse termo existe, caso não, acabei de inventar) me ofuscava, sobretudo porque havia uma harmonia exótica em torno daqueles dois que faria qualquer um sentir inveja.

— Ansioso, maninho? – Hoseok perguntou na costumeira voz animada, parecia mais empolgado para a mudança do que qualquer um ali dentro.

— Não ao todo. – Sinceridade é tudo, e eu achava justo que fosse o mais honesto possível para com meu irmão, ao menos na maior parte do tempo. – Você sabe que sempre foi meu sonho sair da casa dos nossos pais, o gostinho de uma independência parcial é bom. Por outro lado, Jungkook vai estar lá, e sem querer ofender, mas já ofendendo, seu irmão é um lixo, Yoongi.

— Não é como se eu não soubesse que Jungkook é um tanto difícil, Jimin. Cresci ao lado dele, já provei daquele veneno mais vezes do que você pode imaginar. – Yoongi pontuou, me fazendo rir com minha própria constatação de que a sinceridade dele era, sem sombra de dúvidas, uma das coisas que eu mais apreciava.

— Será que é de sangue ser tão filho da puta assim? – Bingo. Repare que Hoseok sempre fora um gênio incompreendido. A lógica dele era inexistente 99% do tempo, mas aquele 1% era, definitivamente, reencarnação de Einstein.

— O que você quis dizer com isso, palhaço? – Yoongi levantou uma das sobrancelhas e me limitei a soltar uma risada logo atrás, apenas me encolhendo e deixando que a treta pudesse rolar solta sem ter envolvimento direto da minha parte. Talvez meu irmão estivesse certo sobre aquilo e talvez, só talvez, Yoongi tivesse um nível de acidez tão alto quanto o de Jungkook.  Sem dúvidas, o sangue ruim era de família.

NÃO CONFIE NELE  • jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora