Capitulo 3 - Enigma (Enigma)

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Journey (Jornada)



E agora? O medo me paralisa e ao mesmo tempo meu desejo de entender o que é tudo isto só aumenta. Respiro profundamente várias vezes, como que ordenando todas as coisas em minha mente. Num ímpeto, corajosamente subo na embarcação dizendo para mim mesmo:



- Que assim seja.



O barqueiro impulsiona o pequeno barco e nos afastamos da margem. Se é que havia alguma segurança estar na margem firme do rio, agora estou entregue aos desígnios desta visão. Vou seguir e buscar as respostas para este enigma.



O barco se desloca em direção ao centro do rio. Ao entrar na área de circulação do redemoinho, começa a fazer movimentos em círculos, contornando o centro em espirais cada vez menores, cada vez mais próximas, até afunilar e... Meu Deus! Se precipitar em seu interior. Agora estou completamente assustado.



O barco está descendo por uma torrente de sangue. Não vejo mais o rio, nem a cidade, nem mesmo o céu. A majestade da noite desapareceu do meu campo de visão. Apenas percebo que estou indo em grande velocidade, num lugar escuro, como se houvesse paredes próximas. O barco parece estar sendo sugado e segue avançando. O tempo já não é meu prisioneiro. Eu devo ser dele, pois, a angústia neste lugar parece não terminar. Permaneço quieto, esperando que a jornada termine e possa sair, andar, respirar.



O barqueiro caminha em minha direção e, sem que eu espere, segura meu braço com firmeza e me empurra contra o fundo do barco, me mantendo preso nesta posição. Tento me erguer, mas logo desisto da ideia. Vejo chamas aparecerem próximas ao barco. Elas vão se tornando maiores, cobrindo tudo à nossa frente, e o barco mergulha num turbilhão de fogo. O brilho fica tão forte que em segundos já não vejo mais nada. Penso que é o fim, que vou queimar neste mar de fogo, eu, barco e barqueiro. Mas o fogo não queima, apenas inunda tudo ao meu redor e já não vejo nem o barco e nem mesmo o barqueiro, como se estivesse flutuando.



E, incrivelmente, não ouço nada, é um completo silêncio. Mas percebo que existe um deslocamento, lento, firme, macio, e começo a me acalmar. Existe uma paz que aos poucos vai me envolvendo. O medo ficou para trás e voltou a vontade de saber o que são estas visões, esse enigma.



O brilho ao meu redor vai diminuindo, como uma neblina densa que vai se dissipando. Aos poucos vou conseguindo ver algumas formas, alguma coisa na atmosfera além de mim.



Toco o chão... uma areia branca, fofa. Posso ver que estou à beira de um rio de águas cristalinas e tranquilas. Peixes de vários tamanhos e de muitas cores pululam na água e posso vê-los mesmo de onde estou, de pé, na areia da margem.



Ah! Sinto uma brisa suave, impregnada de muitos aromas, de muitos sabores. E, reinando acima de tudo, um Sol poderoso num céu completamente azul.



Onde foi parar a noite e sua majestade de prata? No céu o rei está sozinho. As estrelas se foram, seu brilho foi ofuscado.



Aqui na margem deste rio cristalino vejo uma elevação que o contorna, não muito alta, coberta de grama verde e flores, muitas flores, e após esta elevação vejo construções magníficas, como se fossem de vidro e cristais. O espanto se apodera de mim. Nunca vi algo tão impressionante, tão belo, mas ao mesmo tempo tão acolhedor.



Estou tão extasiado, olhando os grandes prédios, que demoro a perceber que lá na parte superior da margem, na elevação, atrás dos arbustos e flores, estão muitos olhos a me acompanhar.




Kindergarten (Jardim das Crianças)



Crianças... tantas crianças, uma multidão de olhos curiosos. Imaginei ser ali uma escola e que deveria ser o horário da recreação. Sem pensar duas vezes, fui na direção delas. Subi o contorno elevado na curva do rio e fui me aproximando do local.



Buscava encontrar um adulto nessa escola, ou o que fosse aquele local. Estava com muitas dúvidas e muitas perguntas para fazer. Afinal, que lugar era este e como fui parar ali? E como eu poderia voltar para Blumenau, para meu tranquilo bairro da Velha? E o que tudo isso significava?



Ao chegar ao local onde estavam as crianças, fui cercado por uma multidão delas, que riam para mim, gritavam, corriam, estavam eufóricas. Eram todas de pouca idade. Creio que o maior não tinha mais que 13 anos.



Me dirigi ao menino que julguei ser o mais velho e perguntei-lhe onde eu poderia encontrar os responsáveis, ou professores, se era mesmo uma escola. Ele parecia estar assustado, ou espantado com minha presença. Me olhava como se eu fosse "diferente", até achei que os assustava.



Me disse que não sabia o que era uma "escola", ou o que era um "professor". Disse que ali era o Jardim das Crianças, onde ele e as outras crianças se encontravam nas manhãs de sol para brincar e se divertir.



Eu ia questionar a ele sobre seus pais quando fui interrompido por uma voz grave e forte:



Você... tenha paciência. Você seguiu a precipitação da majestade da noite até aqui e agora precisa entender certas coisas antes de sair questionando.



Virei-me e vi... o barqueiro? Parecia ser o barqueiro com suas vestes brilhantes. Mas agora seu rosto podia ser visto. E vi um homem já de idade avançada, barba branca e cabelos brancos.



- Você é o Barqueiro? Como veio até aqui? E que lugar é este?



Ele fez um sinal de quem pede paciência e conversou com as crianças, se dirigindo ao menino com quem eu havia tentado conversar.



- Guilherme! Disse ele. - Leve as crianças para o almoço, já passou do horário. Eu ficarei com o visitante e lhe mostrarei o lugar. Depois conversarei com você e com os outros sobre ele.


Kindergarten - em uma cidade perto da suaWhere stories live. Discover now