Capítulo 7 - Not alone (Sozinho não)

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Terminei de percorrer a via sinuosa, deixando para trás seu tapete de pétalas vermelhas. O som dos gritos e gargalhadas se tornava cada vez mais alto à medida que eu me aproximava da praça. Havia um vento leve que fazia cair muitas folhas e flores das árvores próximas e criava uma atmosfera festiva, somada à algazarra que as crianças faziam. Caminhei por entre elas com ansiedade. Muitas nem sequer me notavam, envolvidas em suas brincadeiras e jogos, mas algumas me lançavam um olhar inquiridor, como se questionassem minha presença.

Cruzei a praça e me aproximava da lateral próxima ao Itajaí-açu, quando fui interrompido por uma voz juvenil, mas extremamente forte:

- Você não é desta cidade. Você é diferente.

Me virei e ali estava Guilherme, um menino de uns 13 ou 14 anos, cabelos loiros e olhos escuros, pele clara e um semblante muito sério para uma criança. Ele estava parado a alguns passos de mim. Olhei para ele e respondi com franqueza:

- Não sou desta cidade, Guilherme. Realmente não, e é confuso ainda para mim entender tudo isto que estou vivenciando aqui. Mas sou um adulto, igual aos vossos cuidadores.

E Guilherme me retrucou com firmeza em suas palavras:

- Não é mesmo. Você é humano como eu sou e também meus pais. Você não é igual a "eles".

A afirmação de Guilherme me deixou perplexo, completamente confuso e ainda mais angustiado em entender minha visão. Em sua resposta, ele me fazia perceber que sabia sobre seus pais, o que até aquele momento eu considerava que não era possível devido às circunstâncias de sua vida, e além disso, me trazia uma ideia avassaladora sobre Rafael e os cuidadores. O que significava? Eles não eram humanos?

- Guilherme, o que você quer dizer com isto? Rafael e os cuidadores não são humanos? Quem são eles, afinal?

Aquele mundo tão incrível e tão semelhante ao meu me fascinava e cada vez que eu achava que já tinha compreendido tudo, uma nova surpresa se descortinava e rompia as fronteiras de minha compreensão.

Guilherme se aproximou e pegou minha mão. Me fez seguir com ele e saímos da praça, mas não seguimos pela via de ladrilhos esverdeados ao lado do rio. Ele me conduziu por outra, paralela a esta. Assim que iniciamos o trajeto, em minha mente surgiu uma ideia clara de onde eu estava.

Não havia mais dúvidas e um número, mais que um nome, surgiu em meu pensamento: 15! Que alegria e espanto. Estava caminhando na "15" novamente. Não a mesma em que caminhei na noite escura, mas uma nova "15", belíssima, com muitas árvores ao longo do seu trajeto, crianças tomando suco e sorvete, disputando jogos ao ar livre, e vi vários grupos cantando músicas folclóricas, usando trajes típicos. Instantaneamente me vieram à mente imagens da Oktoberfest, de uma "15" completamente tomada pelo povo para assistir aos incríveis desfiles.

Guilherme me conduziu por entre os grupos, em meio àquela rua movimentada. Ele me fez parar a certa altura e me disse:

- Aqui estamos. E apontou para o outro lado da rua.

Olhei na direção que apontou e meu coração quase saiu pela boca diante do que estava vendo. Eram as escadarias da Catedral. Fiquei atônito... Eram de cristal, incrivelmente magníficas e nem sei como descrever a torre. Ali à minha frente, imponente sobre a "15", erguia-se uma torre de cristal reluzente, uma verdadeira pérola incrustada no coração da cidade. Os raios de sol refletiam em suas paredes e se precipitavam sobre a via em milhões de arco-íris, tornando tudo colorido e brilhante.

Kindergarten - em uma cidade perto da suaWhere stories live. Discover now