Entre la sombra y el alma

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Te amo como se aman ciertas cosas oscuras, 
secretamente, entre la sombra y el alma. 

Pablo Neruda

   Ele pousou na varanda da casa dela e se escondeu nas sombras como sempre.

  Seu maior desejo era entrar e segurar aquela mulher em seus braços e acalentar seu coração, ele a amava tanto... E, contudo, ela jamais saberia... E ele só queria que ela sorrisse de novo, que dançasse outra vez, que fosse até sua capela e contasse seu dia para a imagem da virgem que tanto era devota. Ele sentia falta de suas longas conversas com a santa, de sua voz suave e animada, de sua felicidade sempre tão borbulhante e de suas pequenas boas ações que ela em sua humilde bondade acreditava serem nada.

  Sentia falta do seu perfume suave e doce, de seu riso cristalino, de seu olhar distraído que as vezes recaía sobre si, aquele monstro de pedra que anos antes foi inserido dentro da capela e não mais fora como no início da construção daquela capela tão antiga.

  Ela o olhava com bondade e sempre que podia tocava seus pés assim como fazia com a imagem da santa sem sequer cogitar que dento do monstro havia ele, uma gárgula antiga que só era livre do seu corpo de pedra durante as noites e que nos últimos meses descia a montanha e vinha observá-la das sombras, apenas para admirar a dona de um coração tão amável.

  Uma humana tão diferente e tão mansa... Ele queria protegê-la, queria dar-lhe todos os seus desejos ditos em segredo a virgem, cada pequeno desejo sutil e bom. Ele queria ser seu anjo, mesmo que fosse só uma sombra em sua varanda.

  Mas havia limites para seu alcance e a morte era um deles. Ele não podia evitar a morte nem contê-la. E era dia, com sol a pino quando o macho daquela fêmea foi ferido e deu seu último suspiro no meio da multidão fria, a pessoa mais importante para ela se desvaneceu daquele mundo e ela nem pode lhe dizer adeus.

  Ela chorou por dias e por dias não saiu daquela pequena casa.

  Ele chorava também, chorava por sua inutilidade diante da morte e da dor daquela pequena humana. Não sabia o que fazer, ele trazia a cada noite flores até sua porta e sabia que ela as recolhia, pois, o vaso da sala continha todas elas, mas temia fazer o que desejava realmente, bater naquela porta e com alguma desculpa humana e boba tentar nem que fosse por um instante trazer de volta a alma brilhante da sua antiga humana ou ao menos ouvi-la desabafar ou chorar sem que fizesse tudo aquilo sozinha. Ele queria ser sua rocha, seu apoio, sua ajuda, ele não a queria só, porém o sol, aquela estrela inclemente lhe limitava ações e tempo.

  Estava em seu limite e por isso tinha tentado seu último recurso. Fechou os olhos aliviado quando a presença daquele que esperava com certa urgência, alcançou seu radar.

— Para me chamar depois de duzentos anos é por que realmente algo não vai bem.

  Ele abriu os olhos e sorriu, o silencioso caçador caminhou até ele com o andar típico dos de sua raça, suave, imperceptível.

— Obrigado por vim Namjoon.

— Uma pantera sempre paga suas dívidas Gárgula. Mas vim de muito longe confesso, espero que valha a pena.

— Olhe para a humana, Namjoon, eu quero que cuide dela para mim durante o dia. Ela sofre e eu não posso fazer muito, ajude-a por mim.

— Ela é sua Sehun? Não conseguiu ainda descobrir seu nome original?

— A humana não é minha, mas eu cuido dela e ela está triste, ela perdeu o seu macho e eu sinto que se não fizer algo ela ficará doente e pode querer segui-lo, eu não quero que ela se vá Namjoon, ela é muito preciosa para mim, ela deve seguir sua vida e espalhar sua bondade a esse mundo caótico. Ela deve viver, eu preciso que ela viva.  

— Ela trabalha, você sabe disso?  

  O macho alfa o encarou sério e prático. Não tinha mudado nada em todos aqueles anos. Sehun assentiu.

— Sim, ela trabalha em um prédio no centro da cidade, algo sobre ligar para pessoas, eu nunca entendi direito isso, mas acho que é o que ela faz. Só que ela não tem saído de casa nesse último mês, mal tem se alimentado, ela está doente Namjoon... Por favor.

— Está com sorte gárgula, eu estou livre esses dias... Vou cuidar da sua humana. Só que você vai ter que dar um jeito e me ajudar durante a noite, não vai ficar aí escondido enquanto eu faço o trabalho pesado. Sua fêmea, sua responsabilidade. Quem sabe no meio disso tudo ela ainda quebra sua maldição?

  E ele se abriu em um sorriso gatuno.

  Sehun suspirou, ele já não tinha mais esperanças, nem pensava naquilo mais, tinha aceitado seu destino há muitos anos, só queria em sua vida amaldiçoada agora era que ela fosse feliz de novo e que sua felicidade aquecesse seu coração vazio, por que Sehun precisava dela desesperadamente, precisava daquela voz cristalina lhe dizendo que as pessoas deviam tratar melhor as estátuas. Se ainda fosse permitido, ele trocaria sua vida facilmente para que ela fosse feliz até o fim de uma longa e saudável vida, ele faria tudo por ela, tudo. Mas até naquilo ele era limitado.

  Era apenas uma gárgula, nunca seria o herói daquela fêmea.

— Ela é uma humana caridosa Sehun? Ela gosta de animais?

— Sim, ela gosta, ela é muito boa Namjoon, muito muito boa.

— Então ok, vamos fazer isso.

Sussurre meu nomeOnde histórias criam vida. Descubra agora