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— Droga... Não deveria ter tomado tanto uísque noite passada. – Disse Helida passando ambas as mãos nos cabelos negros.

Ela lamentava por sua dor de cabeça pulsante, mas não se arrependia de todo. Noite passada havia sido digna de comemoração. Os exames estavam perfeitos. Qualquer oftalmologista que os olhasse diria que eram exames dignos confiança.

E Helida se fez garantir que seriam perfeitos.

Não era tola. Sabia como funcionava a mente desconfiada de Albert. Ele nunca aceitaria somente a palavra de um especialista. Ele iria atrás de mais de uma opinião. Ela tinha que se garantir nesses exames.

Helida estava sentada em seu consultório. Aguardando a chegada de Albert. Ela havia sugerido ir até ele e encontra-lo na sua casa. Mas ele havia declinado a oferta antes mesmo que ela terminasse a frase.

No jogo em que Helida estava, informação era a chave do negócio. Ela sabia onde ele morava, com quem vivia, que horas saia para suas reuniões semanais de negócios, qual era sua relação com o Visão do Sol. Mas sentia que era incompleto o seu dossiê até que visse o interior da sua casa, da mobília até a cor dos lençóis que ele usava em sua cama. Sim...Os lençóis de sua cama... ela podia se imaginar enroscado neles. Ela sabia que não conseguiria arrastar um relacionamento com ele como fazia com Cezar. Albert era muito mais esperto que seu atual marido. Então, depois que entrasse em ação, teria de ser ágil. E aproveitar enquanto pudesse.

— Estou interrompendo alguma coisa? – A voz de Albert a liberta dos seus pensamentos libidinosos.

— Albert... Não o ouvi chegando. – Ela diz virando sua cadeira na direção dele.

— A porta estava aberta. Então você tem os exames?

— Sim eu os tenho. – Ela disse desempenhando sua melhor voz empática.

— E então? – Diz Albert sem muita paciência.

— As noticias não são boas. Há uma espécie de massa junto ao seu nervo ótico, fazendo com que ele pareça com o seu tamanho normal... Isso pode estar afetando sua visão de modo positivo fazendo com que você tenha lapsos, enxergue por curtos períodos. Mas o grande problema é que essa massa pode não ser benigna, Albert.

Assim que a doutora termina seu discurso, o silêncio mortal se instala naquela sala naturalmente fria. Albert permaneceu quieto enquanto a notícia se assentava no seu corpo e na sua consciência. Sua expressão não dá muito para Helida interpretar, mas ela já contava com isso.

— Aqui estão os exames, você pode querer uma segunda opinião. - Helida se levanta e põe a mão no braço de Albert para que ele pegue o envelope.

— Albert, você já sabe como a clínica funciona nesses casos. Sugiro que passe na recepção e já adiante seus dados e conta bancaria para que a preparação para o tratamento seja feita o quanto antes.

Silencio.

— Albert...

— Já sei dos procedimentos. – Helida de imediato tira a mão de seu braço como se ele estivesse em chamas e dá dois passos para trás. Esse homem leva o termo frio como gelo a outro nível. Ela pensou um pouco assustada com seu tom.

Ele continua.

— Se não há mais nada a dizer... – Ele diz já se virando em direção à porta.

— Eu posso levá-lo até a recepção.

— Pode ficar onde está.

Ela empalidece um pouco.

Ele tateia até achar a maçaneta batendo sua bengala nas quinas nos moveis e sai batendo a porta com força atrás de si.

Helida volta para sua cadeira e alcança seu celular dentro de uma das gavetas em sua mesa.

O telefone toca três vezes antes de cair na caixa postal. Ela deixa um recado.

— Minha tarefa foi concluída com sucesso. Dentro de duas semanas esteja alerta para usar seus dedos mágicos.

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Ele quase sentia falta do frio constante da Suíça. O sol brilhava tão forte que enquanto ele deixava o aeroporto, parecia que o reflexo dos prédios espelhados a sua frente o deixaria cego.

Estreitando os olhos, ele chama um táxi.

Dando o destino ao motorista e relaxando no conforto do ar-condicionado do táxi, ele sente seu telefone vibrar como sinal de recado na sua caixa postal. Assim que ele ouve o recado pede para o motorista mudar sua rota e seguir para outro endereço.

O táxi para em frente a uma casa monstruosa que parece eclipsar o sol forte, projetando uma sobra ainda maior.

— Obrigado. – diz Thomas ao pagar o taxista.

Agora, em frente aquela casa depois de tanto tempo, ele estava surpreso de que continuava a mesma. O estilo vitoriano da fachada obrigada os raros transeuntes daquelas ruas a erguer bem a cabeça para acompanhar o telhado íngreme seguido das janelas bem ornamentadas e logo após a varanda, bem arquitetada com ricos detalhes intricados na madeira pintada de branco.

Thomas atravessa o gramado em dúvida se estava fazendo a coisa certa e antes que possa pensar mais sobre o assunto, ele toca a campainha.

De novo.

E toca uma terceira vez, até ouvir um barulho de algo se partindo em centenas de pedaços. Então ele ouve um grito feminino de gelar o sangue.

O que está acontecendo?

Ele tenta a maçaneta da porta e para sua sorte estava aberta. Thomas segue por um pequeno corredor até parar no hall de entrada. Suas botas produziam um som estridente de raspagem de vidro no piso. Ele olha para o chão e a sua volta.

Havia uma cadeira revirada ao pé da escada que levava aos quartos no andar de cima, o chão de madeira clara estava parcialmente molhado com um líquido âmbar avermelhado. O lugar cheirava a bebida destilada e sangue.

Contornando os cacos de vidros maiores e o líquido suspeito no chão, ele segue até a sala com alertas piscando na sua mente.

Algo estava errado, muito errado.

Thomas continua procurando por quem havia gritado mais cedo.

Então ele para, seus pés congelados por meros segundos para logo em seguida começar a andar mais rápido contornando a mesinha de centro.

Havia um corpo deitado de bruços entre a mesinha e o sofá.

Não... Deus, não. Droga!


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Curto? Sim, capítulo curto, porém é  preciso
Desculpem a demora pra postar.
E feliz ano novo para nós!
Bjs

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