Capítulo 3

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Já tinha uma semana que eu estava morando em Belo Horizonte, as vezes me batia uma saudadezinha de São Paulo, afinal, morei a minha vida toda lá.

Sentia falta de Henrique também, mas oque ele fez foi a gota d'água. Tinha que de algum jeito esquecer ele e oque ele fez comigo. Não sou de guardar rancor e espero que um dia eu possa perdoa-lo por ter pedido que eu abortasse meu filho.

Anne tem cada vez se mostrado mais amiga, sempre que eu tô triste ela arruma um jeito de me distrair e, isso é uma coisa que eu admiro muito nela. Sua bondade, seu carisma, sua eletricidade. Tudo. Anne é uma pessoa incrível.

Ela faz eu me lembrar um pouco da minha mãe Eliane, ela tem um coração enorme e está sempre disposta à ajudar as pessoas, sem contar que é meio maluquinha às vezes. Já meu pai Julian, é mais durão, mas é um homem íntegro e bondoso com quem merece, ele odeia dar o braço à torcer, mas é só a minha mãe entrar na jogada que ele já se declara um perdedor.
Agora mesmo devem estar conhecendo os pontos turísticos da Europa, mamãe queria porque queria uma segunda Lua de Mel e meu pai como o bom marido que é, resolveu satisfazer os caprichos da esposa. Eu e meus pais fomos bastante unidos à um tempo atrás, só que eu queria sair pra conquistar minhas coisas por mérito meu e não pela influência que o nome do meu pai carregava e isso acabou nos afastando um pouco. Nos conversamos no máximo 2 vezes por mês e eu acho até bom porque assim não fico preocupando eles com meus problemas.

Hoje é quinta feira e eu iria sair pra procurar trabalho novamente, ia aproveitar também pra passar no hospital e marcar minha primeira consulta pra saber como vai o meu bebê.

Olho no relógio e vejo que já são 8:00 da manhã, Anne provavelmente já saiu pra procurar trabalho.

Me levanto da cama e caminho preguiçosamente até o banheiro, essa gravidez tem me deixado mais sonolenta que o normal. Tomo um banho quente e demorado, saio do banheiro e me arrumo pra mais um longo dia.

Sai de casa e fui até a cafeteria que tem aqui na rua. Dona Ana que é uma senhora muito boa e que já me conquistou, abre um sorriso quando me vê entrando.

- Bom dia minha Lua, como vai ? - Ela pergunta secando suas mãozinhas enrugadas em um pano que tinha ali.

- Bom dia Dona Ana, vou bem e a senhora ? - Respondo me sentando.

- Vou bem, só um pouco cansada essa cafeteria da trabalho demais - Ela diz me servindo um copo de suco de laranja.

- Aproveitando que a senhora tocou no assunto de trabalho - Digo depois de tomar um pouco do meu suco - Por acaso não sabe de algum lugar que tá precisando de gente pra trabalhar não ? É que eu tô dividindo o apartamento com a Anne, aquela maluquinha que sempre vem comigo, e preciso ajudar nas despesas.

- Ô minha filha, parece que você caiu do céu, eu estou precisando de alguém pra trabalhar aqui na cafeteria e você me parece ser uma ótima menina - Ela diz me olhando e o sorrio pra ela.

- É sério ? - Pergunto não acreditando no que acabei de ouvir.

- Claro que é minha menina, eu não estou mais na idade de trabalhar tanto e a cafeteria rende bastante movimento, preciso de alguém que queira realmente trabalhar. Se você quiser o emprego é seu - Ela diz e eu assinto em sinal de concordância.

- Claro que eu quero Dona Ana - Digo e ela me olha animada.

- Então, amanhã você começa - Ela diz e eu assinto.

Me despeço dela e vou em direção ao hospital que também não é muito longe e da pra ir andando mesmo.

Estava andando distraída, perdida em meio aos meus próprios pensamentos quando bato contra uma parede e caio com tudo no chão.

Olho pra cima e vejo que não é uma parede, e sim um homem, alto e forte.
E que poderia muito bem ser confundido com uma parede.

- Você está bem ? - A parede ambulante pergunta.

- Eu estou ótima, não está vendo ? - Ironizo.

- Além de sonsa ainda é mal educada - Ele diz e eu me seguro pra não mandar ele pro espaço.

- Sonsa é a... - Paro quando vejo que tô quase extrapolando meu limite - Olha, se você puder me dar licença e sair da minha frente, eu tenho mais oque fazer - Digo e ele tira os óculos escuros, revelando um belo par de olhos castanhos cor de Mel.

- Claro, com uma rua desse tamanho e eu tenho que sair daqui pra madame passar - Ele ri com deboche. Idiota.

- Cara, eu tô pedindo com educação, você tá vendo que tá impossível passar do outro lado - Digo numa tentativa de me acalmar e tentar ter uma conversa civilizada com esse projeto de ser humano.

- Sabe, parei pra te reparar agora e até que você é bonitinha - Ele diz me analisando. Tem como ficar mais idiota?

Preciso me acalmar.
Preciso me acalmar.
Preciso me acalmar.

- Olha aqui seu projeto de ser humano, já vi que tentar ter uma conversa civilizada com você é mesma coisa de nada, então se você puder sair da minha frente eu agradeço, porque diferente de você eu não fico de ladainha pra cima dos outros na rua não e eu tenho mais oque fazer - Digo já irritada.

- Olha só, ela ficou irritadinha, tudo bem vou sair, mas não porque você mandou - Ele desdenha.

- Deus me dê paciência - Imploro baixinho - Obrigado parede ambulante - Digo passando perto dele e dando um sorriso provocativo. 

- Quem sabe eu não te chame pra tomar um café comigo um dia desses ? - Ele diz e eu gargalho. 

- Cara, a probabilidade da gente se ver de novo é 0,1, então acho melhor você ir tirando seu cavalinho da chuva - Digo e saio daquela rua.

Quando chego ao hospital solto a respiração que nem sabia que estava prendendo.

Depois de marcar minha consulta que será semana que vem, volto pra casa animada por finalmente minhas coisas estarem dando certo.

Passo perto de uma loja de bebês e não me aguento de tanta fofura, então resolvo entrar só pra dar uma olhadinha básica mesmo.

- Boa tarde, posso ajudá-la ? - Uma atendente vem ao meu encontro.

- Boa tarde, não tudo bem, só vou dar uma olhadinha e se algo me agradar eu vou levar.

Acabou que sai da loja cheia de roupinhas, sapatinhos e todas aquelas coisas de bebê.

Anne com certeza ficaria eufórica quando contasse à ela os acontecimentos de hoje, que não foram poucos.

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