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— Só um pouco mais para esquerda, levante mais o braço direito... Isso! Perfeito!

O fotografo continuava dizendo Perfeito! A cada final de frase mesmo que ela não tenha se mexido um milímetro si quer. Os flashes não incomodavam mais seus olhos após dezessete anos fazendo a mesma coisa.

— Mais um olhar daqueles Louise — Ela virou a cabeça levemente para esquerda em direção a câmera. A luz do refletor parabólico enaltecendo o verde dos seus olhos.

— Ótimo! Nós terminamos Louise! Perfeito!

— Obrigada, Patrício.

Louise se levanta já se livrando daqueles sapatos horríveis. Ela nunca havia sido fã de saltos vírgula. Descalça, ela vai ate o camarim.

— Louise, sonamour está aqui. – Sua maquiadora sussurrou em seu ouvido assim que ela se sentou na sua cadeira.

— Não o chame assim! — sussurrou de volta – Quero terminar com ele já faz três semanas, mas não consigo.

— Sempre achei que ele não combinava com você, moncherrie. Se livre dele de uma vez. – Louise sorriu levemente para o seu sotaque francês. Ela dizia isso para todos com que Louise namorava. Trabalhando com Louise desde o início da sua carreira, ela considerava Catarine como sua segunda mãe... Ou talvez a única que ela tinha dependendo de como cada um conceitua mãe.

— Eu vou, mas...

— Mas? – Diz Catarine com o seu pincel desmaquilante, suspenso no ar. Ela observou Louise com os olhos em fendas.   

Louise havia tentado fazer Mikael amá-la. Satisfazia qualquer coisa que ele pedisse. Se ele quisesse uma Louise calada ele a tinha dessa forma. Se ele a queria extrovertida, ela fazia o maior esforço para fazê-lo sorrir. E por mais que todas essas tentativas de ser perfeita para ele tenha sido bem-sucedida, a única coisa que Louise conseguiu foram migalhas. Migalhas que um cãozinho adestrado recebe ao ser obediente. Muito bem, Louise ele lhe dizia. Além de ser extremamente possessivo. Não havia romantismo entre eles.

— Não sei... Eu acho que tenho medo de... - Ela hesitava.

— Tem medo de decepcionar – Sua maquiadora completou — Você ainda quer que ele te aceite, não é? — Catarine ergueu uma sobrancelha

— Você o ama?

A resposta veio rápida.

— Não.

— Então ele não é para você. Alias, nem lembro quando ele te pediu em namoro.

Ele nunca pediu. Pensou Louise.

Ema o havia apresentado a Louise.

— Cunhado da minha prima de Paris — dizia ela numa voz enérgica. — Ele é perfeito, pena que é da família, uma pena mesmo.

Para Ema, sua amiga e guia turística toda vez que viajava a Europa, todos que estavam fora de sua árvore genealógica estavam disponíveis para diversão a curto prazo.

Uma vez que as apresentações foram feitas, ele simplesmente aparecia. Na porta de seu apartamento. Enquanto corria pela manhã no quarteirão do seu bairro. Aparecia na porta do seu estúdio, como agora. Sem telefonema. Sem mensagem. Sem aviso. Sem perguntas.

Ele simplesmente surgia.

E Louise foi lhe dando espaço, ela havia tomado seus “aparecimentos” como algo vindo de saudades ou solidão, mas ele nunca, em nenhum momento, havia mencionado a palavra namoro.

— Você está certa. Vou fazer isso, e vou fazer isso agora. — Ela se pôs de pé abruptamente só com parte do rosto maquiado.

É melhor fazer isso com testemunhas. Presumiu ela enquanto caminhava em sua direção. No fundo ela tinha medo da sua reação.

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