A última música

Platéia

     EU ESTAVA NO ESCURO, MANDEI UMA VERSÃO MINHA AO SEU ENCONTRO. E VOCÊ ACREDITOU. VOCÊ ACREDITOU NA VOZ DIRETAMENTE NO SEU CÉREBRO. EU VI VOCÊ FALANDO SOZINHO, E RIA DISSO. VOCÊ ESTAVA FICANDO LOUCO. LOUCO POR UMA VERSÃO MINHA. A CLARIDADE REINA SOBRE SUA MENTE.
"COMO É SEU NOME?"
"CLARA".
"ESCURO!"
MINHA VERSÃO CONTROLA SUA MENTE. SEJA NO CLARO, OU ESCURO.

     Ninguém nunca saberá o quanto você sofreu enquanto vivo, mesmo que as consequências e derrotas, sejam maiores que as vitórias.

-É melhor você ir direto... depois do hospital ir direto para o aeroporto. - Falou minha irmã.
-Mas é isso que eu estou tentando dizer... - Falei fadigada. Nunca estive tão cansada. Depois do baile, Jackson me agradeceu, abraçou e se despediu. Esse é o fim. A história acaba assim.

-Precisamos ir logo Kitty. Entenda isso. Eu vou ajudar no caso do papai. Quanto mais rápido se chega, mais rápido de um novo fígado entrar no corpo dele, tirando essa bomba relógio dele. Então só porque você está nervosa, isso não significa que você deve derramar seu nervosismo e raiva da vida nas pessoas que lutam para te fazer feliz. -Minha irmã joga uma peça de roupa na cama.
- Você vai, não sei se volta. Você irá, enquanto você permanecerá na minha cabeça o tempo todo. O que eu vou fazer? Colocar o papai em um asilo para cumprir meu um ano restante para acabar o meu estágio no hospital? E o dinheiro? As economias?
E você? Você só pensa em como será sua apresentação. - Ela grita.

-Hoje vai acontecer muitas coisas o dia todo. Mas te deixar vai ser a mais difícil. -Disse, enquanto pegava a toalha de banho atrás da porta, e deixando ela sozinha no quarto.

     Ninguém nunca saberá o que você pensou a vida toda. Ninguém saberá todas as mentiras que você já Falou, mas todos saberão o que passar da sua boca. Todos saberão o que você desejou ou dedicou. Mas ninguém saberá em que nível chegamos a isso. Você será lembrado. Você deixou pegadas na terra que ninguém deixou. Você passou pela provação, passou pelo deserto.

***

     Entramos dentro do carro. Certamente Arizona iria aceitar de volta sua vaga no hospital.
-De todos os arrependimentos da minha vida inteira, foi ter mandado Kathlyn e você irem comprar o presente surpresa para Arizona. - Disse meu pai me tocando.
-Talvez ela estivesse nesse carro ainda. Ou não. Se ela não tivesse morrido, eu não me embebedaria, eu não teria problema no fígado, eu não estaria no carro, estaria em casa aproveitando a minha vida com minha esposa, e minhas duas filhas. -Arizona para em um sinal vermelho.

-Acho que se a mamãe não morresse, eu não estaria no hospital. Quando pequena eu via os documentários de médicos. Eles conseguiam curar e consertar as pessoas. Ao meu olhar, se eu fosse médica eu poderia consertar minha mãe. Ela seria normal novamente, viveríamos nossas vidas normalmente. Eu me apaixonei mais ainda pelos documentários. Procurei mais. Lia todos os livros de anatomia da escola, aprendi Tudo, nas aulas de ciências, eu sabia todos os ossos, todos os músculos, maioria dos nervos. Ganhei no final do ano um certificado de ser a melhor aluna de ciências. Me apaixonei mais pelo corpo humano e os detalhes que o escondia. Hoje sou interna, cumprindo meu segundo ano, estou prestes a ajudar em um transplante de fígado do meu próprio pai. Eu não estaria nesse carro se a mamãe estivesse viva, eu não ajudaria em transplante algum. -Minha irmã suspira, enquanto ultrapassa o sinal verde.

-Se... -Tento falar, olhando para o lado de fora do carro. As gotas de chuva escorregam no vidro. -Se a mamãe não morresse, eu não tinha certa mente, certa capacidade e criatividade para escrever e cantar certas músicas. Através dela escolhi meu gênero. Escolhi viver de certa forma, de que com ela seria totalmente diferente. Eu sou grata a mamãe. Sei que ela faria.