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Uísque e Camell são as únicas coisas que me acalmam. A queimação, o ardor do liquido descendo pela minha garganta é a única coisa que parece me aquecer. Aquecer esse frio que só eu consigo sentir.

Meus olhos estão embaçados e minha visão se turva ainda mais enquanto me levanto.

Silencio.

Não consigo ouvir mais nada além do silêncio.

Estranho... Não era para ser assim. Sempre têm um som, passos, risadas de uma criança.

Meu Deus... Não!

Saio tentando pedir por ajuda, mas logo se torna inútil falar, minha língua parece dormente e se enrola enquanto eu tento gritar. Meu estado de torpor causado pelo álcool catapulta minhas reações

Saio tão rápido quanto posso do quarto, mas assim que alcanço a porta minha cabeça gira e logo procuro apoio nas paredes.

Trôpego, tomo o corredor que leva as escadas. Esse corredor parecia se estender em quilômetros. Assim que desço o primeiro degrau meu corpo decide simplesmente rolar o resto da escada abaixo. E fico feliz com isso. A dor em minhas costas e bacia me ajudam a sair do torpor, e a me livrar da névoa que encobria minha mente.

Mas quando finalmente chego a onde quero, repentinamente desejo a dormência novamente, para que me impeça de sentir esse novíssimo tipo de dor. Apesar da minha visão embaçada eu ainda posso ver. O corpo pequeno, branco e de cabelos negros boiando a esmo na piscina.

O choque com a água fria me faz tremer, mas continuo a empurrar água para trás de mim. Eu chego até ele, quando ponho as mãos sobre ele eu sei. A vida nos olhos azuis do menino já o deixou havia muito.

Por um momento ou dois considero a morte como um remédio aceitável. Mas ainda sim, eu ignoro e começo a trabalhar com o pânico. É a única coisa que me impede de deixar meu corpo afundar junto ao do menino.

Chego à borda da piscina e espremo seus pulmões através da sua caixa torácica, mas é inútil. Tudo tinha sido inútil. Até mesmo me dar o trabalho de sair da água.

Ouço gritos. Mãos me tiram de cima do corpo do menino. Mas nessa hora não me importa o que farão comigo. Era tarde demais.

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— O lugar me parece meio precário você não acha? — Miriam enrugava o nariz enquanto olhava para o teto de alvenaria que estava enraizado com pequenas infiltrações.

— Não... Só precisa de algumas reformas, talvez. — Precisa de muitas reformas, pensou Samanta com preocupação. Mas a verdade é que ela havia amado o lugar.

A localização do espaço abrangia uma parte da população deficiente visual da região com facilidade. E era exatamente por isso que Miriam e Samanta estavam dando voltas com os mesmos argumentos. Miriam dizia que o investimento seria alto demais por conta das reformas. Mas Samanta argumentava que era local perfeito e que atendia muito bem suas necessidades.

Hum...Bela ajuda que Louise me arrumou. Ela pensou bufando. A única razão para ela levar seus conselhos em conta era porque Miriam entendia de reforma. E precisava que ela dissesse quanto aquilo custaria.

— Bom, o lugar, apesar de algumas pequenas rachaduras, é muito bem centralizado, o espaço é amplo e arejado... É só por na balança, senhoritas. O espaço só tem a oferecer – O corretor disse com seu sorriso de um milhão.

— São crateras.

— O que?

— São crateras não rachaduras. – Disse Mirian enfiando dois dedos no buraco que havia no gesso da parede.

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