u m

875 61 21
                                    


— Quero conhecê-la.

Albert havia chegado cedo, como de costume, ao Visão do Sol para ouvir e simplesmente ouvir, vozes distintas e novas do qual ele nunca conheceria o rosto.

— Albert, sabe que é quase impossível descobrir quem fez essas gravações. — disse a secretária tentando não demonstrar impaciência. Mas sabia que para lidar com Sr. Sanderson era necessária calma e agilidade.

— Quero falar com a Samanta. – Disse num tom brusco, rosto inexpressivo indefectível mesmo por detrás dos óculos escuros.

— Olhe, sabe que ela tem uma agenda apertada... Ela praticamente administra isso tudo aqui sozinha e... — Antes de terminar seu raciocínio Samanta irrompe pela porta e só com o olhar, silencia sua secretária e pede que pare de tentar convencê-lo. Seria uma perda de tempo.

— Senhor Sanderson, eu o acompanho até minha sala. — diz ela,
com um sorriso apertado.
Com uma expressão zombeteira, ele oferece o braço esquerdo e diz:

— Então me acompanhe Sra. Smith.

Samanta dirige um olhar de simpatia a sua secretaria antes de fechar a porta.

A loira assiste Albert se acomodar em uma de suas cadeiras de couro com um olhar minucioso. Pondo-se sentada a sua frente um pouco perto demais ela observa sua linha dos lábios, o rosto forte e conclui: absurdamente bonito.

— Sabe Samanta, apesar de ser cego sinto quando as pessoas me encaram diretamente. — diz ele num tom enganosamente suave, mas afiado como uma lâmina.

Ela tem a sensatez de ficar constrangida e pigarreia dizendo — Então, como posso ajudá-lo?

— Quero saber quem fez uma certa gravação.

— Albert, – um suspiro – essas gravações vem de voluntários, muita das vezes anônima. É difícil saber quem as fez uma vez que...

— Você conversa com todos que fazem parte deste projeto, tente se lembrar. — interrompeu.

A arrogância no tom dele estava começando a irritar Samanta.

— Isso é quase impossível...

— Escute a gravação e me diga. – Albert bateu no seu bolso até encontrar uma pequena fita de gravação e estendeu na direção de Samanta – Escute e veja se reconhece. — disse num tom que não aceitava discussão.

Mais um suspiro.

Ela toma a fita de sua mão vai até um antigo toca fitas e então aperta o play. Uma voz lírica e extremamente suave, mas de uma cadência profunda sai dos alto-falantes da sala.

Samanta imediatamente reconhece a voz, para sua falta de sorte ela reconheceu, ela sabia que ele não pararia até encontra a mulher dona dessa voz, uma grande amiga sua de anos.

Então ela mentiu.

— Eu não reconheço essa voz.

Algo que Albert aprendeu depois de perder a visão é ter paciência. As pessoas mentem. Mentem por medo, por insegurança, por diversão, mas há algo de muito cruel em se mentir para um cego, então Albert esperou em silêncio.

O escritório de Samanta era clássico. Janelas do chão ao teto com vista para Baia, carpete de cor cinza claro no chão, réplicas de Picasso nas paredes, e sua adorada peônia azul num canto da sala, tudo servia de distração nos seus momentos de estresse e tensão, algo de diferente para se olhar além dos papéis a sua frente, mas por alguma razão isso não estava funcionando.

Samanta sentiu seu rosto esquentar.

Ela disca um número no seu telefone. Alguém atende.

— Louise?

ReflexosOnde histórias criam vida. Descubra agora