Duas Vidas

Capítulo 2

Agora aqui, com a passagem para Belo Horizonte em mãos, me pergunto se é realmente certo sair de São Paulo, a cidade que eu nasci e cresci para me aventurar em uma completamente desconhecida por mim.

Pensando melhor, sim, é o certo a se fazer. Não vou deixar que Henrique tire meu filho de mim e se pra isso for preciso que eu me mude, eu o farei.

O ônibus chegou e, graças a Deus não está lotado como costuma estar.
Me sento na poltrona dos fundos, porque lá poderei deixar que toda minha angústia se vá através de lágrimas.

Pego meu celular e vejo que tem várias ligações não atendidas e mensagens não lidas de Henrique, abro a parte traseira do meu celular e pego o chip e o quebro em dois. Eu o quebrei porque sei muito bem que Henrique com sua fama de bom advogado poderia contratar um detetive para me rastrear.

Saio dos meus devaneios quando uma menina que aparenta ter mais ou menos a minha idade se senta ao meu lado.

- Ufa, pensei que toparia o ônibus lotado - Ela diz claramente aliviada.

- Também achei que encontraria, mas fiquei feliz ao ver que estava enganada - Digo e ela sorri.

- Desculpe-me nem me apresentei, me chamo Anne Ferraz - Diz estendendo a mão para mim e eu a cumprimento de bom grado.

- Me chamo Luana Vieira, mas todos me chamam de Lua - Digo.

- Está indo pra onde ? - Ela pergunta.

- Belo Horizonte e você ? - Respondo.

- Também. Cansei da vida em São Paulo, quero um lugar mais tranquilo pra viver - Ela diz e eu assinto.

- Ouço muitas coisas boas de lá - Comento com ela que me olha curiosa.

- Eu morei lá por 2 anos com meus pais, mas tive que ir pra São Paulo por causa do ex-namorado. Sabe como é ne? Adolescente rebelde que não escuta os pais - Ela diz nitidamente envergonhada.

- Sei sim - Digo achando graça de seu rosto que tomou uma coloração avermelhada - É a primeira vez que saio de São Paulo para morar fora, não sei oque me aguarda - Digo dando um suspiro cansada.

- Você já tem um lugar pra ficar ? - Ela pergunta.

- Não, tive que sair às pressas - Digo fitando a estrada lá fora e me lembrando do motivo que me fez sair da minha cidade.

- Eu estava com planos de achar alguém pra dividir um apartamento, se você quiser - Ela da de ombros.

Penso, será bem mais lucrativo eu dividir o apartamento com Anne, assim eu posso me estabilizar e economizar um pouco do meu dinheiro.

- Eu aceito - Digo e ela abre um sorriso - Mas eu tenho que te contar uma coisa.

- Oque é? - Ela pergunta com uma expressão assustada no rosto.

- Calma, não sou nenhuma assassina ou algo do tipo - Digo e ela ri - Eu estou grávida.

Ela me olha com os olhos arregalados e abre um sorriso.

- Sério ? Eu amo criança - Ela diz visivelmente empolgada.

Fomos o caminho todo conversando. Pude perceber que Anne é uma pessoa bem carismática e muito elétrica também, gostei muito dela. Acho que não foi uma má ideia aceitar dividir o apartamento com ela.

(...)

Chegamos e fomos para um hotel, amanhã sairemos em busca de um apartamento mais em conta.

Como chegamos no começo da noite e estávamos bem cansadas foi bem fácil pegar no sono.

Devo ter dormido umas 3 horas, quando acordei em um pulo, assustada com o pesadelo que tive.

Olhei as horas e vi que eram 4:00 horas da manhã, olhei pro lado e encontrei Anne dormindo feito pedra.

Resolvi me levantar e começar a pesquisar alguns apartamentos para quando Anne acordasse já tivessemos mais ou menos um rumo para seguirmos.

Perdi a noção de quanto tempo fiquei ali sentada e pesquisando, só voltei pra realidade quando Anne acorda resmungando.

- Droga, odeio acordar cedo e... - Ela olhou pra mim com os olhos arregalados - Tá acordada desde que horas mulher ? - Ela indaga.

- Desde as 4:00 da manhã, tive um pesadelo e não consegui mais pegar no sono - Digo bebericando meu café - Pedi nosso café da manhã.

- E o que você ficou fazendo esse tempo todo ? - Ela perguntou indo em direção à mesa de centro e pegando seu copo de café.

- Fiquei pesquisando alguns apartamentos aqui por perto pra gente ter pelo menos um rumo pra seguir - Digo por fim.

- E encontrou algum ? - Ela pergunta.

- Encontrei alguns aqui, acho que você vai gostar - Digo virando o computador pro seu lado pra ela dar uma olhadinha.

Enquanto ela olha, eu sigo pro banheiro à fim de tomar um banho.

Enquanto tomo banho, penso em como a minha vida mudou em menos de 72 horas.

Descobri que estou grávida, contei à Henrique, Henrique surtou, fugi de casa, virei amiga de uma mulher completamente estranha, estou me mudando pra Belo Horizonte e vou dividir o apartamento com essa mulher estranha nem tão estranha assim. Caramba! Que reviravolta em.

- Lua ? Desceu pelo ralo foi ? - Anne grita do outro lado da porta do banheiro e eu ri.

- Ja tô saindo Anne - Grito de volta achando graça do nosso nível de intimidade.

Sai do banho e vi que Anne já estava pronta. Guardei meus pertences e fui com a doida ao nosso primeiro destino.

Não sei quantos apartamentos olhamos, só sei que minhas pernas estão pedindo arrego e minha barriga pedindo comida.

- Anne, vamos parar pelo amor de Deus, minhas pernas estão doces já de tanto andar e sem falar que minha barriga está roncando de fome, não se esqueça que eu estou comendo por dois - Digo numa tentativa de fazer a morena parar um pouco.

- Quanto drama Lua - Ela diz revirando os olhos - Pode estar comendo por três também. Vai saber - Da de ombros e sai andando na minha frente.

E se forem gêmeos? Tô ferrada.

Paramos em uma cafeteria que tinha ali por perto. Escolhemos uma mesa mais no fundo.

- Lua você já fez faculdade de alguma coisa ? - Anne pergunta quando nos sentamos.

- Não, mas pretendia fazer de enfermagem - Respondo me deliciando com meu pedaço de bolo de chocolate - E você ?

- Fiz arquitetura, pretendo arrumar um emprego aqui - Ela diz.

- Vou procurar um também, meu dinheiro não vai durar pra sempre, mas vou esperar me estabilizar primeiro - Digo suspirando - Tenho que ver também as coisas do bebê.

É só falar no bebê que Anne se empolga toda e eu gosto de saber que meu filho já é amado. O amor que ele não receber do pai, com certeza vai receber de mim e também de Anne.

Depois de comermos continuamos com a nossa busca do apartamento perfeito. Vimos quase todos e quando chegamos no penúltimo eu já estava morta em pé.

Finalmente encontramos o apartamento, por sorte o proprietário tava disponível e já ajeitou toda papelada da casa pra gente.

Vida nova, aí vou eu!