Duas Vidas

Capítulo 6

Acordo com uma gritaria no andar de baixo e olho as horas no relógio que está em cima do criado-mudo e vejo que sao 5:30 da manhã.

Meu Deus, esse povo não dorme não ?

Caminho até o banheiro e antes que eu possa fazer minha higiene, meu estômago da uma reviravolta e eu debruço na privada e coloco tudo pra fora.

Enjoos matinais são uma verdadeira merda, é assim toda manhã.

Tomo um banho quente e demorado, como hoje o clima tá mais quente, resolvo colocar um vestido florido e uma sandalia baixa, passo um pouco de maquiagem no rosto pra disfarçar as olheiras.

Desço as escadas indo diretamente pra cozinha, chegando lá encontro Edu e Anne em uma conversa animada sobre a Europa.

- Bom dia - Digo bocejando.

- Bom dia Lua - Eles dizem em uníssono.

- E aí Lua, preparada pra mais um dia de trabalho? - Edu pergunta.

- Sim, só espero que não seja tão agitado quanto o de ontem - Digo e eles caem na gargalhada.

- Lua, você é muito azarada - Anne diz bebericando seu café.

- Muito obrigada por me lembrar - Digo e reviro os olhos.

Tomamos nosso café da manhã e como eu só pego no trabalho às 7:30, pude ficar tranquila.

- Lua, posso falar com você ? - Anne pergunta.

- Claro Ann - Digo e dou espaço pra ela se sentar do meu lado.

- Então, eu estava pensando em chamar Edu pra dividir o apartamento com a gente, meu quarto e grande e diz ele que não tem muitas coisas então cabe - Ela diz e me olha apreensiva.

- Nossa Ann, que ótima ideia, vou amar tê-lo aqui com a gente - Eu digo animada e ela solta a respiração.

- Por um instante pensei que você fosse negar - Ela diz e eu apenas rio.

- Claro que não, eu adoro aquele projeto de ser humano - Digo e é a vez dela de sorrir.

- Saiba que a recíproca é verdadeira, viu florzinha - Edu diz saindo de sei lá aonde.

- Você estava ouvindo nossa conversa? - Olho pra ele com uma sobrancelha arqueada.

- Claro - Ele da de ombros - Vocês estavam falando da minha humilde pessoa, queriam oque ? Que eu ficasse quieto ? - Ele diz, eu e Anne caímos na gargalhada.

Ficamos mais um tempo conversando, Edu disse que vai ir buscar suas coisas no hotel ainda hoje e eu fico feliz em saber disso.

Sai faltando uns 10 minutos pro horário marcado, afinal eu iria andando.

Cheguei e vi que a cafeteria hoje estava bastante movimentada.

- Bom dia minha menina, hoje temos bastante movimento - Dona Ana diz parecendo empolgada pela movimentação.

- Bom dia Dona Ana, pois é, hoje tá bem movimentado - Digo indo até a cozinha e pego meu bloquinho e volto atendendo os clientes.

Minha manhã foi bem agitada e agora estou em meu horário de almoço. Liguei para Edu e perguntei se ele estava disponível e ele me disse que tinha que arrumar suas coisas e ainda sair pra procurar trabalho. Liguei para Anne também e ela disse que ia almoçar com um carinha que ela conheceu na fila da entrevista de emprego.

Rápida ela.

Sem alternativa peguei um táxi e fui para um restaurante que tinha ali perto.

Me sentei e peguei o cardápio. Optei por uma comida mais leve e um suco de laranja.

Estava tranquila comendo tranquila quando escutei uma criança chorando, corri os olhos pelo lugar e vi que era uma menininha que havia caído perto do banheiro.

Me levantei e fui até ela.

- Você está bem ? - Pergunto parando em sua frente me abaixando pra ficar da sua altura.

- Não, eu quero meu papai - Ela responde ainda chorando.

- Vamos procurá-lo então - Digo estendendo minha mão pra ela que pega na mesma hora.

Ficamos rodando o restaurante e aos poucos ela foi se acalmando.

- Maria Julia ? - Escutei uma voz grossa atrás de nós e a garotinha saiu correndo até o dono dela.

- Papai - A garotinha grita e eu me viro pra ver quem é.

Quase cai pra trás quando aquela mesma onda azul me atingiu novamente.

- Oque fazia com a minha filha ? - Ele pergunta com uma carranca na cara.

- Papai ela me ajudou - Maria Júlia diz meio embolado e sua expressão logo se suaviza.

- Com licença, tenho que voltar ao trabalho. Foi um prazer te conhecer Maria Julia - Digo e ela sorri mostrando suas janelinhas. Quase morri de tanta fofura.

- Qual é seu nome ? - Ela pergunta e  eu me viro novamente para encara-la.

- Me chamo Lua - Digo e ela arregala os olhinhos azuis que nem os do pai.

- Igual a lua que tem no céu? - Ela pergunta e eu acabo rindo de sua comparação.

- É, mais ou menos isso - Digo e ela sorri ainda mais.

- Muito obrigado por ter ajudado minha filha, Maria Júlia é muito elétrica e quis ir se aventurar pelo restaurante - Diz revirando os olhos - À propósito, me chamo Gabriel Ferraz - Diz estendendo a mão livre pra mim.

- Prazer - Pego em sua mão e uma corrente elétrica passa por todo meu corpo. Credo. - Bom, agora eu realmente preciso voltar ao trabalho. Tchau Maria Julia - Digo afagando seus cabelinhos pretos - Tchau Gabriel - Digo me despedindo dos dois e saindo o mais rápido daquele restaurante.

Meu Deus, pensei que nunca mais veria o Senhor Irritado, e olha só que coincidência, conheci sua filha e descobri seu nome.

Saio do meu transe e volto para o meu trabalho.

O resto do dia segue tranquilo e aqueles olhos azuis não deixaram meus pensamentos por nem um minuto. Coisa que me irritou muito.