3. Satanás Tem Outro Nome.

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#NhumNhum

Na Grécia Antiga, já dizia o filósofo influente nomeado Kim Taehyung:

— Mete o chupão na língua dele, safado.

E não, você não entendeu errado, ele havia acabado de me mandar chupar a língua de Jungkook, como se aquilo fosse completamente normal e soasse como uma alternativa para resolver todos meus problemas com ele. Taehyung era um tanto louco, e já fazia um bom tempo desde que ele começara com aquelas ideias idiotas de que todo o ódio entre Jungkook e eu poderia ser resolvido com beijos ou quem sabe uma transa selvagem. É. Ele martelava minha paciência com aquilo como se fosse justo me estressar mais do que já era estressado apenas por existir.

— Eu não sei onde você achou que me mandar chupar a língua dele me confortaria, mas vou fingir que não ouvi. – respondi, me ajeitando na cama de solteiro com o celular em mãos e um Taehyung deveras risonho do outro lado da linha.

— Qual é, Jimin? Você e ele estão nessa faz tanto tempo que a relação de vocês deveria estar num museu. – Piadista top de linha, quase um comediante virtuoso, meu melhor amigo era realmente uma comédia. – Acho que essa tensão toda sumiria facilmente com um beijão bem dado do Jungkook nessa tua boca. E não é por falta de investida, porque cá entre nós que para dizer "parece ter gosto de morango" ele precisa ter prestado muita atenção na sua boca.

— Taca sal nisso aí, Taehyung. Deus me tenha. – resmunguei, revirando na cama enquanto fazia uma careta de nojo. Por mais que achasse Jeon Jungkook um poço de gostosuras e tivesse lá minhas vontades de dar uns beijinhos nele, só de pensar na situação hipotética de ceder aos encantos e pisar ainda mais no meu orgulho, aquela possibilidade já se tornava terminantemente proibida e isolada, uma vez que eu preferia morrer a me deixar levar pela cara bonita e trocar saliva com o prepotente desnaturado. – E você bem sabe que essas drogas que Jungkook fala são apenas brincadeiras de mau gosto para tentar me irritar ou fazer com que eu ceda. Não sei por que você ainda leva as bostas que ele fala a sério, o desgraçado é claramente um manipulador salafrário pronto para contar mentiras e cagar a vida alheia.

— Certo, certo. – Taehyung riu, continuando o fluxo da conversa e aceitando (ao menos durante aquele momento) que eu não pensava nem um pouco em acreditar no que Jungkook falava. – Eu sei, conheço o tipo nele. Mas como você pensa em lidar com isso enquanto estiver aí? Quer dizer, você não pode negar que ele é muito bonito e muito talentoso também, e acho um pouco difícil esconder isso com esse carão óbvio que você e a escola inteira fazem toda vez que ele passa. A diferença é que antigamente você precisava aturá-lo poucas horas por dia, e agora vai viver com ele.

— É. Por isso que meu desespero é oficial. – admiti, suspirando ao passo que tentava pensar no que dizer. – Não há muito que fazer além de evitá-lo e tentar não alimentar as provocações. Meu medo é acabar botando fogo nele ou matá-lo enquanto dorme; não que isso seja um problema, mas eu seria preso e não estou muito a fim. Brincadeira, mas vai que...

— Que horror. – Taehyung gargalhou. – Eu só espero que vocês não se matem e que Yoongi não mate vocês. Acho que ele não é muito do tipo que atura briguinhas o tempo todo no pé do ouvido, então creio que seja uma escolha sábia evitar responder ao Jungkook para não resultar em barracos maiores. Eu sei que essa sua língua pega fogo para xingá-lo e não leva desaforo para casa, mas seja um pouquinho pensante. Sei que você consegue, Jimin. Me dê orgulho.

— Credo, até parece que eu sou uma criança.

— E não é?

— Te enxerga, Taehyung.

— Ok, apenas faça isso que acabamos de conversar. Se me dá licença, não sou pago pelas horas que levo te ouvindo reclamar, então vou tirar um ronco e me preparar para ver a sua cara amanhã. Dorme bem. Paz. – Num mundo onde há amigos como Kim Taehyung, inimigos são dispensáveis e inúteis. Apesar de me dar muitos coices (sou um bebê sensível no fundo, acreditem), eu sabia que ele queria meu bem e que na manhã seguinte estaria me enchendo o saco de novo sobre Jungkook. Um idiota, de fato.

— Valeu pelo carinho, Tae. Também amo você – respondi, com uma falsa voz magoada. Recebi uma risadinha bonita do meu amigo de volta e logo um "te amo apesar de ser um chatão nervosinho", que certamente foi seguido de um palavrão por minha parte e logo o encerramento da chamada. Nós éramos um nojo de fofura, reparem.

Após o diálogo nem tão produtivo com Taehyung e algumas decisões sobre como me portar numa casa onde a cobrinha estava, o sono veio quase que num piscar de olhos, mostrando que eu era humano e que precisava pregar os olhos depois de um dia realmente cansativo. A mudança, as briguinhas e o estresse comum acumulado fizeram com que a única coisa presente em meus pensamentos fosse a ideia de tomar banho e cair na cama. Era o que eu faria. Ao menos o que pensava em fazer antes de ter um mini ataque cardíaco mesclado num grito agudo de susto, pela segunda vez naquele dia quase que vomitando meus órgãos numa tossida alta de puro espanto.

Satanás tem outro nome e é Jeon Jungkook.

Depois de me recuperar parcialmente do susto, a primeira coisa que veio à minha mente naquele momento foi: quem caralhos bota uma música naquela altura tendo vizinhança?

— VAI TOMAR NO CU, JUNGKOOK! – Foi a segunda coisa que me veio à mente, pois não poderia faltar uma frase suja e de baixo calão quando me referia a ele, principalmente numa situação como aquela, que praticamente exigia todos os nomes feios existentes para usar no fodido.

O som que evidentemente vinha do quarto dele – que por uma puta sacanagem eu descobrira que era ao lado do meu – estava estrondoso, não ao ponto de ser ensurdecedor, mas suficientemente incômodo para que perturbasse quem morava ali – lê-se eu e os namoradinhos. Não era como se Jungkook desse a famosa mínima para aquilo, mas não parecia possível que ele conseguisse ser ainda mais sem noção do que já aparentava ser. Contudo, eu já cansei de falar sobre aquele lance de duvidar que algo possa ficar pior:Jeon Jungkook quebra todas as leis da física e todas as linhas de limite. Pelo que parecia, era realmente possível ser ainda mais idiota e sem juízo.

Quase pensei em arrombar a porta dele no chutão e ir xingá-lo, mas lembrei do quão cansado estava e de que meu corpo não permitia nada muito além de gritos furiosos, então decidi que era mais inteligente ficar deitado remoendo o fato de que aquilo era apenas o começo de uma chuva intensa de merdas que ainda estava para acontecer. Chorei internamente e cogitei a possibilidade de morar debaixo da ponte. Ainda assim, respirei fundo e pensei comigo mesmo que precisava ser forte. Eu não era mais o Jimin do passado, certo? Não era mais a criança medrosa e dependente, e era exatamente por aquele motivo que se tornava necessário respirar uma, duas, três ou até mesmo quatro vezes para enfim agir.

Eu não iria deixar que o amebão estragasse tudo. Precisava me manter firme e pleno, seguindo o baile tão fino quanto fosse possível.

— Não faça merda, Jimin. Não caia na dele. Não seja idiota. – repeti, respirando fundo enquanto o som alto de Jungkook continuava soando ao longe, quase como um plano de fundo de um filme de ação, como se fosse uma declaração de guerra indireta de Jungkook para comigo e uma provocação subentendida, me testando e me perguntando se eu era capaz de aguentar.

Ele estava fazendo de propósito e eu sabia, como sabia.

Só para não perder o costume, senhoras e senhores, devo reforçar que não se deve confiar em Jeon Jungkook. Cada movimento dele, cada palavra, tom de voz, cada mísera atitude e simples forma de olhar pode ser uma provocação e uma mensagem escondida de que ele quer brincar com você.

E normalmente ele sempre consegue o que quer.

— Não dessa vez, seu lixo.

Vamos ver quem vence essa porra.

#NhumNhum

NÃO CONFIE NELE  • jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora