🌩.vii

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Pulo do telhado, alcançando ligeiramente a borda de sua janela aberta. Ten permanece deitado de costas, mas sei que está acordado.

Assim que adentro o quarto, paredes desuniformes se projetam, pintadas num entrelaçar rude de sentimentos, tudo feito a mão. Ele se vira, levanta e caminha até mim sem me perguntar o que estou fazendo.

Quero lhe perguntar, quero dizer qualquer coisa, mas seus dentes batem nos meus violentamente, a língua empurra meus lábios num desejo apressado e incessante ㅡ  a boca que tanto procurei ㅡ  enquanto seus dedos tocam minha pele das costas por debaixo da blusa; dedos que faíscam, percorrem e queimam. Quero dizer que sinto dor, mas meu coração esfomeado golpeia as palavras para dentro do estômago. 

Está errado.

Ele me apoia no beiral da janela, mordendo minha boca. Depois, leva os lábios ao pescoço, abocanhando mais uma vez antes de me beijar. Sinto o gosto salgado das lágrimas colaborando com o processo de corrosão, mas não consigo parar. Não posso parar, porque estou na beira, objeta a despencar na direção do céu, porque a sentença a se pagar é mais invejada do que uma maça envenenada. Minha pele rasga.

Quando a coruja ressoa, sinto sua língua lamber meus lábios rapidamente antes de sumir na escuridão de desenhos e rabiscos. Chamo seu nome e ele não me responde, já debaixo das cobertas.

Antes de sair, deixo a poesia em cima de sua cômoda.

ㅡ se cadi fosse tu, atenderia lili ao reflexo. nct | tenOnde histórias criam vida. Descubra agora