🌩.iii

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Os poros arrepiados denunciaram o inverno congelante, a temporada cruel. Retorcendo a paisagem, sentada de pernas para o ar no gira-gira, via o mundo do contrário. Estava apenas de roupas íntimas e botas de cano curto, pretas e doloridas. O sopro de ar, gélido e sofrido, formava pensamentos despropositados, nebulosos, preocupados. Eu pensava nele outra vez.

Encarei as estrelas, desejando pendurar meu coração no topo de sua luminescência para ocultar meu amor pela vida e pelas coisas, de modo pesado. Pendurar o egoísmo que sangra e alfineta as beiras. O coração é uma criança prematura que luta instintivamente pela vida.

Escutei a janela da casa vizinha ser aberta. Era ele, perguntando-se quem estava cantando tão tarde da noite. Ele me olhou, perplexo. Devolvi um sorriso triste.

ㅡ Oi ㅡ disse, ainda de ponta cabeça.

ㅡ Isso é algum tipo de fetiche? Está congelando aí fora, Cadi ㅡ seus lábios brincaram e isso bastou para que a primeira lágrima escorresse.

Respirei fundo e o vapor subiu. Eu nunca entendia por que me chamava de Cadi. Não era meu nome.

ㅡ Estou pendurando coisas no céu. Quer me ajudar?

Escutei a janela fechar num baque.

Chittaphon não desceu.

Ah, você é o meu segredo pendurado em beiras profundas, num Urano distante e amargo.

ㅡ se cadi fosse tu, atenderia lili ao reflexo. nct | tenOnde histórias criam vida. Descubra agora