Ϫ Capítulo 2 Ϫ

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Abro meus olhos com dificuldade e me mexo sobre uma superfície confortável. "Eu morri? Merda!". Tento me sentar, mas meu corpo implora por repouso e minha mente grita por ficar inerte a vida. Respiro fundo me mexendo de um lado para o outro sem animo nenhum para levantar.

"O que aconteceu ontem? Foi um sonho? Não, sem duvidas não era um sonho? Cadê Eduarda? Meu Deus será que ela esta bem? Cadê ela? Eu preciso ver como ela está! Sem contar que tenho que ir resolver um monte de coisas ainda. Espera, já está de manhã? Como eu vim parar aqui? Aqui nem é meu quarto!"

Continuo deitada, olhando para o teto sem forças de fazer nada. Fico por tempos, até que em um impulso eu fico de pé. Olho ao meu redor e percebo ser o quarto de Eduarda, todo arrumado estilo Pinterest como ela mesma gosta de dizer, em tons de salmão, lilás e branco. Vou até a janela e o sol frita meus olhos ao puxar as cortinas de seda.

— Como cheguei aqui? — Sussurro encarando a vista de Porto Velho do topo do maior prédio condomínio da cidade.

— De carro! — Eduarda entra no quarto sorrindo, já toda produzida. — Se arruma minha flor, eu não tinha te dito que hoje seria um dia especial? Pois então, você tem uma reunião muito especial de emprego. Então pega a minha melhor roupa e se apressa!

— Nossa! Bom dia para você também Ocampo! — ironizo e caminho até seu closet. — Mas eu nem tomei banho!

— Em Paris eles também não tomam! Escolhe a roupa e passa um perfume! Você é linda de qualquer forma!

— Está bem! — Bufo sabendo que ela realmente vai perturbar até eu estar pronta.

Coloco um short jeans branco, escolho uma de suas blusas quase transparentes na cor rosa bebê, coloco um salto fino preto e me encaro no espelho. "Calma Camila, você está linda!". Respiro fundo encarando minhas poucas sardas, sempre tampadas com maquiagem. Quando pequena sofria bullying por ser sardenta, ruiva e ter um defeito em minhas mãos, agora adulta sofro as conseqüências dos apelidos e xingamentos do passado. Mesmo todos que estão a minha volta me achando linda, eu mesma não me acho. Sempre que me vejo no espelho, só enxergo uma garota defeituosa e feia.

— Nossa, que linda! — Eduarda entra sorrindo em seu closet. — Só esta faltando uma coisa! — Ela solta meus cabelos que estavam em um rabo de cavalo. — Perfeito! Vai ser sem maquiagem pois ele precisa ver sua beleza natural.

— Ele quem? — Pergunto.

— O cara que vai te comprar e levar pro exterior! — Ela debocha. — Relaxa Mila, está comigo, está com Deus.

— Medo! — Balanço a cabeça e sou puxada por todo o prédio até chegar a seu carro parado no estacionamento. — Aonde vamos mesmo?

— Shopping! Tem alguém lá que quer te conhecer! — Ela apenas entra na sua BMW do ano e faz sinal para que eu faça o mesmo.

Em silêncio por todo o percurso, que por sinal foi extremamente rápido, pois além da cidade ser pequena, minha amiga mora em um lugar privilegiado. Tento puxar assunto, descobrir o que esta acontecendo, mas Eduarda permanece calada. Tento tocar no assunto de ontem, mas ela se esquiva como uma cobra que desliza pelas areias quentes do deserto. "Vaca!"

— Chegamos! — Eduarda sorri, apontando para a praça de alimentação. Olho com desprezo para ela, que sorri animada. — Calma, quem quer conhecer você, está aqui! Vem, olha ele ali!

Ela aponta para uma mesa, onde um rapaz bem vestido bebe uma xícara de café e mexe com o dedo indicador em seu tablet. Me irrito com minha amiga por achar que é mais um encontro ridículo que ela me faz ter com pessoas aleatórias que ela jura serem um par perfeito pra mim. Sigo-a querendo socar a sua cara cheia de pó compacto.

— Lucas, essa é Camila Rebeca Trovo, minha amiga que lhe falei pelo telefone! — Eduarda sorri colocando as mãos para trás.

— E vejo que você não mentiu quando falou de sua beleza! — Lucas, que agora consigo ver sua meia idade, cabelos grisalhos e uma barba muito em feita, levanta e estende a mão na minha direção. — Lucas Surui Lobato.

— Olha, eu já estou de saco cheio dessas merdas de encontros Eduarda. Porra, respeita meu momento e para de tentar enfiar um namoro de qualquer forma em mim. Eu não sou como você, eu não quero ninguém, entende isso de uma vez! — Grito extremante irritada. Sinto meu estômago revirar e apoio minhas mãos sobre a mesa de olhos fechados. "Merda, eu não tomei meus remédios!"

— Amiga, fica calma! — Eduarda toca minha mão, mas puxo a minha com raiva.

— Não, porra, me deixa Eduarda! — Grito novamente e saio correndo pelos corredores do shopping atordoada. Pego meu celular tentando chamar um carro pelo aplicativo, mas me lembro que não tenho dinheiro. Jogo meu celular no chão sem pensar e bufo batendo os pés no chão.

Percebo estar perto da saída C, então caminho pra fora com dificuldade. Tropeço nos meus próprios pés e quando me viro, tenho contato visual com um motorista que vinha em minha direção. Meus olhos ardem e consigo sentir uma coisa estranha em mim. O motorista desvia de mim, mas bate em um poste de luz que ameaça virar na minha direção.

Protejo meu rosto fechando os olhos também. Algo toca meus ombros como se me protegesse e um barulho alto explode no lugar. Quando tento ver o que aconteceu, Eduarda esta parada em minha frente com as mãos pra cima e o poste explodido no chão.

— O que aconteceu? — pergunto confusa.

— Não tenho tempo pra explicar! Vem comigo! Preciso te levar a um lugar rápido! — Sou puxada pela loira na direção de seu carro. Tento intervir, mas minha cabeça quer que eu deixe tudo pra lá e apenas siga a garota.

Sem Revisão

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